Ao contrário do que a equipe do governo apregoa, a economia baiana vem dando sinais que está tendo dificuldade em sair da crise e isso é preocupante - quem afirma é Sérgio Furquim, diretor de assuntos Econômicos do IAF (Instituto dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia).
Segundo Furquim, os números divulgados pelo IBGE mostram de maneira clara que algo precisa ser feito. "Se analisarmos a arrecadação de tributos como um indicador de tendências macroeconômicas, verificaremos que, ao contrário dos demais estados brasileiros, o consumo, a atividade produtiva e as importações baianas, insistem em cair em relação ao período anterior, e apesar do "tudo" (ou seria "nada"?) que vem sendo feito, ela insiste em não esboçar reações positivas.
Só neste mês de agosto a arrecadação de ICMS ficou quase 56 milhões abaixo do mesmo período do ano anterior, agravando ainda mais o déficit orçamentário. Também a redução da atividade industrial, que, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, foi a mais acentuada dentre todos 13 estados pesquisados, chama a atenção como um indicador negativo do desempenho econômico, demonstrando o quanto a Bahia carece de uma diversificação da matriz econômica e investimentos no parque instalado, buscando melhorar a produtividade e evitar uma defasagem em relação aos novos centros industriais em implantação no Nordeste, analisou o diretor do IAF.
Sérgio Furquim lamentou a "miopia administrativa" da atual governo, que, mesmo diante de todas as evidências, tarda de adotar medidas capazes de reverter o quadro crítico.
Furquim, que coordena o núcleo de estudos da Sefaz do Futuro, criticou a análise da produção industrial de junho, avaliando que ao divulgar um "circunstancial" crescimento, o governo omitiu uma importante nota contida no relatório integrante à Pesquisa de Produção Industrial Mensal divulgada pelo IBGE, que registrava que o eventual resultado positivo da industria baiana naquele mês, se comparado ao ano anterior, se devia a uma paralisação temporária para manutenção e reparos de uma importante industria química em junho de 2008.
Sérgio Furquim lembrou que o IAF previu desde maio, que a queda da atividade industrial de julho seria por volta de 7%, número confirmado pelo IBGE, que divulgou a queda recorde de 6% na atividade industrial baiana, o pior resultado de todos os estados, e que retrata que a Bahia neste mês teve a maior retração na produção industrial dentre todos os estados pesquisados, se comparado ao mês anterior (quando compararmos com o ano anterior a queda será de 9,6%) - Ressalte-se, que dos estados pesquisados apenas três tiveram queda na produção industrial, e a Bahia teve, disparadamente, o pior resultado, disse.
O sindicalista negou as obras públicas teriam impulsionado os empregos na construção civil (que surpreendetemente teve um aumento na geração de postos de trabalho de 1,28%), atribuindo à oferta de créditos no setor a reação positiva do setor, e não a execução de obras capitaneadas pelo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).
Furquim protestou contra o tratamento dado pelo Governo Federal à Bahia - de todos os grandes estados brasileiros, apenas a Bahia ficou de fora dos mega-projetos, disse o diretor do IAF, que citou que Pernambuco com o Complexo Industrial Portuário de Suape e a Refinaria General Abreu e Lima, São Paulo com o Rodoanel e com o Trem Bala, o Rio de Janeiro com o seu Complexo Petroquímico (COMPERJ), o Maranhão com sua Refinaria Premium, integrada a um Pólo Petroquímico e um Porto de Alta Profundidade, o Ceará com o seu Parque de Geração de Enérgia Eólica, teve recentemente acrescido ao seu portifólio de investimentos públicos a construção de mais uma refinaria a Premium II, orçada inicialmente em R$ 11,1 bilhões e capacidade de processamento de 300 mil barris/dia, são exemplos de uma política de captação de investimentos públicos capazes de impulsionar a economia de um Estado.
O diretor de Assuntos Econômicos lamentou que a Bahia tenha ficado de fora deste momento histórico para o Brasil, com todos estes investimentos públicos, lamentando, qeu tivesse cabido para a Bahia menos de 1% de todos os recursos destinados ao Programa de Aceleração de Crescimento.
Para Furquim os investimentos divulgados de R$ 1,6 bilhões em infra-estrutura por parte do Ministério dos Transportes para Bahia, aí incluídos os recursos para serem usados na construção da Ferrovia Oeste-Leste, estão muito aquém dos destinados para os demais grandes estados da Federação.
Para ele, os números relacionados aos investimentos na Bahia estão muito distantes dos que agraciaram os estados do Rio de Janeiro, com mais de R$ 126 bilhões, (números divulgados pela Frijan), ou os US$ 25 bilhões (quase 50 bilhões de reais), destinados a implantação e operação do Complexo Industrial Portuário de Suape. O sindicalista afirmou dispor de um levantamento com quase duas dezenas de grandes obras em execução no país, em regiões que vão do Paraná ao Pará, e que superam várias vezes o total dos recursos destinados ao estado da Bahia.
Nem a administração da Petrobras passou longe das críticas do diretor do IAF, que reclamou da falta de investimentos na petro-industria baiana.
"Muito se fala em diversificação da matriz econômica, permitindo assim que outras atividades se imponham relevantemente no panorama econômico baiano, porém diversificação não significa renúncia. O que estamos vendo é o estado da Bahia renunciando a condição de ponta na petro-indústria brasileira, tanto sobre o ponto de vista tecnológico como em capacidade de produção. Nosso parque petroquímico, hoje sucateado, necessita de investimentos e uma significativa ampliação, afim de evitar uma defasagem com relação aos novos pólos que serão implantados.
A receita da industria petroquímica em nosso estado hoje ultrapassa os R$ 3,8 bilhões, quantia esta que dificilmente conseguiremos alcançar face à concorrência das novas industrias, da guerra fiscal e da inviabilidade de exportação em função da falta de investimentos em portos e outras obras de infra-estrutura ligada ao refino e exportação de derivados de petróleo", declarou Furquim.
Para ele, os efeitos da má gestão econômica e de investimentos já pode ser sentida pela população, hoje atingida pela crise na saúde, e agora, com os problemas na segurança pública, reflexo da falta de investimentos no setor e dos péssimos salários pagos aos policiais.
Por fim, o diretor lembrou que no próximo dia 21 de setembro o Instituto dos Auditores Fiscais está se reunindo no Restaurante Barbacoa, com o Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, quando agradecerá o empenho do PMDB contra a tentativa de aparelho sindical da máquina fazendária, através da Lei 11.470/09, que subtraiu atribuições privativas dos Auditores Fiscais em favor dos Agentes de Tributos Estaduais.