A Comissão é capenga pois só ouve um lado
Terra , Salvador |
09/04/2015 às 19:24
"Capa Preta" quer ser ouvido
Foto: DIV
Uma figura inusitada chamou a atenção no protesto do último dia 15 de março na Avenida Paulista, em São Paulo: em meio a partidários de uma autodenominada “intervenção militar constitucional”, um idoso de capacete com o símbolo do Exército posava para fotos com jovens e adultos, de terno e gravata, segurando um cartaz em tom jocoso: “Quero ser ouvido pela omissão da verdade”.
O alvo da ironia era a Comissão da Verdade, que, nos âmbitos nacional e estadual, vem, nos últimos meses, buscando a responsabilização de agentes que cometeram crimes na ditadura militar. O período bajulado, por sinal, é familiar ao dono do cartaz, o aposentado Carlos Alberto Augusto, conhecido como “Carteira Preta” da época em que havia sido agente no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). O órgão, um dos braços fortes de operação o regime militar, era para onde eram levados e torturados os presos políticos considerados subversivos.
Se depender dos manifestantes pró-intervenção no protesto do próximo domingo, o aposentado não apenas será recepcionado caso apareça novamente, como terá tratamento especial.
“Não o convidamos para o outro protesto, não temos contato direto com ele. Ele apareceu por um acaso – até por simpatia e por respeito às Forças Armadas que temos, nos demos ao luxo de colocá-lo no caminhão de som”, afirmou o microempresário Aparecido Duca de Almeida, 59 anos, um dos líderes do movimento SOS Forças Armadas. “Se ele aparecer novamente, vamos colocá-lo em cima caminhão, caso ele queira participar, até por questão de respeito”, definiu Almeida, que duvidara, inicialmente, da presença do ex-agente do Dops no carro de som do grupo, mês passado. Informado sobre vídeos, fotos e textos publicados pela imprensa sobre o manifestante, Almeida recuou: “No nosso caminhão? Ah, um senhor de idade? De capacete? Esse teve, se é esse senhor.”
Apesar da guarida ao ex-agente do órgão de repressão, o SOS Forças Armadas afirma-se como um grupo “extremamente democrático” e “contra golpe militar”.
“O PT está tramitando na Câmara Federal um projeto de lei para desarmar a Polícia Militar propositadamente – porque a ideia do PT é o projeto comunista e bolivariano de governar, e isso não aceitamos”, disse Almeida, que completou: “Somos a favor da democracia, tanto que, muito embora peçamos intervenção, não queremos a ditadura militar”.
Pelo projeto de “intervenção militar constitucional” proposto pelo grupo, militares deporiam a presidente e o vice, eleitos, assumiriam o poder e fariam o que eles chamam de “faxina na corrupção” – para, passados 90 dias, novas eleições democráticas serem supostamente convocadas.