Em pouco mais de cinco horas de acusação, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tentou provar nesta sexta-feira (3), no segundo dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que o mensalão existiu, servia para comprar apoio ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tinha como líder o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Gurgel usou termos fortes para definir o mensalão, disse que "é o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público já flagrado no Brasil".
Para o procurador-geral da República, Dirceu era o "líder do grupo". Ele "foi a principal figura de tudo o que foi apurado. Foi o mentor da ação do grupo e seu grande protagonista". E disse ainda que tudo passava pelo ex-ministro, que sabia de todos os atos ilícitos cometidos pelos seus subordinados. "O que interessa, e está presente nos autos, é que houve acordo político associado ao acordo financeiro", disse Gurgel.
Gurgel admitiu, no entanto, que faltam provas contra o petista. "O autor intelectual nos chamados crimes organizados age entre quatro paredes. Não envia mensagens eletrônicas, não assina documentos. Atua por meio dos chamados ‘laranjas' (...) Como quase sempre ocorre com os chefes de quadrilha, o acusado (Dirceu) não apareceu ostensivamente nos atos da quadrilha", afirmou o procurador.
Ainda segundo Gurgel, o volume de recursos era tão grande que os integrantes do grupo contratavam carros-fortes para transportar o dinheiro. "Tão intensa era a movimentação de recursos, e recursos tão grandes, que ora se contratavam policiais para proceder os saques em dinheiro, ora se recorria à contratação de carros-fortes. Alguns dos saques feitos pela quadrilha tiveram carros-fortes, tamanha a magnitude dos valores. Fossem lícitas essas operações, por que fazê-las todas ao largo do nosso sistema financeiro e bancário?", questionou Gurgel.
Em vários momentos, o procurador reafirmou a existência do mensalão, que, segundo ele, foi o "mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público" da política nacional. Na primeira metade de sua sustentação, no Supremo Tribunal Federal (STF), Gurgel citou o papel de cada integrante do esquema, mas sempre dando destaque à atuação de Dirceu.
O procurador ainda rebateu críticas dos advogados dos réus que figuram no processo, que consideraram o mensalão "uma criação de delírio". Segundo ele, o mensalão foi montado em 2003, logo no início do primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para cooptar apoio político. "Maculou-se a República, instituindo-se à custa do desvio de dinheiro público, um sistema de movimentação financeira à margem da legalidade, com o objetivo de comprar o voto de parlamentares em matérias relevantes para o governo".