Economia

Prováveis impactos na economia baiana durante o Carnaval de Salvador

Para o Economista Arthur Nemrod, a despeito de sua importância do ponto de vista econômico, o Carnaval é uma festa com um conjunto imenso de desafios que precisam ser enfrentados.
Carla Alves Santana , Corecon | 21/02/2014 às 11:51
Pousada reformada na Barra para atender os foliões
Foto: BJÁ
O impacto do Carnaval da Economia Baiana é enorme. As atividades ligadas ao turismo representam aproximadamente 5% do Produto Interno Bruto (PIBda Bahia e a festa de momo contribui consideravelmente para um forte incremento deste setor, anualmente. Além disso, muita gente trabalha durante os dias de festa. Um número significativo de baianos começa meses antes para dar conta de que os blocos, trios elétricos e camarotes garantam a diversão em grande escala nos meses fevereiro e/ou março. A cadeia produtiva do Carnaval é complexa e envolve diferentes setores da economia. Até que o primeiro bloco desponte na Avenida, o Carnaval já influenciou diversas atividades, tais como os setores de comidas e bebidas, vestuário, turismo, mercado fonográfico, entre tantos outros.
 
 “A venda de abadás e fantasias subiu 22% este ano. Além disso, certos itens geralmente são muito mais vendidos nesta época. É o caso, por exemplo, de carnes para churrasco e bebidas, sobretudo cervejas e refrigerantes. As pessoas também costumam comprar roupas novas e outros adereços”, pontua o Economista Arthur Nemrod, membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (CORECON-BA). Ele acredita que “o Carnaval é sinônimo de um grande aporte de recursos em poucos dias, o que gera um fluxo muito grande de receita, com reflexos para o restante do ano”, diz.
 
Mesmo com alguns pontos negativos, como a redução na produção dos setores que “param” em virtude do feriado, e de alguns desafios a serem superados, o Carnaval permanece sendo um período de extrema importância econômica e turística para o Estado da Bahia. “O período eleva o número de empregos gerados e serviços oferecidos, além de atrair muitos turistas. Devido ao alto nível de informalidade nos dias de folia, é difícil quantificar os postos de trabalho criados. Os números do turismo, por sua vez, são mais fáceis de serem quantificados”, comenta Nemrod.
 
Números relevantes
 
Um levantamento do Ministério do Turismo realizado nas principais cidades brasileiras que celebram a maior festa popular do País revelou que apenas os estados da Bahia, Ceará e Pernambuco devem atrair 1,6 milhão de turistas para o Nordeste, o que significa um acréscimo de R$ 1,55 bilhão na economia da região. O acréscimo na economia do turismo é maior que nos últimos anos – e ficará entre 6% e 7%, de acordo com a projeção. Entre as localidades monitoradas, estima-se que o Carnaval reúna 6,6 milhões de turistas e acrescente R$ 6,1 bilhões à economia do País.
 
O aumento de arrecadação se deve não só ao ganho de competitividade dos principais destinos turísticos do País, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, segundo o Índice de Competitividade do Turismo Nacional, como também ao ganho de visibilidade com os grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016.
 
Segundo a Secretaria do Turismo do Estado da Bahia (SETUR), só em Salvador, turistas brasileiros, estrangeiros e baianos de outras cidades devem deixar R$ 1 bilhão durante o Carnaval. A estimativa prevê a chegada de 526 mil turistas à capital baiana, com 80% de ocupação dos hotéis, nos seis dias de folia.
 
Os principais emissores brasileiros, que representam 87% dos turistas que chegam à capital baiana no Carnaval, são Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Sergipe. Os estrangeiros, por sua vez, vêm da Argentina, EUA, Itália, Alemanha, França e Reino Unido. Os gastos preliminares dos visitantes incluem a compra do pacote com hospedagem e bilhete aéreo. Já durante a folia, a maior parte dos gastos é destinada para a compra do abadá e camarotes, alimentação e transporte.
 
“Temos turistas que chegam a gastar R$ 15 mil individualmente, pois são aqueles que alugam embarcações, ficam em hotéis e camarotes top de linha”, afirma o secretário do Turismo, Pedro Galvão. Há também os que gastam menos, que optam por ficar em casa de parentes e amigos. Esse público representa 40% dos visitantes.
 
A média de permanência em Salvador, durante o Carnaval, é de sete pernoites, e o circuito mais procurado pelos visitantes é o Dodô (Barra-Ondina). A maior média de idade está entre os turistas que ficam hospedados no Centro Histórico, local que tem a preferência dos estrangeiros.
 
Pequenos municípios
 
O turista que busca festejar o Carnaval em ritmo de nostalgia, ao som de marchinhas, em cenário distante das grandes cidades verticais, têm em algumas regiões do interior da Bahia a alternativa para os cinco dias de festas, o que acaba se configurando num impulso para a economia local. “Cidades do interior que oferecem opções para o período encontraram na época uma ferramenta forte para desenvolver economicamente o município, gerando empregos e movimentando grandes volumes financeiros”, destaca Arthur Nemrod.
 
“No período de festa popular, as cidades que têm a tradição, têm necessidade de contratar mão de obra temporária, aproveitando a local. Com isso, ela passa a ter experiência e se promove um fluxo de qualificação. O trabalhador pode ter a oportunidade de ser absorvido com um emprego definitivo. A festa gera oportunidade de qualificar pessoas que não tinham muita opção de renda”, explica o Conselheiro do Corecon-BA.
 
Desafios
 
Para o Economista Arthur Nemrod, a despeito de sua importância do ponto de vista econômico, o Carnaval é uma festa com um conjunto imenso de desafios que precisam ser enfrentados. Os três principais estão relacionados às políticas culturais, à regulação e à governança. Em primeiro lugar, é preciso que a festa seja compreendida como fenômeno no campo da cultura, como uma expressão do patrimônio imaterial da cultura baiana e, nessa condição, ele seja tratado, cuidado e pensado com políticas culturais.
 
A segunda questão é que esse fenômeno da vida cultural baiana incorporou um conjunto de práticas mercantis complexas, produtoras de riqueza. Como esse processo aconteceu sem regulação, o estado se desobrigou de regular a festa. “O resultado foi a geração e a concentração de muitas riquezas. Como não há como separar o Carnaval das práticas mercantis capitalistas, o que precisa ser feito é a regulação dos mercados envolvidos”, destacou Nemrod.
 
O terceiro destaque do Economista é que uma festa do porte do carnaval, com a complexidade que tem, precisa de um sistema de gestão amplo, democrático e transparente, que inclua todos os atores da festa, ou seja, a governança carece de melhorias.