Colunistas / A Boa Mesa
Dom Franquito

DOM FRANQUITO NO ABAIXADINHO DA HUGO WILSON E A COMIDINHA BAIANA Restaurante popular e que

DOM FRANQUITO NO ABAIXADINHO DA HUGO WILSON E A COMIDINHA BAIANA
Restaurante popular e que tem samba e boemia todos os sábados e integra a Alma da Senhora Av Sete
21/07/2024 às 10:11
   É sempre uma alegria, um prazer, ir ao Abaixadinho da Travessa Hugo Wilson, no Corredor da Vitória, para saborear a comidinha baiana de dona Raimunda, a cozinheira da casa, e conversar com Dona Lita e com sua filha Rita que pilotam restaurante fundado por seu esposo e pai em 1974, portanto, a completar 50 anos de vida.

       A Avenida Sete, onde está inserida a travessa também conhecida como Beco do Wilson, tem 11 becos e somente este localizado no final do Corredor entre o Museu e a Mansão Carlos Costa Pinto e a Casa das Frutas (antigo Armazém Vitória) é que possui um restaurante. E o Abaixadinho, como o próprio nome diz, embora ninguém precise se abaixar para entrar nele, é um restaurante popular.

      Sabem, quanto é um prato da comida baiana - caruru, feijão, vatapá, arroz e galinha/ou siri catado, apenas 25 pilas. Portanto, quem chega tarde, digo ai por volta das 14hs, quando o sino da Igreja da Vitória há tocou o meio dia faz algum tempo, pode não encontrar mais o prato do dia, à disposição.

      Eu, já sabendo disso, e que no sábado a turma do Tasso, o poeta, e outros gosta de incrementar um samba por lá, a cerveja rola à vontade, o bate-papo de velhos amigos é intenso, então cheguei logo cedo para garantir minha pedida. 

      E optei por comer no balcão sentando em banco alto e servido por dona Maria Luisa Souza da Purificação, Dona Lita, a qual nos 76 anos de idade, atende aos clientes como a mesma modéstia e simpatia desde 1980 quando o velho Souza faleceu e ela passou a administrar a casa. De alguns anos para cá com o reforço da filha Rita Souza Lima, 48 anos, um dínamo, uma simpatia, que anda de um lado a outro, vai a área coberta no beco onde estão às mesas e faz de tudo um pouco.

      O Abaixadinho tem história que é também a narrativa do beco área que pertenceu a família Costa Pinto e era usada em moradias com único banheiro, por operários que trabalhavam nesta empresa. A travessa foi adquirida pelos espanhóis Garcia e Laureno, em 1963, galegos que chegaram a Bahia fugindo dos rigores da ditadura franquista e se estabeleceram no Corredor com o Armazém Vitória, de secos e molhados.

      O beco tem o nome de Hugo Wilson ao que tudo indica o aportuguesamento de Hugh Wilson um inglês que morou no Corredor no século XIX. Muitos ingleses se estabeleceram neste trecho da cidade a partir da ‘cólera morbus’ de 1855/1856, e o líder desta colônia inglesa Edward Pellew Wilson foi dono da casa no Campo Grande que serviu de morada dos arcebispos e cardeais da Bahia.

     Aa terraplanagem do campo grande foi feita pelo empreendedor e engenheiro Edward Parker no final do século XIX e Ana Gonçalves cita em "Um Defeito de Cor" que Luis Mahin morou na casa de Mr Cleg no Corredor, onde aprendeu a falar inglês e fazer os docinhos ‘cookies’. Há, ainda, na Rua Banco dos Inglês o Bristh Club e o Cemitério dos Ingleses na Ladeira da Barra, junto ao Iatch.

      Dona Lita me diz que o nome do beco é uma homenagem aos espanhóis que compraram a área. Mas, não sabe explicar o porquê do nome Hugo Wilson.

      O certo, comenta Rita, é que o beco existe e “desde quando eu era menina muita gente descia por aqui para ir à praia Xangrilá que ficava lá em baixo, na Baía de Todos os Santos, e acabou essa farra quando foi construída a Mansão Carlos Costa Pinto e erguido um muro no local”.

      Hoje, o Beco Wilson, como é popularmente conhecido tem 16 construções casas e pequenos prédios cujos donos são os herdeiros de Garcia e Laureano que cobram aluguéis por esses espaços.

      Diz-se que Jose Luís Garcia é o administrador dessas edificações do beco. No Abaixadinho - logo na entrada do beco, distante vinte passos do Corredor e da Casa das Frutas - quem dá as cartas são Lita e Rita e a comida de dona Raimunda.

      Em tempos idos, quando a agência de publicidade Engenho Novo, de Fernandinho Passos, tinha sede no Corredor, promoveu a Lavagem do Beco e o local que já era festivo, as famílias sempre trocavam brindes e bolos no Natal e outras festas, ganhou popularidade. 

    E por lá passaram e passam muitos escritores, advogados, jornalistas (Fernando Conceição é cliente) boêmios que residem no Corredor, aposentados e operários que trabalham em obras da construção civil e são clientes da comida do Abaixadinho.

      Quer saber o que tinha ontem, por lá? Comida baiana - sarapatel e caruru; dobradinha, catado de siri e frango de ensopado. E, claro, a cerveja geladíssima. Boteco, por sua natureza, serve uma boia pinga.
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      Restaurante Abaixadinho
      Travessa Hugo Wilson, 2
      Corredor da Vitória
      Abre todos os dias exceto segundas para almoço
     Classificação 2 DONS