Direito

BRIGA pelo poder em A Tarde vai para a Justiça e Creso acusa Blumberg

Segundo Creso, a tendência de A Tarde é acabar
Bahia Noticias , Salvador | 05/03/2016 às 12:25
André Blumberg
Foto: Ignáxio Teixeira
O imbróglio entre o grupo Piatra SP Participações – representado pelo empresário Crezo Dourado – e a família Simões, fundadora do jornal A Tarde, parece estar muito longe de um fim pacífico (veja aqui o desenrolar da confusão). Em entrevista ao  Bahia Notícias nesta sexta-feira (4), Crezo Dourado afirmou que os desentendimentos irão acabar com a centenária publicação e que a família foi avisada disso. “É [vai acabar o jornal]. Não só pela confusão de hoje, que foi só o início de tudo. Eu falei a eles que a empresa não aguentaria uma confusão”, asseverou. De acordo com o empresário, ele foi enganado pelo diretor-geral do jornal, André Blumberg, e por um membro da família – que não foi nomeado – no momento da compra do noticiário. “Em janeiro, eu fui procurado numa sexta-feira por Blumberg e um Simões. 

Eles me falaram que, na terça-feira seguinte, o jornal iria parar de circular por falta de recursos e, com a urgência de vender o jornal, me apresentaram uma auditoria. Eu confiei neles. O demonstrativo mostrava que o passivo do jornal era de R$ 120 milhões e, deste montante, R$ 70 milhões eram tributários.

 Depois que entrei na empresa, vi outra realidade. O passivo era de R$ 250 milhões e, só de tributário, R$ 176 milhões”, apontou. A auditoria da Piatra SP Participações identificou ainda, segundo Crezo, que eles cometeram atos arbitrários e que na auditoria se constatou a prática de crimes de sonegação fiscal, apropriação indébita previdenciária de forma continuada, retenção dos tributos dos funcionários e o não repasse aos cofres públicos. “Uma fiscalização e o jornal não aguenta 15 dias. A sonegação existe e é muito séria”, concluiu. Com as contas no vermelho, Crezo disse ao BN que cumpriu o prometido com a família: em dois meses, depositou R$ 600 mil do pagamento parcelado que havia sido acertado no momento da venda. “Paguei a primeira parcela de R$ 300 mil e a segunda, no mesmo valor, eu paguei até adiantado”, relembra, ao enfatizar que não descumpriu nenhuma cláusula do contrato assinado.   

O empresário afirmou ainda que as demissões promovidas pelo grupo dele na quinta-feira (3) foram para equilibrar as contas do jornal. “Eu cheguei lá e encontrei diretor que se achava dono do jornal. Para você ter ideia, nestes 20 dias à frente do jornal, eu não vi um real da circulação. Todo dia saiam 40 mil jornais e não voltava nada para o caixa da empresa. No carnaval, saíram dez páginas de anúncios no jornal e não entrou um real e nem chegou uma camisa de bloco. Todos os diretores do jornal ficaram ricos. 

O Blumberg mesmo, depois eu descobri, tirava todo mês R$ 300 mil de lá de dentro, recebia por fora de fornecedor e a família achava que colocar ele foi a melhor coisa que fizeram na vida. Ele [Blumberg] é um mentiroso. Mentiu o passivo da empresa para mim”, acusou. A confusão desta sexta-feira (4), na concepção do empresário, foi “orquestrada” por um ex-deputado federal (que não foi identificado pelo empresário), por Blumberg e dois acionistas. “Foi uma coisa que só acontecia na Ditatura Militar [a presença da família no jornal na sexta]. 

Eu nunca vi isso no Brasil. Um contrato firme, vigente, eles pegarem e entrarem dessa maneira. Invadiram uma empresa particular. Tinha um carro da PM lá que já era errado e, frise-se, o secretário de Segurança Pública [Maurício Barbosa] não sabia de nada. Quando soube, mandou o carro da PM sair”, relatou. Crezo classificou ainda as especulações de uma nova venda da empresa para o diretor da Bahiatursa, Diogo Medrado, como “absurda”. “Como é que eles querem vender o jornal duas vezes? O meu contrato está vigente. Eu conversei com o Diogo e disse que estava recuperando a empresa. 

O meu plano era, em dois anos, ter um jornal recuperado (veja aqui o plano feito pela empresa de Crezo). Todo mundo diz que ele [Diogo] ‘Está por trás disso’ [confusão com a família], mas eu não acredito”, afirmou. Uma solução pacífica para o problema, de acordo com Dourado, seria a família devolver os R$ 600 mil pagos por ele e devolver o dinheiro aplicado. “Depois de receber os 600 mil, o mínimo que eles poderiam fazer é devolver meu dinheiro para fazer o destrato e não como está. Eles dizem até que eu não pago os funcionários que saíram. É mentira, eu pago, mas em parcelas, como estava combinado”, alegou, ao revelar que “está triste com toda a situação”.  
 
Sede do jornal A Tarde | Foto: Divulgação

Após a entrevista, Crezo enviou ao Bahia Notícias documentos que provam os pagamentos foram efetuados à família (clique aqui e veja os documentos). Uma folha mostra ainda adiantamentos de publicidade pela empresa através das construtoras OAS e Odebrecht. Segundo o documento, a Odebrecht, por publicidade adiantada pagou R$3,6 milhões. Já a OAS, pelo mesmo serviço, injetou pouco mais de R$ 2 milhões no jornal. Em conversa “em off” com Dilson Santiago, um dos diretores do grupo (ouça o áudio abaixo), Crezo tomou conhecimento da estrutura deficitária do jornal. Além disso, o conglomerado, segundo a conversa, passou a ser sucateado com a chegada dos netos de Ernesto Simões Filho.

 “O velho Simões era milionário, tinha fazendas e mais fazendas aqui, Simões Filho era uma fazenda, Mata de São João também. O velho deixou muitos bens, muitos apartamentos, não só aqui. Administrava no Rio de Janeiro. A crise começou quando os netos vieram para cá. " O ano de 2010 foi o pior ano da empresa. Em 2012 lançaram o Massa!, que foi a maior burrada da empresa, perderam dinheiro e o jornal nunca se pagou”, revela Dilson em áudio divulgado por Crezo. O empresário questiona Dilson sobre a forma com que a empresa consegue sustentar a família, uma vez que “ela [a empresa] sangrou”. 

“O faturamento médio líquido era de R$ 900 mil, R$ 1 milhão. Todo mês esse dinheiro ficava lá, quando acontecia desse dinheiro vir para aqui era um tipo de empréstimo. Consegui acabar com isso metendo medo, demorou uns cinco anos. Daí então o dinheiro começou a vir para cá e a contabilizar, era um caixa 2. Comecei a botar medo. A família sangrou muito a empresa”, informou. Consta ainda na conversa uma declaração sobre um empréstimo feito pela Odebrecht. “Odebrecht emprestou [dinheiro] em 2012, mas esse dinheiro foi um adiantamento de publicidade. Em janeiro o faturamento [do jornal] foi 3,9 milhões, a gente faturava 8, 10 milhões. Nunca entendi como se fazia o orçamento e no orçamento nunca se colocou um percentual de investimento. A gente não tem controle de prateleira de almoxarifado. Então tem muitas coisas de errado aqui no ambiente familiar. Acabaram com muitos dos sistemas que eu criei, não sei como é que funciona”, concluiu. Após as revelações feitas ao BN, Crezo Dourado promete ainda liberar “uma ficha corrida” dos desmandos de André Blumberg. “É um bandido”, arrematou.