Direito

Sindicato quer apuração de cansaço relatado por piloto de Campos

Veja as informações do G1
G1 , RJ | 14/08/2014 às 17:42
Piloto disse que estava exausto de tanto voar
Foto: Facebook
O Sindicato Nacional do Aeronautas (SNA) quer que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apure se o cansaço relatado pelo piloto Marcos Martins  na internet pode ter sido uma das causas do acidente ocorrido com o avião que caiu em Santos na quarta-feira (13).
 
A queda do jato Cessna 560 XL matou o candidato à presidência Eduardo Campos (PSB), piloto e co-piloto e quatro membros da campanha do presidenciável. Ao todo, sete pessoas morreram.

O sindicato informou que irá encaminhar ao órgão da Aeronáutica o texto que Martins postou no Facebook se dizendo “Cansadaço”, cinco dias antes do acidente com a aeronave.

“Ainda não sabemos se os pilotos que morreram estavam trabalhando acima dos limites”, afirmou ao G1, Rodrigo Spader, diretor da Secretaria de Regulamentação e Convenção Coletiva do Sindicato Nacional do Aeronautas (SNA).

Em 8 de agosto, Martins escreveu no seu perfil na web: "Cansadaço, voar voar e voar . E amanhã tem mais". O comandante tinha perfil ativo na rede social e fazia comentários com frequência sobre sua rotina e viagens.

Nos últimos meses, Martins também compartilhou fotos das viagens que fez como piloto do presidenciável Campos, relatou saudades da família e, em diversas publicações, lamentou, em inglês, a jornada de trabalho. “Working hard”, escreveu nos dias 1º e 5 de agosto.

Carga de trabalho

Segundo o diretor Rodrigo Spader, do SNA, profissionais envolvidos em campanhas costumam ter rotinas pesadas. “Sabemos que em época eleitoral o piloto voa muito e o dia a dia é bastante cansativo”, disse.

De acordo com o sindicalista há relatos de que a fadiga pode contribuir para acidentes aéreos. “Existem já exemplos comprovados de acidentes onde a fadiga foi fator contribuinte. Cerca de 20% dos acidentes são decorrentes da fadiga e cerca de 90% o fator humano está presente”, afirmou Spader.

“Um piloto que tem jornadas extensas sem o descanso adequado pode cometer erros de julgamento. É uma questão de fisiologia. Um piloto, aliás, qualquer pessoa, que trabalhe por cinco madrugadas seguidas, que é possível pela nossa lei atual, com certeza não está em suas melhores condições para exercício da sua atividade”, disse o diretor.

Segundo o sindicato, por lei um piloto tem limite de 11 horas de jornada, com 12 horas de descanso. “Estamos em paralelo buscando alterações na legislação de forma a prever estes pontos na lei para aumentar a segurança de voo”, disse o diretor sobre o projeto de lei 434/11.

De acordo com ele, o texto do projeto foi aprovado em primeiro turno na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal. “Este projeto é fundamental para que os níveis de segurança da aviação brasileira sejam aumentados”, afirmou Spader.
“A legislação atual é completamente defasada e em alguns pontos coloca em risco as operações”, concluiu.

Conjunção de fatores

Especialista em segurança e amigo de Martins, Ricardo Chilelli afirmou à equipe de reportagem que ouviu do comandante que ele estava cansado por causa do trabalho.
"Falei com o Marcos por telefone na terça-feira [12]. Ele estava pousado no Rio e reclamou que estava muito cansado em função da agenda do candidato”, disse Chilelli. "Mas isso por si só não derruba aeronave nenhuma”.

Piloto particular, engenheiro aeronáutico e sócio proprietário da RCI First-Security and Inligente Advicing, empresa de segurança no voo nos Estados Unidos, Chilelli falou que a hipótese mais provável para a queda seja uma conjunção de diversos fatores.
"Todo acidente aéreo é uma conjunção de fatores. Só tem duas exceções: atentado ou ato voluntário. Tirando esses dois, desconheço no mundo que acidente seja uma única razão", disse Chilelli. "Cansaço do piloto pode ter tido participação nisso, assim como o tempo, questão meteorológica, problema mecânico e outras coisas".