Direito

FUNAI CRITICA "teor invasivo" das imagens de índios que vivem isolados

Com informações do Globo.com
Da Redação , Salvador | 23/12/2016 às 17:46
Indios ficaram apavorados
Foto: Ricardo Stuckert
A Fundação Nacional do Índio (Funai) fez duras críticas à veiculação de reportagem na “National Geographic”, repercutida pela imprensa nacional, com imagens de uma tribo indígena isolada no estado do Acre. De acordo com o órgão, trata-se de um desrespeito aos índios “que se mantém em isolamento por decisões próprias”. O autor das fotos, Ricardo Stuckert, se defendeu, ressaltando o caráter inesperado das imagens, enquanto o sertanista José Meirelles, que o acompanhava no momento do registro, reforçou a importância do material para a proteção dos povos indígenas.

“O teor invasivo do sobrevoo e, consequentemente, das fotografias pode ser percebido no semblante de terror dos indígenas e na postura de ataque ao empunhar arcos e flechas contra a aeronave”, criticou a Funai, em comunicado divulgado nesta sexta-feira. “Os efeitos de uma violência simbólica desse nível são social e culturalmente imensuráveis”.

Procurado pelo GLOBO, Stuckert se defendeu por e-mail, ressaltando que as imagens capturadas são fruto de um encontro inesperado em contexto jornalístico. "Em nenhuma hipótese houve intenção de desrespeitar ou invadir as tradições do povo indígena", escreveu ele, ponderando que "sempre revelou uma profunda identificação com a cultura e a história dos índios brasileiros". Stuckert também argumentou que realiza trabalhos fotográficos com os índios desde 1996 e tem "total consciência humanística da importância desses povos para o Brasil".

A Funai também refutou o argumento de que a divulgação de imagens como as capturadas pelo fotógrafo Ricardo Stuckert contribuiriam à proteção das tribos, por chamar a atenção do público para o tema. Esse ponto foi destacado em entrevista ao GLOBO na quinta-feira pelo sertanista José Meirelles, que trabalhou por muitos anos na Funai e acompanhava Stuckert durante o sobrevoo. Meirelles informou ter conhecimento desses índios desde 1989, mas, até então, não havia motivos para dar visibilidade a eles, pois viviam em segurança, o que não acontece mais.

— Eles transitam na fronteira e, quando estão do lado do Peru, ficam expostos à ação de garimpeiros e madeireiros ilegais. Muitas vezes, acabam levando tiros — alertou. — E com as últimas sinalizações do governo brasileiro sobre a revisão de demarcações de terras indígenas e a falta de recursos na Funai, tememos que eles fiquem mais vulneráveis também do lado brasileiro.

Em uma nova entrevista nesta sexta-feira, Meirelles reforçou o argumento e disse que a Funai deveria "gastar energia com outras coisas":

— A ameaça a esses povos não é passar lá em cima tirando foto, mas sim caçadores e pescadores ilegais quem entram nas matas e, em muitos casos, atiram contra os índios e ninguém fica sabendo.