Economia

Cadernetas agroecológicas contribuem para autonomia de agricultoras

O caderno de anotações tem contribuído para que 351 beneficiárias do Pró-Semiárido façam o melhor controle da sua produção
SDR na Mídia , Salvador | 10/03/2020 às 13:18
Cadernetas agroecológicas contribuem para autonomia de agricultoras
Foto: Divulgação

A invisibilidade do trabalho desempenhado pelas mulheres do campo ainda é um problema enfrentado por milhares de agricultoras no país. A jornada tripla de trabalho na casa, no roçado e no quintal ainda é chamada de ajuda, o que contribui para fortalecer a desigualdade de gênero nas zonas rurais. Pensando em contribuir para reverter este quadro, o Governo do Estado, por meio do Projeto Pró-Semiárido, executado pela Companha de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), adotou o uso das Cadernetas Agroecológicas na sua metodologia de trabalho.

O caderno de anotações tem contribuído para que 351 beneficiárias do Pró-Semiárido façam o melhor controle da sua produção e monitorem a renda proveniente do seu trabalho nos quintais produtivos. “O trabalho da mulher rural normalmente não é reconhecido, quando vende a produção o marido diz: ‘meu dinheiro, toma aqui, eu estou te dando’. Normalmente, quando a mulher vai se expressar lá fora ela diz: ‘eu dependo do meu marido, eu não trabalho’ e, eu entendo que a caderneta veio pra mudar isso”, afirma a agricultora Mercejane Duarte de Almeida, da comunidade Caraíbas, município Umburanas.

Ela é uma das agricultoras que adotaram a caderneta agroecológica. Segundo Mercejane, já rascunhava o que vendia, mas foi após a caderneta que percebeu que a renda também vem de outras maneiras: “Eu e minha mãe trabalhamos juntas, aí a gente passou a observar que não anotava consumo. Então o consumo da família e o que a gente doava, de certo modo não era anotado. Foi aí que percebemos a diferença que faz no orçamento e a importância do trabalho da mulher no meio rural”.

Maria da Conceição Souza Dias mora na comunidade do Escondido, no município de Uauá. Ela também monitora a produção e renda do seu quintal: “Quando a gente não tinha a caderneta nem sabia o que produzia e costumava dizer que não tirou nada, não produziu nada... mas, quando a gente vai ver a gente economizou e deixou de comprar muita coisa. A gente saber que o que a gente produz é renda e, além, do mais orgânico é muito bom!”


Geração de renda


De acordo com relatório feito pelo Programa Semear Internacional, em parceria com a equipe do Pró-Semiárido, no período de agosto a outubro de 2019, primeiro trimestre em que as agricultoras anotaram a produção na Caderneta, foram gerados mais de R$172 mil a partir da venda, consumo, doação e troca da produção das mulheres. O resultado é fruto da análise dos dados anotados por 304 das 351 agricultoras que anotam na caderneta. Neste contexto, o valor médio da produção por agricultora ficou em torno de R$ 318,17.

“Antes nós mulheres não sabíamos que tínhamos uma renda próximo de meio salário mínimo, e hoje a gente já pode ver, e eu me surpreendi. Nós mulheres podemos muito, podemos ser como somos, ter uma renda e ajudar a família”, destacou Geovane da Silva Barreto, que mora no Assentamento Sítio do Meio, em Itiúba. Maria das Neves, da comunidade Mamota, em Ponto Novo diz que foi fácil se adaptar à metodologia da Caderneta: “Eu anoto o que eu vendo, o que eu consumo, alguma coisa que eu doo a alguma pessoa. A caderneta é boa porque a gente está sabendo o que vai vendendo e o que vai recebendo”. 


Outras ações de Gênero


Além da Caderneta Agroecológica, o Pró-Semiárido, que é fruto do acordo de empréstimo entre o Governo do Estado e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), desenvolve outras atividades que têm o objetivo de garantir maior equidade de gênero, divisão justa do trabalho doméstico, empoderamento feminino e autonomia das mulheres. 

Entre as ações estão os encontros de mulheres, encontro de homens e encontros mistos, cuja proposta é provocar a reflexão sobre as diferentes cargas de trabalho entre homens e mulheres; a ciranda das crianças que é um espaço onde meninos e meninas participam de atividades lúdicas e educativas, enquanto suas mães participam de oficinas e reuniões; a estruturação de quintais produtivos e inserção das mulheres em vários grupos de interesse como apicultura e caprino-ovinocultura; e a garantia da participação de, pelo menos, 50% de mulheres nas ações do projeto.