Direito

TEMER MUDA tom discurso sobre mulheres depois de ser chamado machista

Com Terra e redação do Bahia Já
Da Redação , Salvador | 09/03/2017 às 18:05
Temer e esposa no dia Internacional da Mulher
Foto: pr

Um discurso de dez minutos do presidente Michel Temer, durante a cerimônia do Dia Internacional da Mulher na quarta-feira (08/03), gerou uma enxurrada de críticas em redes sociais e veículos de imprensa. Temer foi chamado de "machista", "antiquado" e foi acusado de ter feito uma "anti-homenagem" ao explicitar uma visão arcaica sobre o papel feminino na sociedade. Hoje, já mudou o tom e usou as redes sociais para dizer que seu governo fará tudo para que as mulheres tenham mais espaço.

No discurso em Brasília, Temer disse que as mulheres têm uma grande participação na economia porque "ninguém mais é capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher". O presidente também louvou "o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz pelo lar, o que faz pelos filhos".

A fala destoou completamente das centenas de manifestações organizadas no dia, que pedem mais igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. O presidente disse, por exemplo, que "hoje homens e mulheres são igualmente empregados", apesar de dados do IPEA divulgados no início da semana apontarem que o trabalho doméstico faz com que as mulheres trabalhem 7,5 horas a mais que os homens por semana.

Dados do instituto também apontam que o desemprego entre as mulheres é mais alto do que os homens em todas as regiões do País.

O presidente também declarou que "o número de mulheres que comandam empresas" é imenso e que atuação delas no Legislativo é "extraordinária", apesar de levantamentos apontarem que as mulheres estão subrepresentadas em cargos executivos de grandes empresas brasileiras e ocupam apenas 11% das 594 vagas do Congresso.

Críticas

Nas redes sociais, usuários reclamaram da fala do presidente de 75 anos e ironizaram a sua visão. "Acho que o Michel Temer pegou o discurso de dia da mulher que o marechal Deodoro deixou na gaveta", escreveu a quadrinista Alexandra Moraes no Twitter.

O escritor Marcelo Rubens Paiva, por sua vez, chamou Temer de "imbecil". "Que imbecil esse Michel Temer. Quem faz supermercado é mulher? Na minha casa eu que faço. Há muitos anos". Ele disse ainda que "está provado que Temer é um vampiro que nasceu há 200 anos e pensa como se estivesse no século 18"."

O jornalista Josias de Souza escreveu em seu blog que Temer "parece não enxergar a evolução ao redor". "Seu discurso talvez fosse bem recebido pelas Amélias da década de 1940, mulheres que não tinham 'a menor vaidade', cantadas por Mário Lago e Ataulfo Alves. Ao transportar essa mulher com aroma de passado para 2017, Temer produziu uma hedionda anti-homenagem. Perdeu uma excelente oportunidade de perder uma oportunidade."

A colunista Eliane Brum também recriminou o presidente em um texto publicado na sua conta do Facebook: "Enquanto as mulheres ocupavam as ruas do Brasil, Temer provava mais uma vez que não compreende o país que governa por força de um impeachment. (...) Este momento do Brasil não é apenas triste. É constrangedor. E é boçal. Ao discursar, Temer nos envergonha."

O colunista da Folha de S.Paulo Bernardo Mello Franco escreveu que "desta vez não há como jogar a culpa no marqueteiro".

A controvérsia gerada pelo discurso do presidente foi rapidamente explorada por figuras da oposição e antigos membros das administrações petistas. A ex-ministra Maria do Rosário disse no Twitter "avisem Temer que é 2017. A gente lava roupa, cozinha e arruma casa porque não há igualdade. Mas somos mais do que isso. Ganhamos até Presidência, e no voto." Já o ex-ministro Carlos Minc chamou Temer de "troglodita" e a ex-deputada Luciana Genro disse que o presidente é "machista".

Deputadas da base aliada, porém, defenderam Temer. Shéridan (PSDB-RR) disse "isso não diminui a mulher em nada". Já Soraya Santos (PMDB-RJ) defendeu a linha argumentativa do presidente afirmando que "as primeiras pessoas a sentirem a crise são as mulheres que administram a casa, porque fazem a compra e a contabilidade do dia a dia".

Controvérsias

Temer já havia provocado uma onda de críticas no início do seu governo quando nomeou um ministério sem nenhuma mulher - algo que não acontecia desde o governo Geisel (1974-1979). Ele também extinguiu a Secretaria de Políticas para as Mulheres e passou as atribuições da pasta para o Ministério da Justiça. À época, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que "não foi possível" nomear mulheres. No final do governo Dilma (2011-2016), seis mulheres comandavam ministérios.

Temer só nomeou a primeira mulher para o alto escalão do governo após quatro meses - Grace Mendonça, que passou a comandar a Advocacia-Geral da União (AGU). O presidente também não foi o único membro do governo a dar declarações desastradas sobre mulheres. Em agosto do ano passado, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que "homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde". Ele posteriormente pediu desculpas pela declaração.

Nesta quinta-feira (09/03), um dia após a controvérsia gerada pelo discurso, Temer usou as redes sociais para adotar outro tom. No Twitter, disse: "Meu governo fará de tudo para que mulheres ocupem cada vez mais espaço na sociedade e (...) tenham direitos iguais em casa e no trabalho. Não vamos tolerar preconceito e violência contra a mulher."