O governo brasileiro elevou o imposto sobre investimentos externos em renda fixa de 2% para 4% a partir desta terça-feira, em uma tentativa de frear a entrada de capital especulativo.
Mas "o mercado vê (o aumento do IOF) como inócuo diante do cenário externo", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.
Às 16h30, o euro avançava 1,2%, acima de US$ 1,38 e no maior nível em oito meses. A moeda dos Estados Unidos caía 0,9% em relação a uma cesta com as principais divisas.
A tomada de crédito no exterior para aplicação no Brasil ficou ainda mais barata com o corte do juro básico no Japão a uma faixa entre zero e 0,1 por cento.
A medida, que surpreendeu o mercado, aumentou a expectativa por um anúncio de novos estímulos também nos Estados Unidos. O presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, disse ao Wall Street Journal que é favorável a "muito mais" estímulos à economia para combater o desemprego .
"Enquanto a liquidez global seguir alta, os preços das commodities continuarem a subir e algumas taxas de câmbio em países avançados permanecerem em queda, o mercado vai continuar a pressionar o real para cima", avaliaram Paulo Leme e Luis Cezario, economistas do banco Goldman Sachs.
Mantega pede paciência
Questionado por jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que é preciso esperar para que o IOF atue sobre a taxa de câmbio. "Às vezes você tem que tomar antibiótico por uma semana para que tenha efeito."
Ele acrescentou que o problema cambial não está restrito ao Brasil. A intervenção de governos em todo o mundo contra a valorização de suas moedas deve ser discutida no final desta semana em reunião de líderes econômicos que contará com a participação brasileira .
De acordo com Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, o aumento do IOF tende de fato a reduzir a atratividade de investimentos de curto prazo no país. "O percentual definido torna nulo o rendimento até 139 dias (...) e reduz bruscamente o rendimento em um ano", afirmou.
Dados do Banco Central mostram que o investimento estrangeiro em títulos de renda fixa de curto prazo no país foi de US$ 1,027 bilhão entre janeiro e agosto, mais que o dobro do verificado em todo o ano passado.
Mas o próprio Tesouro Nacional reconhece que a maior parte dos investimentos estrangeiros está concentrada em títulos de longo prazo. Segundo os dados do BC, papéis de médio e longo prazos receberam US$ 10,953 bilhões até agosto neste ano, ante US$ 9,678 bilhões em todo o ano passado.
E, segundo cálculos da Safra Corretora, o aumento do IOF altera muito pouco a rentabilidade anual de um título com vencimento em 2017, de 11,34% a 10,97% -- ainda muito acima dos juros pagos por papéis em economias desenvolvidas.