Economia

BALANÇO 2015: DIRETORIA da ACB analisa desempenho econômico

Veja balanço da Associação Comercial da Bahia do ano 2015
Comunicativa , Salvador | 28/12/2015 às 18:48
Associação Comercial da Bahia
Foto: Álvaro Figueredo
A nova diretoria da Associação Comercial da Bahia (ACB) reuniu-se para avaliar o desempenho econômico do estado e do país no último ano em diversos setores. Para o presidente Luiz Fernando Studart Queiroz, os problemas precisam ser enfrentados com otimismo.

 “O Brasil enfrenta sérios problemas, mas serão superados. Não há razões para desespero, ou mesmo pessimismo. É preciso impedir que a profecia se auto realize. Hoje, apesar de o país enfrentar um quadro econômico grave, nossas possibilidades de sair da situação são melhores do que já foram. É verdade que, no início, a crise do sistema financeiro americano e das commodities deram as suas contribuições. Em seguida, a contribuição veio do Governo Federal. 

Intervenções na economia pouco felizes, como a queda abrupta dos juros, o congelamento de tarifas do setor elétrico, do preço dos combustíveis, o grande aumento do déficit público (9% do PIB), a alta carga tributária e a perspectiva do  seu aumento para financiar o déficit crescente, a inflação em alta, o grande aumento da dívida pública, e o impasse político, minaram a confiança no país, quer dos brasileiros, quer dos estrangeiros. Com isso, a economia quase que paralisou, e, em 2016, pelas projeções, entraremos no segundo ano de recessão, ainda que possa ser menor que a de 2015. O empresário só investe o necessário para manter o negócio, quando consegue, e não para expandi-lo. Enquanto isso durar, não haverá crescimento significativo. Temos um novo Ministro da Fazenda. O empresariado deve se aproximar, ouvi-lo, levar suas críticas e sugestões, e ajudar o pais a ser resgatado”, analisa.

 Com mais de 200 anos de serviços prestados à Bahia, a Associação Comercial da Bahia (ACB) reúne empresários e líderes dos diversos segmentos econômicos do estado. A nova diretoria, empossada no início do segundo semestre, está apostando numa gestão descentralizada da instituição, com destaque para a pluralidade de opiniões e o potencial analítico de seus vice-presidentes, que são empresários experientes e que atuam em diversos segmentos econômicos.

 “A nossa principal contribuição é oferecer um debate qualificado e com consistência sobre o mercado baiano, por isso, nossos vice-presidentes se debruçaram sobre os segmentos econômicos do estado para mostrar uma perspectiva de como estamos e as perspectivas para o ano seguinte”, encerra.

 COMÉRCIO NA BAHIA COM BAIXO DESEMPENHO

No segmento do comércio varejista, as avaliações são feitas pelo vice-presidente da ACB Antonie Tawil. Segundo ele, o segmento teve em 2015 um desempenho pior do que a média nacional e apresentou uma retração acima de 9% no volume de vendas, enquanto o índice nacional ficou em 6 %.

 Os piores resultados ficaram nos seguintes segmentos: material de escritório, informática e comunicação (-30%), Carros e autopeças (-24%), Combustíveis e lubrificantes (-17%), Calçados e Vestuário (-16%) e Móveis e eletrodomésticos (-14%) 

“Na nossa avaliação, o fraco desempenho do comercio varejista se deve as seguintes causas: a forte onda de desemprego, a restrição ao crédito e juros altos, a diminuição da demanda reprimida que existiu ate 2013, e, por fim, a expressiva alta da inadimplência, que já atinge 60 milhões de brasileiros”, avalia Tawil. 

"Em relação ao próximo ano, a expectativa do vice-presidente Antoine Tawil não é positiva em virtude de que as causas citadas continuarão pressionando o setor, assim como a crise política parece não dar sinais de um desfecho a curto prazo.  

“Os desafios do setor são de manter os atuais níveis de desempenho e sobreviver até 2017 para que se inicie uma recuperação na atividade comercial”, lamenta Tawil. 

