Uma instituição baiana que se deteriorou com o passar dos anos acusa de rombo de R$38 milhões
Tasso Franco , Salvador |
29/07/2022 às 08:33
UCSAL muda de controle
Foto: UCSAL
A Universidade Católica do Salvador (UCSAL) instituição que tinha a chancela da Arquidiocese de Salvador e era mantida pela Associação Universitária e Cultural da Bahia (AUCBS) vivia em fase pré-falimentar terá a administração do Ecossistema Brasília Educacional. A UCSAL emprega 600 técnicos administrativos e professores e tem cerca de 7 mil alunos matriculados.
A informação sobre a nova gestão foi apresentada a equipe da Universidade, no dia 16/07, pelo prof Márcio Pereira Dias, reconhecido executivo do segmento educacional no DF, designado para liderar a recuperação da Universidade.
A venda ocorreu como a última tentativa da Arquidiocese de evitar a falência da UCSAL. De acordo com fontes ligadas a Igreja as dívidas apenas com o Fisco ultrapassam a quantia de R$200 milhões.
Em agosto do último ano, os professores da universidade chegaram a indicar que fariam uma greve por tempo indeterminado devido a atrasos salariais, o que acabou não acontecendo após acordo. Mas as reclamações sobre a deterioração na Ucsal são antigas, e se intensificaram após 2004, quando denúncias de desvio de dinheiro na instituição — estimado em R$ 36 milhões —, levaram ao indiciamento do seu então diretor financeiro.
A Ucsal é uma universidade privada sem fins lucrativos, mantida basicamente pelos recursos advindos das mensalidades dos estudantes. Com isso, todos os recursos financeiros que são gerados a partir do negócio, têm que ser reinvestidos no próprio curso, para que se auto financiem. Mas pelo histórico recente da universidade, com acúmulo de dívidas e passivo de salários, a instituição não é capaz de se manter a médio e longo prazo.
Em nota, a Ucsal afirma que a mantenedora AUCBA, “com o intuito de melhorar e aperfeiçoar sua gestão administrativa e acadêmica e superar suas dificuldades financeiras, estabeleceu negociações em vista de um contrato com o Ecossistema Brasília Educacional, para a gestão de suas atividades, passando a contar com o seu apoio técnico”.
Professores temem o resultado da fusão, a partir da experiência de outras universidades particulares baianas, mas preferem não se manifestar. Mesmo representantes da Associação Baiana de Mantenedoras do Ensino Superior (Abames) afirmam que o assunto deve ser tratado diretamente com a Católica. “Assunto delicado”, dizem. Por parte da Arquidiocese de Salvador, também não há opiniões.
Quando foi fundada, em 1961 a universidade explicou em documento ter surgido “em decorrência da preocupação da Igreja Católica, sob os auspícios do primeiro Grão-Chanceler, D. Augusto Cardeal da Silva, Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, de preservar uma identidade e uma unidade de formação do ensino superior inspirada no ideário cristão e com a finalidade de “contribuir […] para o aprimoramento da cultura e da educação”, de “estimular a investigação” e de favorecer “o desenvolvimento da solidariedade humana””.
Teve um reitor emblemático: monsenhor Eugênio Veira e depois José Carlos de Almeida. Formou grandes nomes da política como o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), o senador Otto Alencar (PSD), o procurador-geral da República Augusto Aras. Intelectuais como os historiadores João José Reis e Carlos Zacarias também passaram pela universidade, além de artistas como a cantora de axé Cláudia Leitte.
Brasília Educacional
O Ecossistema Brasília Educacional é um grupo educacional que se apresenta como uma entidade que busca “expandir e consolidar o mercado educacional nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Brasil”. Eles atendem à educação básica, superior, técnica, e o Ensino à Distância.