Ex-presidente da Petrobras foi a reunião fechada com deputados do PT.
Segundo ele, empresários que integravam conselho aprovaram aquisição.
G1 BSB , Brasília |
08/04/2014 às 20:01
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli (dir.) com o líder do PT, deputado Vicentinho
Foto: Gabriela Corrosy
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, disse nesta terça-feira (8) a deputados da bancada do PT, em reunião fechada na Câmara, que foi um "bom negocio" para a estatal a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), investigada por suspeita de superfaturamento. Segundo ele, além da então ministra Dilma Rousseff, empresários integrantes do conselho da Petrobras à época também referendaram a aquisição, em 2006. Após a reunião, parlamentares petistas se disseram convencidos de que a compra da refinaria foi positiva.
A transação foi alvo de ao menos quatro pedidos de criação de comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Congresso. A expectativa é que a CPI para apurar o caso seja instalada no próximo dia 15, formada por deputados e senadores. A oposição suspeita de superfaturamento e questiona o valor de US$ 1,3 bilhão aplicado na compra da refinaria.
Eu não vou falar pela presidente. Vou falar como membro do conselho, junto com Fábio Barbosa, que é presidente da Editora Abril hoje; Gerdau, que é empresário respeitado; com Cláudio Haddad, todos os membros do conselho, que tomaram a decisão de que o negócio é correto. E continuo defendendo que o negócio era correto."
Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras
Segundo Gabrielli, que concedeu entrevista após a reunião, há versões "mentirosas" sendo veiculadas sobre a transação. "[Há uma] ideia que precisa ser desconstruída porque é falsa: a ideia de que a refinaria foi um mau negócio. A refinaria foi um bom negócio. Tinha estratégia que a Petrobras definia desde 2009 [...]. Era estratégia adequada ao mercado brasileiro e ao norte-americano. É falso dizer que foi um negócio ruim", declarou Gabrielli.
No último dia 2, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo não teme "qualquer investigação" sobre a Petrobras e que o Conselho de Administração da empresa agiu corretamente na aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006.
Na avaliação de Gabrielli, mudanças na conjuntura internacional e no mercado petrolífero fizeram a compra ser pouco lucrativa por um tempo, para depois voltar a ser vantajosa.
“O mercado mudou, e o negócio se tornou, em nova conjuntura, não atraente. Hoje, também teve mudança, e a refinaria é lucrativa. É uma refinaria cíclica. Vim dizer os fatos para combater as informações falsas da oposição”, declarou.
De acordo com a explicação de Gabrielli, o custo real da refinaria para Petrobras foi de US$ 486 milhões, sendo os demais gastos - que fizeram a aquisição ultrapassar US$ 1 bilhão - relativos à compra de estoque de petróleo e despesas judiciais e bancárias.
"A Petrobras pagou US$ 486 milhões pela refinaria, e a diferença entre US$ 486 milhões e US$ 1 bilhão é referente aos estoques que foram comprados e que foram revendidos. Portanto, tem que se colocar a revenda na conta. Foram também despesas bancárias, para garantir comercialização do produto, e foram despesas judiciais. Portanto, o custo foi US$ 486 milhões”, explicou.
Saiba mais
Ainda segundo o ex-presidente da Petrobras, a belga Astra Oil, que havia comprado a refinaria antes da Petrobras, pagou US$ 326 milhões – em vez dos US$ 42,5 milhões que têm sido divulgados. Gabrielli informou que a empresa belga precisou pagar US$ 200 milhões em passivos trabalhistas e US$ 84 milhões referentes a exigências ambientais.
Um dos vice-líderes do PT, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), afirmou estar convencido do "bom negócio" feito pela estatal.
"A Petrobras agiu bem na compra e está dando certo. Estamos tranquilos na ideia de que todos os procedimentos na aquisição foram corretos", declarou Teixeira.
Para Gabrielli, a reunião serviu para esclarecer a bancada petista sobre acusações que estão sendo feitas pela oposição.
"A bancada queria saber fatos e combater versões fantasiosas, publicitárias e eleitoreiras que estão sendo veiculadas persistentemente. O que está acontecendo são mentiras executadas insistentemente", declarou.
Dilma
Gabrielli afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff não conhecia todos os aspectos referentes ao contrato de compra da refinaria da empresa belga.
Logo que foram divulgadas as informações de que Dilma assinou parecer favorável à aquisição na época em que presidia o Conselho de Administração da Petrobras, o Palácio do Planalto informou que ela havia se baseado em parece técnico "falho".
"A presidente não tinha acesso a todas as informações. É verdade que ela não tinha acesso a todas as informações. Agora, a questão é se o negócio era correto ou não do ponto de vista estratégico, se poderia ser rentável e qual era o grau de risco. Portanto, é correta a visão da presidente, que não tinha todas informações. E é correto que o negócio é correto", disse Gabrielli.
Segundo ele, a decisão pela compra da refinaria de Pasadena foi aprovada na ocasião apenas por Dilma, mas pelos demais membros do Conselho de Administração da estatal, entre os quais empresários.
"Eu não vou falar pela presidente. Vou falar como membro do conselho, junto com Fábio Barbosa, que é presidente da editora Abril hoje, Gerdau, que é empresário respeitado, com Cláudio Haddad, todos os membros do conselho, que tomaram a decisão de que o negocio é correto. E continuo defendendo que o negocio era correto", declarou.
Entenda
Em 2006, a Petrobras comprou 50% de uma refinaria de petróleo em Pasadena, no Texas (EUA). Os outros 50% pertenciam à empresa belga Astra Oil.
Pela primeira parte, a estatal brasileira pagou US$ 360 milhões (US$ 190 milhões pelos papéis e US$ 170 milhões pelo petróleo que estava em Pasadena).
O valor é muito superior ao pago um ano antes pela Astra Oil na aquisição da refinaria inteira: US$ 42,5 milhões.
Em 2008, a Petrobras e a Astra Oil se desentenderam, e uma decisão judicial obrigou a estatal brasileira a comprar a parte que pertencia à empresa belga.
Com isso, a aquisição da refinaria de Pasadena acabou custando pelo menos US$ 1,3 bilhão à Petrobras – mais de 27 vezes o que a Astra desembolsou no negócio.