INDÚSTRIA BAIANA EM 2015

Na indústria, o cenário negativo é apresentado pelo vice-presidente Carlos Cohim, que destaca um recuo de 5,6% (janeiro-outubro) na taxa anualizada da produção física da Indústria de Transformação da Bahia. 

Apesar da piora, a Bahia manteve-se no 6º lugar no ranking entre os catorze estados que participam da PIM PF-R, do qual apenas Mato Grosso apresentou resultado positivo (4%) e Espírito Santo manteve-se estável. 

Na Bahia, dos onze segmentos pesquisados, apenas quatro apresentaram resultados positivos: Veículos Automotores (12,5%), Couro e Calçados (2,7%), Celulose e Papel (1,7%) e Borracha e Plástico (1%). Em sentido contrário, apresentaram retração os segmentos: Equipamentos de Informática (-52%), Metalurgia (-16%), Refino de Petróleo e Biocombustíveis (-10,9%), Minerais não Metálicos (-10%), Bebidas (-3,6%), Produtos Químicos (-3,3%) e Alimentos (-2,5%). 

“O setor industrial (brasileiro e baiano) registra um período bastante desaquecido, refletindo, sobretudo, uma conjuntura doméstica de retração econômica. Do ponto de vista estadual, o desempenho negativo de outubro ainda é reflexo dos resultados negativos dos segmentos de refino de petróleo e biocombustíveis, metalurgia e minerais não metálicos. Por outro lado, destacamos os resultados positivos dos setores de celulose e o de calçados, mais voltados à exportação”, comenta Carlos Cohim. 

Quanto às perspectivas para o próximo ano há poucos elementos para uma recuperação da indústria nacional. A estimativa de mercado é de queda da atividade industrial de 7,6% (relatório do Banco Central) este ano, e em 2016 (-2,4%). O único dado alentador é a depreciação do real, que pode afetar positivamente o setor exportador. 

Na visão do executivo, alguns indicadores ilustram as dificuldades enfrentadas pela economia nacional, tais como a inflação elevada; constante elevação da taxa de juros, com a Selic já alcançando 14,25%; e crescimento do desemprego. 

INFRAESTRUTURA ENTRAVA AGRONEGÓCIO

“O agronegócio na Bahia, assim como no resto do Brasil, é o setor da economia com melhor possibilidade na sobrevivência à crise na economia e na política”. A afirmação é do vice-presidente da ACB João Lopes Araújo, empresário do segmento.

Soja, milho e algodão, afetados no preço nos mercados internacionais, têm conseguido manter normalidade das atividades, inclusive mantendo a área plantada, com cotação do dólar mais elevada. Já o café, que retornou aos preços de 2011, não tem conseguido benefício na cotação do dólar, por manobras dos players no mercado.

Em relação ao próximo ano, a principal preocupação é com a irregularidade climática que, neste momento, pode comprometer parte das safras em curso. Além disso, na análise de João Lopes Araújo, o setor não está tendo a atenção necessária as sérias  consequências das secas já pelo quarto ano consecutivo.

“Lavouras irrigadas de manga, café, batata e frutas estão sendo inviabilizadas. Uma séria política de armazenamento de água deve ser executada para retenção de água no período chuvoso assegurando água onde não existe disponibilidade no subsolo”, alerta.

Outros grandes entraves estão na falta de infraestrutura energética e na qualidade da rede de transmissão de dados no interior. “A energia é uma calamidade. Não acompanha o crescimento do agronegócio, estando vários empreendimentos a depender da disponibilidade para se implantar, além de empreendimentos já implantados estarem sofrendo sérios prejuízos com a qualidade de energia fornecida e interrupções inaceitáveis, de até incríveis 10 vezes ao dia”, denuncia.

Sobre a internet, é importante assegurar que os empresários possam manter comunicação via internet com qualidade e segurança e, atualmente, a falta de rede de fibra ótica e a péssima qualidade da rede existente não permite essa comunicação. 

