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Um trabalho de coordenado pela professora Eliza Emília Bernardo Rocha, do Departamento de Administração, vem estudando o surgimento de um cooperativismo fundamentado nos valores culturais brasileiros. A pesquisa analisa os valores que constituem a base da ideologia do movimento cooperativo (solidariedade e eqüidade) e relata sua importância no caso brasileiro.
O interesse em trabalhar com esse tema surgiu durante o doutorado da professora, na Unicamp. Ela explica que quando a primeira cooperativa foi criada, na cidade inglesa de Rochdale, em 1844, formada por 28 tecelões, eles precisaram criar normas, regulamentos. Surgiram, assim, os princípios dos pioneiros de Rochdale, que ao longo do tempo foram sendo modificados e adaptados. Hoje, são sete os princípios que norteiam o cooperativismo mundial: adesão livre e voluntária; controle democrático pelos sócios; participação econômica do sócio; autonomia e independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas; e preocupação com a comunidade. ?A Aliança Cooperativa Internacional, criada cinqüenta anos depois, é a guardiã desses princípios?, pontua Eliza Rocha.
O trabalho da pesquisadora busca entender a dimensão específica e contraditória da cooperativa e tem como pressuposto a possibilidade de análise das cooperativas que atuam sob a ótica de associações ou como empresas. Professores de outras instituições de ensino superior do País, fazem parte do projeto.
Baseia-se, principalmente, na percepção dos cooperados frente aos valores e princípios cooperativos. Os resultados, parciais, mostram que questões como globalização e seus efeitos e democracia participativa, não são trabalhadas pelas unidades analisadas.
No geral, nas cooperativas de grande, médio e pequeno porte foi observada uma dificuldade, tanto por parte dos dirigentes quanto dos associados, em conduzir, de forma efetiva, dois dos princípios mais importantes ao cooperativismo: a gestão democrática e a educação cooperativa, que tratam de questões relacionadas com o entendimento dos valores e dos princípios cooperativos, visando à prática social.
Nas grandes cooperativas, a ênfase consiste na questão da capacitação em detrimento de questões relacionadas ao conhecimento dos valores cooperativos e dos princípios deles decorrentes.
Um associado de uma grande cooperativa pesquisada afirma: ?aqui o social funciona sim, mas só porque o econômico funciona, senão seria diferente.? Segundo a professora, cabe ainda investigar a que social ele se refere. Eliza Rocha afirma que isso gera nestas cooperativas, um desinteresse dos associados em participar mais efetivamente da vida de sua cooperativa, de entender as particularidades deste tipo de empreendimento.
Ainda referente à educação cooperativa, a pesquisa mostra que o empenho das organizações maiores limita-se à assistência social. ?Já nas cooperativas menores, sobretudo as classificadas como cooperativas de trabalho, observamos que há um espaço aberto para trabalhar a educação cooperativa, talvez pela própria história de vida de seus associados, por sentirem na pele as conseqüências das transformações trazidas pela globalização no que se refere às relações econômicas e sociais,? afirma a pesquisadora.
Neste sentido, um associado de uma dessas cooperativas disse: ?ainda não estamos ganhando bem, não, mas a gente recuperou aqui uma coisa muito importante para a nossa vida que foi a dignidade.
Agora, sim, a gente tá sabendo mais ou menos o que é esse negócio de solidariedade. Mas, é claro que nós queremos ganhar o nosso dinheiro e comprar a nossa comida, roupa, né??
Eliza Rocha acredita que possa surgir dessas associações de trabalho solidário um cooperativismo que se inicia a partir de um movimento político social e esteja caminhando para se concretizar em política pública. ?Como se trata de organizações com contradições que lhes são inerentes, em virtude de suas especificidades, há que se pensar um modelo de gestão que contemple tais peculiaridades. Na realidade, não sabemos como gerir essas novas organizações, essas novas formas de organização do trabalho?, afirma a professora.
A pesquisadora acredita que estamos diante de um desafio. ?Sobre que alicerces se assenta o que vem sendo chamado de ?gestão social?, cujos paradigmas encontram-se em construção??, finaliza.
Fonte: Jornal da Universidade Estadual de Maringá