Avaliar as perspectivas de crescimento das economias brasileira e baiana diante do recente cenário internacional; analisar o desempenho das balanças comerciais do Brasil e da Bahia diante da crise e evidenciar seus principais impactos para a economia, traçando um cenário prospectivo do que ainda pode acontecer se a crise Europeia continuar no ritmo atual. Esses são os principais objetivos do Seminário "Reflexos da Crise Internacional no Brasil e na Bahia", que será promovido pelo Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA) no dia 29 de maio, a partir das 14h30, no auditório da Desenbahia - Agência de Fomento do Estado da Bahia, em Salvador.
Voltado para Economistas, estudantes de Ciências Econômicas, empresários, jornalistas e outros convidados, o Encontro apresentará as raízes da crise e suas características para, a partir de então, abordar seus reflexos práticos tanto em nível nacional quanto estadual. Para abordar os impactos na economia brasileira, o Corecon-BA convidou o Economista Fernando Mattos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e assessor da presidência do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA). Já as consequências da crise para a Bahia serão apresentadas pelos Economistas Lívio Andrade Wanderley, coordenador do Curso de Mestrado em Economia (CME) da UFBA, e Vitor Athayde Couto, professor Titular do CME, os quais também atuarão como debatedores no Seminário.
Durante o Encontro, os Economistas Rômulo Almeida (in memorian) e Victor Gradin receberão homenagens especiais por sua contribuição ao desenvolvimento do país e da Bahia nas atividades e funções que desempenharam. "Pela passagem dos 60 anos de regulamentação da profissão de Economista no Brasil, o Conselho Federal de Economia estimulou cada um dos 26 Conselhos Regionais de Economia a elegerem dois Economistas que se destacaram em cada estado da federação. Escolhemos Rômulo e Victor porque reconhecemos o brilhantismo da atuação profissional deles", declara o presidente do Corecon-BA, Marcelo Santos.
No evento, será lançada a Revista Bahia Análise & Dados - Macroeconomia e Desenvolvimento, publicada pela Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos do Estado da Bahia (SEI), órgão ligado à Secretaria de Planejamento (Seplan), que apoia o Seminário, assim como a Desenbahia e o Curso de Mestrado da UFBA. No coquetel de encerramento, músicos da Cia de Trombones da Bahia, formada por membros da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), se apresentarão aos convidados.
Duas crises
De acordo com o Economista Lívio Wanderley, coordenador do Curso de Mestrado de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conselheiro do Corecon-BA e um dos debatedores do Seminário, "as origens da atual crise está baseada em dois vetores: o primeiro, iniciado em 2008, com a falência do banco americano Lehman Brothers e outras instituições financeiras de grande porte no mundo, resultante da crise dos papeis subprimes, permite batizá-la de "crise mundial especulativa". O segundo diz respeito aos desequilíbrios entre custos e produtividades nos países europeus que adotaram o Euro como moeda comum a partir de 1999, o que incentivou altos gastos públicos na tentativa de equilibrar a economia de países heterogêneos e por conseguinte o incremento das relações Dívidas/PIBs, o que permite batizar este momento como "crise europeia de endividamento".
A respeito desta "segunda crise", o Economista da Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos (SEI), Gustavo Pessoti, explica que para evitar um colapso de proporções semelhantes a da década de 1930, os Bancos Centrais da Europa, Estados Unidos e Japão adotaram políticas monetárias extremamente expansionistas que totalizaram mais de US$ 9 trilhões, afetando as economias emergentes ao desvalorizarem suas moedas. Esse fenômeno foi chamado pela presidente Dilma Roussef de "Tsunami Monetário" e seus efeitos sobre a taxa de câmbio de "guerra cambial". "Apesar das ações que a União Europeia tem adotado para contornar o problema, os indicadores econômicos sinalizam para um quadro de baixo crescimento das principais economias mundiais em 2012", destaca Pessoti, que também é conselheiro do Corecon-BA .