TURISMO COM BOAS PERSPECTIVAS

Para o vice-presidente de Turismo da entidade, Pedro Galvão, apesar de uma redução no número absoluto de turistas em comparação com o ano anterior, o segmento comemora uma retomada na ocupação hoteleira no último trimestre.

“A partir de setembro de 2015 tivemos um aumento que estimamos de 5%, uma vez que, o turismo doméstico voltou a impulsionar a vinda de turistas ao nosso estado”, 

Os destaques positivos no setor continuam sendo o Litoral Norte e a região de Porto Seguro, porém a nossa capital voltou a ter destaque num dos segmentos de maior importância para a economia. E perspectiva apontada por Galvão é de uma ampliação de 15% no número de visitantes em relação ao verão passado. “As principais razões para isso são as melhorias na infraestrutura da orla, bem como a promoção que está sendo feita pela Prefeitura de Salvador em outras regiões do Brasil, além do calendário de eventos nesse final de ano e durante o verão”, finaliza. 

Como pontos negativos, o vice-presidente destaca a paralização das atividades do Centro de Convenções, o atraso nas obras do nosso aeroporto e a redução do número de navios de cruzeiros, que sofreu nos últimos dois anos uma redução de 90 escalas em Salvador para um pouco mais de 50, devido ao custo elevado da “praticagem” e dos rebocadores. 

Ainda assim, a visão para o próximo ano é otimista, principalmente em virtude da realização do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que deve trazer mais turistas internacionais para o nosso estado.

SETOR PORTUÁRIO REQUER AMPLIAÇÃO

O vice-presidente Adary Oliveira, acredita que a ampliação do terminal de contêineres do Porto de Salvador e do píer de granéis líquidos do Porto de Aratu é uma providência fundamental para destravar esses setores.

“A limitada capacidade operacional desses portos tem levado muito produtos de fabricação ou de cultivo da Bahia a serem exportados por outros portos brasileiros muito mais distantes”, avalia.

Entre as soluções apresentadas, estão a conclusão da dragagem do Porto de Salvador nas proximidades do cais e a ampliação do terminal de contêineres na direção da Feira de São Joaquim, havendo disponibilidade de cerca de 550 metros, segundo Adary.

Operadoras portuárias ausentes da Bahia estão desejosas de colocar um ‘pé aqui’ e uma delas já chegou a apresentar um estudo de viabilidade feito com autorização da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – Antaq, porém a ampliação requer concessão da Secretaria de Portos da Presidência da República mediante licitação.

 No Porto de Aratu-Candeias a ampliação do píer de graneis líquidos por si só geraria uma redução de custo de sobreestadia (demurage) suficiente para financiar as obras de expansão. 

“As ampliações aqui apontadas, mesmo que a capacidade operacional excedesse à demanda de carga, não inviabilizariam o negócio e serviriam de atrativo para novos investimentos”, conclui. 

NORDESTE FORTE

Por fim, o Presidente do Conselho Superior da entidade, Rubens Araújo, levanta um dos temas que serão mais debatidos em 2016 pela Associação Comercial da Bahia. A necessidade de equalizar os investimentos federais entre as regiões do país, com foco no fortalecimento do Nordeste. 

“Torna-se necessária uma grande redução dos desníveis regionais. Para o Nordeste alcançar 75% da renda média nacional, é necessário crescer 2% acima dessa média nos próximos 20 anos (IPEA)”, alerta.

Uma das principais bandeiras defendidas pela ACB é a implantação do artigo 165, parágrafo 7, da Constituição Brasileira, que obriga o Governo federal a fazer seus investimentos conforme a população de cada região. 

“O Nordeste tem 28% da população brasileira e, desde 1952, só recebe 12% desses investimentos. Nossa região precisa de uma política específica de desenvolvimento, ou continuará em estagnação relativa: 13% do PIB nacional, desde 1952”.