Direito

COMEDIANTE LÉO LINS TEM SHOW CENSURADO POR JUIZA E NÃO TEME PRISÃO

É o Brasil do amor em andamento (Com Gazeta do Povo e outros)
Tasso Franco , Salvador | 18/05/2023 às 08:56
Leo Lins
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   O comediante Léo Lins foi censurado por decisão da juíza Gina Fonseca Correa (TJ-SP) nesta terça-feira (16). Acionada pelo Ministério Público de São Paulo, ela determinou que um especial de comédia de Lins com mais de três milhões de visualizações fosse tirado do ar e o proibiu de publicar mais materiais de humor com suposto “conteúdo depreciativo ou humilhante” para categorias consideradas “minorias ou vulneráveis”.

 Ele está proibido até de sair da cidade de São Paulo por mais de dez dias sem autorização judicial. Além de punitiva, a censura é prévia: o artista está proibido de mencionar os grupos “vulneráveis” em futuras apresentações de stand-up. Dessa vez, não é apenas ativismo judicial: o MP usou a lei antipiadas sancionada por Lula em janeiro.


A notícia é mais um desenvolvimento do apagão da liberdade de expressão no Brasil que começou a chamar a atenção de observadores internacionais. 

Lins não é o primeiro a ser punido por quem considera piada coisa séria este ano. Em março, o comediante Bruno Lambert, que não tem a fama de Lins para viver da comédia, foi demitido de seu emprego em um banco após ser denunciado ao mesmo MP de São Paulo pela deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) por causa de uma piada com o tema da deficiência física.

O diplomata Gustavo Maultasch, autor do livro “Contra Toda Censura” (Avis Rara, 2022), disse à Gazeta do Povo que a defesa da liberdade de expressão do humor é a mais óbvia, simples e direta, pois “determinadas limitações à liberdade de expressão (como a incitação à violência) não se aplicariam a um discurso assumidamente jocoso e satírico”. Infelizmente muitos não percebem a gravidade da situação, reflete Maultasch: “se o Estado não respeita mais nem aquilo que é dito em tom humorístico, imagine as perseguições que ele não fará em relação a nossas opiniões e críticas políticas”.

Por isso, como um canário em uma mina, sensível à falta de oxigênio e o primeiro a morrer quando gases tóxicos são encontrados pelos mineiros, alertando-os do perigo, a censura ao humor é um alerta para democracias liberais. A história mostra que muitos comediantes ou meros piadistas de ocasião serviram como mártires da liberdade de expressão.

O QUE DIZ O HUMORISTA

“O show está fora do ar, este processo tem consequências absurdas. Há muito mais em jogo. A justificativa para remover meu show de stand-up, pode ser usada basicamente para remover 95% dos especiais de humor. Fora pedidos, a meu ver, desproporcionais por contar piadas num palco de teatro. Igualando uma expressão artística a um ato criminoso .Meu advogado já está entrando com uma defesa e pretendo fazer um vídeo relatando o que está acontecendo”, disse.

Em entrevista à CNN, Lins afirmou que sofreu censura e que seu vídeo não violou nenhuma norma do Youtube, inclusive estava recebendo dinheiro do Youtube pelo vídeo.

“O Ministério Público passou por cima da plataforma e considerou o show como um ato criminoso. Vou aguardar meu julgamento. Espero não ser preso. Mas, caso seja, com a superlotação das cadeias, meu show vai continuar lotado”, disse o comediante, que continuou.