Com informações do Correio e A Tarde
Da Redação , Salvador |
09/12/2017 às 14:35
Mãe Stella no centro da polêmica
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A ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, aos 92 anos, virou o alvo principal de um imbróglio envolvendo família, filhos do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e a psicóloga Graziela Domini. A disputa, que dura pelo menos seis meses, já chegou à polícia e também à Justiça.
Isso porque, ainda nesta sexta-feira (8), familiares e filhos do terreiro protocolaram uma ação contra Graziela, que diz ter escritura pública comprovando ser responsável pelo cuidado de saúde de Mãe Stella. A decisão de levar o caso à Justiça foi tomada após reunião realizada ontem na Casa de Xangô, no Afonjá, entre integrantes do Ilê. Eles reivindicam o retorno da ialorixá, levada por Graziela para Nazaré, no Recôncavo, onde a psicóloga tem parentes.
A disputa tem como pano de fundo o patrimônio cultural e o legado religioso de Mãe Stella, além dos próprios bens do Afonjá. Familiares e filhos do terreiro acusam Graziela de fechar o Museu Ilê Ohun Lailai - primeiro museu do candomblé, criado em 1982 -, além de retirar móveis tradicionais da Casa de Xangô e substituir Mãe Stella em rituais religiosos, “usurpando a condição de ialorixá ou yakekerê do terreiro”.
Dizem ainda que a psicóloga, que se apresenta como companheira da ialorixá, passou a proibir visitas a Mãe Stella.
Retorno e cuidados
Na ação, além de solicitarem à Justiça que determine o retorno de Mãe Stella ao terreiro, eles pedem ainda que seja designada uma pessoa em particular para cuidar da líder religiosa. Eles indicam um nome para ser responsável pelos cuidados da ialorixá, mas não revelaram a identidade. A ação tem como autora a Sociedade Cruz Santa do Afonjá. A psicóloga aparece como ré.
Além disso, eles pedem também a imposição de medidas restritivas a Graziela no campo religioso e, também, em relação ao patrimônio financeiro de Mãe Stella. A justificativa é de que, segundo eles, a companheira da líder religiosa estaria “fazendo o que bem entende” com as finanças.
A TARDE
A psicóloga Graziela Domini, 55 anos, companheira da sacerdotisa do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi, disse por telefone que a mudança da religiosa de 92 anos para a cidade de Nazaré (a 216 km de Salvador) foi uma decisão da própria ialorixá.
A afirmação ocorre após o obá odofin (ministro de Xangô) do terreiro e presidente da Sociedade Cruz Santa do Afonjá, Ribamar Daniel, informar que Mãe Stella teria sido retirada do terreiro por seguranças armados contratados por Graziela.
Ao ser questionada sobre a situação, a companheira da religiosa desmentiu o fato, afirmando que Mãe Stella foi direto do Hospital da Bahia, onde estava internada, para Nazaré assim que recebeu alta médica.
"Eles não podem tirar minha esposa" diz Graziela Domini, companheira da sacerdotisa
A mudança da mãe de santo gerou revolta nos membros da casa, o que deu origem a denúncias contra Graziela na Justiça, afirmou Ribamar.
Venda de obras
Sobre a venda de bens do terreiro, como contou Ribamar, a psicóloga disse que não comercializou nada. Ela, no entanto, afirmou que as esculturas do artista plástico Carybé serão leiloadas. “Preciso manter ela (Mãe Stella)”, disse, garantindo que tem documento de união estável com a mãe de santo.
Esta união também é questionada pelo obá odofin. Segundo ele, nenhum documento foi apresentado. “Eles não podem tirar minha esposa”, afirmou Graziela à reportagem do Portal A TARDE.
Jogos de búzios
Ainda conforme a psicóloga, a participação dela nos jogos de búzios, outro ponto questionado pelos filhos de santo do terreiro, deve-se à baixa visão da ialorixá, que sofre com inflamações nas artérias da cabeça (arterite temporal), o que intensifica a hipertensão dela.
"Eu não quero nada, não preciso de cadeira para ser quem eu sou, eu sou uma escritora Graziela Domini, companheira da sacerdotisa
“Sou os olhos dela. Eu digo a posição de caída dos búzios e ela interpreta”, relatou Domini. “Eu não quero nada, não preciso de cadeira para ser quem eu sou, eu sou uma escritora”, disse também.
Graziela prometeu enviar documentos que provem sua versão do fato.
Em uma carta assinada por 71 membros do Opô Afonjá, ela é acusada de retirar imóveis e obras de arte tradicionais da Casa de Xangô, de fechar o Museu Ilê Ohun Lailai, criado em 1982, e de substituir a sacerdotisa nos jogos de búzios.