Com informações da Secom
Da Redação , da redação em Salvador |
12/08/2016 às 18:40
Joviniano durante pronunciamento no salão de Atos da Govrnadoria
Foto: Carla Ornelas
Composto por três volumes e mais de duas mil páginas, o relatório final da Comissão Estadual da Verdade (CEV) foi entregue ao governador Rui Costa na tarde desta sexta-feira (12), Dia Nacional dos Direitos Humanos, no Salão de Atos da Governadoria, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador. O documento apresenta à sociedade as práticas do regime que oprimiu a cidadania e violou direitos humanos no país no período de 1964 a 1985.
No evento, o governador prestou uma homenagem aos membros da comissão. “Em nome do povo da Bahia, agradeço pela dedicação da comissão e de cada um que contribuiu para esse trabalho. Ele deixa para esta e para as próximas gerações um novo olhar sobre a história do Brasil. Qualquer período de ódio, perseguição e morte não deve se repetir. Nós devemos lutar pela liberdade de imprensa e de expressão. Que a gente possa valorizar a vida e o ser humano acima de tudo”, disse Rui.
O relatório também apresenta recomendações para o aprimoramento das instituições do Estado, de modo a construir uma política definitiva de democracia e de respeito à dignidade da vida. De acordo com o coordenador da comissão, Joviniano Neto, o relatório deixa um legado para o fortalecimento da democracia.
“Esse trabalho coloca a história da Bahia e o que aconteceu com os baianos durante a ditadura em um novo patamar. Levantamos documentos importantíssimos, que compram fatos fundamentais para a história. Conseguimos comprovar, por exemplo, com dossiê, documentos, fotografias e levantamento cadavérico, que o educador Anísio Teixeira não morreu por acidente. Ele foi assassinado”, afirmou Jovianiano.
Depoimentos
A comissão foi instituída na Bahia em 2012 para auxiliar a Comissão Nacional da Verdade a examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas na ditadura militar. A função prioritária da comissão foi ouvir vítimas e familiares para compreender o padrão das violações cometidas, além de conhecer a versão dos autores dos crimes e buscar informações em arquivos até então desconhecidos.
O presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e membro da comissão, Walter Pinheiro, destacou que o grupo conseguiu “depoimentos importantíssimos, como o de Theodomiro Romeiro, baiano que foi condenado à morte no período. Hoje ele é juiz em Pernambuco e veio até a Bahia para dar depoimento. Há também recomendações para o futuro, para que os fatos não se repitam, e sugestões ao governo”.
Outro depoimento registrado pela comissão foi o da socióloga Eliana Bellini Rolemberg, presa aos 26 anos, em 1970. Por conta da prisão, a professora e psicóloga Tatiana Rolemberg, que representou a mãe no evento, foi embora do Brasil ainda criança. “Minha mãe era militante da Ação Popular na época da ditadura. Ela ficou dois anos presa em São Paulo, passando por um processo de tortura. Na época, nós – eu, meu pai e uma tia - fomos exilados na França. Dois anos depois, minha mãe foi solta e foi nos encontrar em Paris. Voltamos para o Brasil apenas com a Lei da Anistia, em 1979. E desde então, ela continua na luta”.