"Exerço uma das profissões mais dignas do mundo, com um salário miserável".
Da Redação , Salvador |
22/08/2017 às 12:21
Imagem postada por Márcia Friggi no facebook
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A Polícia Civil de Indaial vai investigar o caso da professora Márcia Friggi, que foi agredida por um aluno de 15 anos na segunda-feira. Segundo o delegado José Klock, por se tratar de um menor de idade, será aberto um auto de apuração de ato infracional de adolescente. O procedimento é semelhante a um inquérito e, depois de concluído, será encaminhado à Promotoria da Infância e Juventude da Comarca de Indaial.
A delegacia também expediu uma guia para exame de corpo de delito da vítima, que deve ser feito no Instituto Geral de Perícias (IGP) de Blumenau. As testemunhas que estavam na unidade de ensino no momento da agressão ainda não foram ouvidas, mas devem prestar depoimento nos próximos dias. O menor suspeito da agressão não possuía qualquer antecedente segundo a Polícia Civil.
sangue que escorria de uma abertura do supercílio manchava o rosto de Marcia Friggi, de 51 anos. Do olho esquerdo brotavam lágrimas já que o direito, atingido por um soco, estava tão inchado que a professora de língua portuguesa e literatura de Indaial, em Santa Catarina, mal conseguia abri-lo. Era o primeiro dia de aula de Friggi para aquela turma. E também o primeiro dia do aluno agressor ali.
MAIS AGRESSÕES
PELAS REDES SOCIAIS
Os ferimentos físicos, causados por um aluno de 15 anos e documentados em foto, impressionam. Mas as agressões à professora não se encerraram aí. A exposição do caso nas redes sociais de Friggi desencadeou uma nova onda de ataques contra ela, conforme relatou a professora à BBC Brasil:
"Estou estarrecida. Certas pessoas estão escrevendo que eu merecia isso, por meu posicionamento político de esquerda, de feminista. Já atingiram o meu olho, mas não vão me calar. Na sala de aula é uma coisa, mas nas redes sociais tenho todo o direito de me expressar", afirmou a professora, que se desdobra em dois empregos, nas redes municipal e estadual, para sustentar a família.
Com a voz embargada, Friggi definiu sua condição:
"Exerço uma das profissões mais dignas do mundo, com um salário miserável".
A escola onde Friggi foi agredida, na qual leciona há quatro anos, dedica-se ao ensino de jovens e adultos.
"Somos agredidos verbalmente de forma cotidiana. Fomos [os professores] relegados ao abandono de muitos governos e da sociedade. Somos reféns de alunos e de famílias que há muito não conseguem educar. Esta é a geração de cristal: de quem não se pode cobrar nada, que não tem noção de nada", lamenta.
Socos na escola
Conforme relatou em uma postagem no Facebook, já compartilhada mais de 321 mil vezes, Friggi foi agredida por um estudante durante a aula.
Ao pedir que o aluno colocasse um livro que estava entre as pernas sobre a mesa, a professora conta que foi xingada. Depois, o aluno jogou o livro em sua direção.
Ao encaminhar o jovem para a direção escolar, Friggi acabou alvo de socos e agressões.
"Ele, um menino forte de 15 anos, começou a me agredir. Foi muito rápido, não tive tempo ou possibilidade de defesa. O último soco me jogou na parede", escreveu a professora.