Veja repercussão desse caso
G1 , Salvador |
07/02/2015 às 11:37
Vila Moisés onde aconteceu o 'confronto'
Foto: Mariana Silva
A Anistia Internacional afirmou, em nota pública divulgada nesta sexta-feira (6), que "relatos iniciais contestam a versão oficial da polícia militar e apontam indícios de execuções sumárias" na ação que resultou na morte de 12 pessoas suspeitas de assalto, na madrugada desta sexta, na Estrada das Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador. A ação também deixou cinco feridos, entre eles um policial.
Segundo a nota, há relatos que contestam a versão da polícia de que o grupo de homens estaria a caminho de um assalto a banco quando foram abordados pelos agentes. A Anistia afirmou que "espera que o governo baiano realize uma investigação minuciosa, independente e célere da operação policial da Rondesp (Rondas Especiais)".
12 morrem em tiroteio
com a PM em Salvador
Ainda de acordo com a nota, ao longo dos últimos meses, a Anistia tem recebido denúncias sobre a "abordagem abusiva" da Rondesp, com relatos de uso excessivo da força, desaparecimentos forçados e execuções sumárias.
Um dos casos citados é de Davi Fiuza, adolescente de 16 anos, que desapareceu no dia 24 de outubro de 2014, no bairro de São Cristóvão, na capital baiana. Ele sumiu depois de supostamente ter sido abordado por policiais militares da Rondesp e do PETO (Pelotão de Emprego Tático Operacional).
Por fim, a Anistia Internacional pede que as autoridades "tomem as medidas necessárias para garantir a segurança imediata dos moradores e proteger testemunhas e os sobreviventes".
Policiamento reforçado
Depois das mortes, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) anunciou o reforço do policiamento da Estrada das Barreiras, na tarde desta sexta-feira (6). A preocupação é direcionada para uma possível tentativa de retaliação da criminalidade ou para um confronto entre quadrilhas rivais que percebam a fragilidade do grupo.
De acordo com investigação policial, nove dos 15 atingidos têm passagens pela polícia e alguns são ex-presidiários. Os nove policiais envolvidos na ação entregaram as armas de forma voluntária e, segundo a polícia, não serão afastados.
"Não houve determinação do comando geral ou da SSP com relação ao afastamento, até porque a ação foi legítima por parte dos policiais militares. Não objetivamos o confronto, mas estamos preparados para caso ele aconteça", disse o major da PM Agnaldo Ceita. "Reagimos de modo proporcional à reação injusta sofrida pelos policiais militares", completou.
Confronto
Segundo a polícia, o confronto foi iniciado após os policiais da Rondesp perceberem seis homens de mochilas, o que despertou desconfiança inicial, até que o grupo saiu correndo ao encontro de mais 30 homens, que teriam iniciado os disparos.
Além disso, a polícia diz ter apreendido com os suspeitos 12 armas de fogo calibre.38, 1 pistola calibre.40, outra pistola calibre .45, 1 espingarda calibre .12, dois coletes balísticos, além de 3 kg de maconha, 1,2 kg de cocaína, 300 gramas de crack, além de diversos uniformes camuflados parecidos com as roupas usadas no Exército.
Parentes de vítimas
"Eles estavam no ponto [de tráfico], [os policiais] renderam e mataram". A versão é do irmão de uma das 13 pessoas mortas durante ação de policiais militares na Vila Moisés, Estrada das Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador, na madrugada desta sexta-feira (6). Quatro pessoas, entre eles um PM, ficaram feridos na ação - desses, dois suspeitos estão internadas em estado grave de saúde e mais dois receberam alta, entre eles, o policial.
De acordo com jovem de 24 anos, que não será identificado por questão de segurança, o irmão tinha 18 anos e tinha envolvimento com tráfico. "Essa história de assalto a banco é mentira. Eles, realmente, estavam no ponto [de venda drogas] e se renderam com a chegada da polícia", contestou o posicionamento da PM, que disse ter recebido denúncia de que o grupo planejava assaltar um banco da região.
O irmão do jovem relata, ainda, que três dos suspeitos conseguiram fugir e se esconderam num matagal, sendo encontrados pela polícia por volta das 8h e também mortos. "Ele morava com a avó. Não vou dizer que meu filho era santo, mas o que a polícia fez foi covardia", disse o pai do jovem sobre o caçula de 10 filhos. Ele disse que os crimes podem ter sido cometidas em vingança pela morte de um coronel na região, há cerca de um mês.O irmão do adolescente disse que o jovem de 18 anos morava com a avó, que está viajando e ainda não foi informada sobre o caso. "Ela vai sofrer muito. Eles eram muito apegados. Por incrível que pareça, ela ligou hoje perguntando se algo tinha ocorrido. Disse que estava sentindo um mal estar. Ela sentiu, mesmo de longe", comentou.
A noiva do irmão da vítima disse que uma irmã dele, que mora na Suíça, soube do envolvimento dele com as drogas e já planejava a ida dele para o país. "Pena que não deu tempo", desabafou.