Que locura. Onde se menos espera acontece.
A Tarde , Salvador |
25/10/2013 às 10:54
Propinoduto no TRE da Bahia
Foto: A Tarde
O servidor público responsável pelo setor de prestação de contas dos partidos políticos no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-Ba), Joseph Rodrigues, está sendo acusado de extorsão pelo deputado estadual Angelo Coronel, tesoureiro do PSD. Coronel denunciou o caso ao Ministério Público Federal (MPF) na quinta-feira junto com uma gravação de vídeo na qual Joseph aparece recebendo dinheiro (seriam R$ 28 mil) para, supostamente, preparar prestação de contas do PSD.
O servidor nega as acusações e diz que irá se pronunciar, por escrito, nesta sexta-feira, 25. A presidente do TRE, Sara Brito, diz que irá abrir procedimento investigativo para apurar o caso .
No TRE, os documentos de prestação de contas anual de partidos (relativa ao fundo partidário) passam pelo setor onde Joseph trabalha para receber parecer por aprovação ou rejeição, antes de serem levados ao pleno do TRE.
Tratativa - A TARDE teve acesso ao vídeo de 20 minutos, gravado com uma câmera escondida na última terça-feira no gabinete do deputado Angelo Coronel, na Assembleia Legislativa. As imagens mostram dois assessores de Coronel - Antonio Andrade e Marcio Barreto - conversando com o servidor do TRE.
Eles pagam uma quantia em dinheiro a ele, que conta as notas. Joseph diz que, após o adiantamento em dinheiro, as parcelas mensais serão de R$ 2 mil. Ele afirma ter uma empresa que prepara prestações de contas de partidos, inclusive pelo interior, e que já teria servido a clientes como o DEM, PRP e o PSOL - deste ultimo, não teria cobrado dinheiro para "ajudar" na elaboração do documento.
Ele também dá a entender que, quando os processos não estão nas suas mãos, pode influenciar assessores ou conseguir informação sobre o teor dos pareceres eleitorais. Avisa, porém, que o pedido tem de ser feito com antecedência "porque lá existem procedimentos".
Num momento da conversa, um dos assessores do deputado diz que há um processo que será julgado e que a preocupação é a de "o pessoal bater o martelo". Ao que Joseph responde: "Eu vou olhar que processo é esse e vou te ligar. Vou ver como é que o relator vai agir, posso falar com ela", diz, referindo-se, sem citar nome, a uma assessora do "Dr. Saulo (Casali)", juiz do TRE .
A TARDE procurou Joseph Rodrigues no TRE. Ele não quis falar, a princípio, mas atendeu a reportagem por telefone, já fora do prédio, e negou todas as acusações. "Não existe qualquer tipo de tratativa para atender resultados de pareceres. Eu não vou falar hoje (quinta), mas amanhã (sexta) estarei me pronunciando por escrito", disse.
Alerta - O TRE divulgou nota onde informa que "ainda não recebeu nenhuma comunicação formal dos fatos e, quando receber, será feita a devida apuração". A TARDE apurou que a presidente Sara Brito irá abrir procedimento investigativo nesta sexta, 25, pela manhã para apurar o caso.
A nota diz, ainda, que "a notícia causou surpresa, tendo em vista o padrão de excelência e a credibilidade de que sempre gozou o servidor na Justiça Eleitoral do Estado". Joseph é funcionário público concursado e está há mais de 8 anos na Justiça Eleitoral.
Ele se tornou referência na área de prestação de contas de partido e campanha eleitoral. Pessoas entrevistadas pela reportagem no TRE se disseram surpresas com a notícia visto que Joseph sempre gozou de reputação ilibada.
Questionado por A TARDE sobre por que seus assessores conversavam com Joseph em seu gabinete, o deputado Angelo Coronel disse que os assessores souberam de um técnico que prestava assessoria técnica para elaboração das contas - que o PSD procurava. Mas quando descobriram que se tratava do responsável pelo setor no TRE, informaram a Coronel o fato.
Por sua vez, o deputado narrou o caso ao vice-governador e presidente estadual do PSD, Otto Alencar. Otto teria tentado marcar audiência com Sara Brito por duas vezes para alertá-la do fato. Uma no Tribunal de Justiça e outra no TRE. Mas não houve retorno. "Por isso resolvemos ir ao Ministério Público", diz.
Ele explica: "Se ele (Joseph) oferecesse um serviço que fosse de outra natureza, tudo bem. Mas sendo funcionário do orgão e responsável pela análise de contas, era completamente errado. Isso mancha a imagem do TRE. Cumpri minha função de ouvidor", diz o deputado, que ocupa o cargo na Assembleia.