Diante da delação de Lúcia servidores da Odebrecht foram presos em Salvador
G1 , BSB |
22/03/2016 às 18:39
Maria Lúcia Tavares
Foto: DIV
A ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares detalhou, em depoimentos de delação premiada, o funcionamento do setor de contabilidade paralela da empresa. De acordo com a Polícia Federal (PF), as informações sobre o esquema de pagamentos ilícitos embasou a 26ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (22).
Maria Lúcia Tavares foi presa na 23ª fase da operação e decidiu colaborar com as investigações. Ela era responsável por repassar as informações das planilhas de pagamentos paralelos para os entregadores, e depois receber deles os extratos para fazer a conferência com as planilhas que recebia.
Na delação, ela contou que chegou ao “Setor de Operações Estruturadas” há seis anos, após trabalhar na empresa desde 1977. No setor, ela tinha como superiores Luiz Eduardo Soares, Fernando Migliaccio e Hilberto Silva – este era o chefe do setor –, e trabalhava ainda com Angela Palmeira, Audenira Bezerra e Alyne Borazo.
Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho e Luiz Eduardo da Rocha Soares foram presos preventivamente nesta nova fase da Lava Jato. Fernando Migliaccio foi preso na Suíça em fevereiro. Angela Palmeira foi presa em desdobramento da 23ª fase da Lava Jato. Alyne Borazo foi conduzida coercitivamente a prestar depoimento nesta terça
Na rotina de trabalho, as atividades de Maria Lúcia no setor consistiam em extrair de um sistema interno, semanalmente, planilhas de requisições de pagamentos paralelos. Ela disse aos investigadores que não sabe quem elaborava as planilhas ou solicitava os pagamentos, mas que sabe que Ubiraci Santos era um dos envolvidos. Isaias Ubiraci Chaves Santos foi preso temporariamente nesta terça.
As planilhas geradas a cada semana continham nome de obras, codinomes dos beneficiários dos pagamentos, os números das requisições e os nomes de quem era os responsáveis pelas solicitações. Cabia à delatora somar os valores que deveriam ser entregues em cada uma das cidades indicadas na planilha para verificar quanto seria preciso disponibilizar. Ao fechar os valores, ela enviava as informações para Fernando Migliaccio via sistema interno de troca de mensagens.
Após avisar Migliaccio, Maria Lúcia avisava os “prestadores”, que eram os responsáveis por fazer as entregas, sobre o que deveria ser pago naquela semana – ela fornecia a eles uma senha, um endereço e um codinome dos beneficiários. Essas informações, contou Maria Lúcia, eram repassadas a ela por Migliaccio.
A delatora relatou que depois da entrega cabia a ela elaborar uma planilha com base nos extratos enviados pelos prestadores, verificando se estava correto de acordo com o que havia sido encaminhado por Migliaccio. Em alguns casos, contou, Migliaccio dizia que os pedidos tinham vindo por “ordem do chefe”, em referência a Marcelo Odebrecht.
Ela disse aos investigadores que chegou a trabalhar nove anos sem tirar férias.
FEIRA
Nos depoimentos, Maria Lúcia Tavares disse que quem recebia os valores não eram, necessariamente, os beneficiários finais – normalmente eram emissários. O único codinome que ela conhecia era “Feira”, que fazia referência a Monica Moura, mulher do publicitário João Santana – o casal foi preso na 23ª fase da Lava Jato e segue na carceragem da PF.
Ela relatou aos investigadores que soube do codinome porque um dia ele apareceu nas planilhas que ela operava, e Hilberto Silva lhe entregou um cartão com os contatos de Monica Moura para que os pagamentos fossem feitos. Nesta primeira entrega, mesmo com o contato telefônico, Moura acabou passou o endereço diretamente para Fernando Migliaccio, que repassou a ela.
Quase todas as entregas feitas a Monica Moura, segundo Maria Lúcia, foram feitas em endereços indicados por Migliaccio. Houve uma ocasião, porém, que a própria Monica Moura foi ao prédio da Odebrecht em Salvador, na sala do Setor de Operações Estruturadas, levar os dados de uma conta no exterior para Hilberto Silva – as informações foram repassada a Angela Pereira, que fazia o mesmo trabalho de Maria Lúcia mas com contas no exterior.
Em uma das entregas de dinheiro para “Feira”, Maria Lúcia contou que Monica informou que uma pessoa chamada André Santana iria buscar os valores em espécie na sede da Odebrecht. A delatora disse que chegou a perguntar se era algum parente, por conta do sobrenome, mas que Monica Moura disse que era um funcionário. Segundo a delatora, André Santana recebeu R$ 500 mil e foi indicado ainda para outros recebimentos.