No Brasil, segundo Lívio Wanderley, os impactos da crise especulativa (ou "primeira crise") têm sido atenuados por medidas ficais e creditícias pautadas na elevação do consumo interno. "O crescimento econômico do Brasil tem se baseado pela máxima stop and go, com estabilidade de preços. O consumo, os gastos públicos e as exportações de commodities, especialmente para a China, têm contribuído para o crescimento econômico do país", destaca Lívio. Porém, pontua o Economista, a atual crise europeia, que ameaça gerar queda da atividade econômica mundial, com reflexo sobre a China, deixa o Brasil numa situação marcada por indefinições quanto a sua capacidade de reagir a esta "segunda crise", a qual poderá afetar as suas exportações.
Pessoti destaca, ainda, que, apesar da relativa estabilização do Brasil diante da crise, a valorização do Real teve consequências negativas sobre a Indústria nacional, que reduziu a participação das exportações, passando de 47% em 2008 para 36% em 2011. Diante desse quadro, o governo lançou, recentemente, um pacote de medidas para ajudar a indústria e reanimar a economia. "A grande aposta do governo para gerar estímulos imediatos à economia é a desoneração da folha de pagamentos. As empresas de determinados setores deixarão de contribuir à Previdência com 20% de sua folha de pagamento e passarão a recolher uma taxa calculada sobre o faturamento, com alíquotas de 1 a 2%", pontua o Economista da SEI.
Menor crescimento do PIB
Em 2011, a desvalorização do dólar provocou aumento nos preços das commodities, o que desencadeou aceleração nos preços em diversos países. No Brasil, o governo agiu contra a pressão inflacionária utilizando medidas monetárias e fiscais. Esses instrumentos utilizados pelo governo para apaziguar o ritmo dos preços causou o arrefecimento no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o PIB do Brasil apresentou expansão de 2,7% em 2011, enquanto a economia baiana cresceu apenas 2%, sobretudo pelas perdas causadas na indústria (que teve desaceleração de 2,9%), advindos da menor demanda internacional. "Outros fatores que atingiram a indústria do país também contribuíram para a desaceleração do setor na Bahia, a exemplo da incerteza no cenário externo e o efeito das medidas contracionistas adotadas pelo governo frente a um contexto inflacionário, que afetaram as decisões de investimentos", explica Pessoti.
Setorialmente, agropecuária, indústria e serviços acumularam taxas de 9,8%, -2,9% e 3,6%, respectivamente. A indústria de transformação apresentou uma perda dupla: apresentou retração de 4,4% e diminuiu sua participação na estrutura do PIB baiano (apresentando também retração no montante de empregos gerados pelo setor baiano em 2011).
Economia Baiana em 2012 e perspectivas
A economia baiana iniciou o ano de 2012 em um ritmo mais forte do que no quarto trimestre de 2011, quando o PIB cresceu 0,8% em relação ao terceiro trimestre na série com ajuste sazonal, e aumentou 1,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. "Os principais indicadores apontam, claramente, para a recuperação da atividade econômica, projetando crescimento no primeiro trimestre de 2012 bem superior ao de 2011", comemora o Economista Gustavo Pessoti.
Segundo Gustavo Pessoti, as medidas de incentivo à indústria podem contribuir para a expansão da economia baiana. Os setores incentivados, com base nos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), têm presença na matriz industrial do Estado, o que favorece tanto a geração de empregos quanto o valor agregado, com destaque para os segmentos calçadista, têxtil, plásticos e automotivo, os quais vinham reduzindo sua participação diante da concorrência com o produto importado, favorecido pelo que o ministro da Fazenda chamou de "guerra cambial", resultando até mesmo em fechamento de unidades produtivas, no caso do setor calçadista.
O comércio varejista também deve manter sua trajetória de crescimento em 2012, prova disso foi o bom desempenho já registrado nos dois primeiros meses do ano. As vendas desse segmento foram impulsionadas em decorrência da melhora nas condições de emprego, o crescimento da massa de rendimento e o significativo aumento real do salário mínimo, além do prolongamento do prazo de pagamento e as promoções realizadas pelas principais lojas do setor. A taxa acumulada deste setor é de 8,6%.
Com indústria incentivada e em franca recuperação e o setor comercial ainda muito aquecido,"a perspectivas de curto prazo para economia baiana são positivas, projetando-se uma taxa do PIB de 3,7% bem acima do crescimento de 2011", conclui Pessoti.