Aluna de Jéssica, a bolsista Daiane Ribeiro garante que, anos atrás, a ideia de estar ligada à archeteria era algo impossível
Da Redação , Salvador |
01/04/2019 às 14:36
Trabalho de restaurar e consertar documentos
Foto: Eloi Corrêa
Construir, restaurar e reparar instrumentos musicais é uma profissão não muito conhecida e, até pouco tempo atrás, executada basicamente por homens. Com o passar dos anos, a atividade vem ganhando mais representatividade feminina e o Atelier Escola de Luteria dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), no bairro do Barbalho, em Salvador, segue a mesma tendência.
Aos 28 anos, Jéssica Almeida é luthier da unidade e especialista em consertar e restaurar arcos para instrumentos de corda, atividade conhecida como archeteria. A jovem, que chegou a integrar a Orquestra Castro Alves (OCA) do Neojiba, iniciou um novo capítulo na música ao descobrir o mundo de fabricação e reparo de instrumentos. “Eu tocava viola de arco e um dia precisei dar uma manutenção no meu instrumento. Me apaixonei pelo ofício na hora. Consegui entrar na Luteria do Neojiba e hoje ensino a outras meninas que querem ser archetier, assim como eu. Isso é muito gratificante”, afirma.
Aluna de Jéssica, a bolsista Daiane Ribeiro garante que, anos atrás, a ideia de estar ligada à archeteria era algo impossível. “Eu só conheci a luteria depois de começar a tocar violino. Nunca sofri preconceito por ser uma mulher inserida nesse mundo, mas a gente sabe que é algo que existe, porque muita gente não acredita que uma mulher é capaz de fazer algo extraordinário, como um instrumento musical”, avalia.
Antes de chegar às mãos de crianças, adolescentes e jovens músicos das orquestras do Neojiba, os instrumentos e acessórios passam por consertos na Luteria, que repara e restaura instrumentos de corda e sopro há 10 anos. Segundo o coordenador da unidade, o músico Davi Matos, as mulheres vêm garantindo cada vez mais espaço não apenas nos núcleos do Neojiba, como em todo o segmento da luteria.
“Por muitos séculos, existiram apenas homens luthiers. Atualmente, as habilidades das mulheres nesse trabalho têm sido mais e mais aprimoradas. Elas desenvolvem trabalhos incríveis. O apoio dado a elas aqui na Luteria é voltado, principalmente, para aperfeiçoar esse desempenho”, destaca. A cada dois anos, a Luteria do Neojiba abre editais para bolsistas. As vagas também surgem em decorrência de desistências.
Criado em 2007 pelo pianista, educador, regente e gestor cultural Ricardo Castro, o Neojiba é uma política pública que alia as áreas de cultura, educação e desenvolvimento social por meio da música. O programa está vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado (SJDHDS).