Que em 2016 a gente tenha mais coragem para exigir mais
qualidade de nós e dos demais.
Hendrik Aquino , Lauro de Freitas |
24/01/2016 às 12:06
Mar revolto em 2016
Foto: BJÁ
É fato que uma boa parte da população mundial vive mal. A
Organização das Nações Unidas (ONU), estima que 1,57** bilhão
de pessoas vivam em estado de "pobreza multidimensional",
aquela em que há carências em várias dimensões, como saúde,
educação e renda. No Brasil, 2,7%** dos brasileiros sofrem de
pobreza multidimensional. Um relatório da ONG britânica Oxfam,
divulgado em janeiro de 2014, revelou que o patrimônio das 85
pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da
população mundial. Mas existe um propósito para que uma grande
quantidade de famílias pobres mantenha a qualidade de vida do
pequeno grupo de famílias mais ricas. É uma lógica perversa
porém, um povo sem educação, ainda que tenha acesso à
informação, não sabe ou não consegue selecionar tais
informações, distraindo-se facilmente com futilidades e
prazeres imediatos. Neste caminho, muitas vezes sem volta,
famílias inteiras têm poucas chances de sair da pobreza e da
faixa vibratória medíocre em que vivem. Muito pior do que a
pobreza financeira, que poderia ser um uma situação
temporária, a grande maioria de nós vive em uma pobreza
intelectual responsável pelo distanciamento entre diferentes
realidades. Hoje já não respiramos mais o mesmo ar. Não
bebemos mais a mesma água. Sequer pisamos mais no mesmo chão.
A manutenção da pobreza tem se mostrado necessária para
garantir a qualidade de vida dos poucos que fazem de tudo para
integrar o pequeno e seleto grupo materialista dos que vivem
“bem”. Isto acontece porque uma boa parte de tal minoria
empenha-se para que a maioria permaneça empobrecida, ocupada,
cansada, dividida, desunida, desorganizada e assim, facilmente
manipulada e corrompida.
Vivemos dias difíceis. Dias em que colhemos os frutos ruins
que vem sendo plantados há muito tempo. Plantios sem
planejamento, sem a devida preocupação na escolha das
sementes. Sementes que não vem sendo bem regadas ou adubadas,
que brotam e crescem convivendo com pragas. Colhemos hoje os
frutos gerados pelas sementes castigadas pelo tempo e por nós
mesmos. Comeremos tais frutos ainda por muitos anos, quem sabe
até pelo resto de nossas vidas pois, alguns erros são
irreparáveis.
A eleição de governantes desprovidos de capacidade para
governar e que por isso não conseguem priorizar questões
essenciais para a melhoria da qualidade de vida do povo,
coloca-nos a todos, obrigatoriamente, em um ciclo vicioso,
onde a quantidade de dinheiro e votos acaba sendo mais
importante que a qualidade de propostas e, até mesmo a
qualidade de vida.
E é no poder público que, infelizmente, tal inversão de
valores é vista com mais frequência, como acontece com os
desperdícios e desvios de recursos, praticados por pessoas
desprovidas de caráter e capacidade técnica mas que foram
eleitas pela população que aguarda dias na fila para, muitas
vezes, sequer ser atendida.
Os resultados das escolhas ruins não ficam para trás na virada
do ano. Eles seguem conosco e, por isso, precisam ser
lembrados e considerados quando pedimos um ano novo cheio de
mudanças positivas. Se continuarmos plantando sementes ruins,
continuaremos colhendo frutos ruins.
Que em 2016 a gente tenha mais coragem para exigir mais
qualidade de nós e dos demais. Que sejamos mais criteriosos em
nossas escolhas. Que ocupemos melhor o nosso tempo com
atividades e pessoas que realmente mereçam a nossa atenção
assim, consequentemente, teremos um ano melhor.
*Hendrik Aquino | hendrikaquino@gmail.com
| é designer, jornalista, membro do Conselho Gestor da APA
Joanes Ipitanga e pós-graduando em Planejamento Urbano e
Gestão de Cidades - Unifacs.
** IPM - Índice de Pobreza Multidimensional do Pnud -
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, ONU (2012).