Esse é um conto natalino de TF para deseja um bom Natal, o advento do sol invictus, hoje, desde o cristianismo adotado pelo Império Romano, JC
Tasso Franco , da redação em Salvador |
25/12/2025 às 13:43
Papai Noel comeu o peru da madame e deixou dois chineles de presente
Foto: BJÁ
CONTO DE NATAL
Uma noite encantadora de Natal aconteceu na casa do comendador Fontoura com troca de presentes, espoucar de champagnes, missa do galo pela TV, comilança e o esperar o dia seguinte, o 25 do advento de Jesus, para ouvir o galo cantar no raiar do dia.
Residente no Morro do Gato o comendador era só alegria. Mas, como vocês sabem, a idade avançada do distinto senhor não permitiu que ele acompanhasse o clarão do dia e a horas tantas, creio, por volta das duas da madrugada, convidou a esposa a um canto da sala repleta de familiares e amigas e disse, sem rodeios, já com os olhos pesados de sono, uma névoa encobrindo seus óculos, que iria a cama descansar um pouco, repor energias e que o acordasse na hora em que o galo começasse a cantar.
Palavras dele ditas a senhora O: - Há, no Ipiranga, morro à nossa frente – apontou para o local – na residência da madame Consuelo um pequeno criatório de galinhas poedeiras e um galo cantador, ouço-o sempre, e creio que nesta madrugada não há de negar fogo.
A senhora O, que já conhece de sobra o esposo, e também estava a completar bodas de Pinho, concordou com o que ele lhe falou, organizou um local para por o cavalete de pinturas que a neta Sol dera a Fontoura, e sem querer querendo respondeu que ao primeiro canto do galo o acordaria, pois, ela e as amigas - a professora, a licorista, a médica, a modelo, a arquiteta - iriam seguir na jornada madrugada à frente de olhos abertos entretidas no vinho e na champagne, nos pães delicias, nos quibes e tortas que haviam na mesa retangular da sua casa, repleta de comidinhas deliciosas, entre tais, um peru assado e ainda virgem em garfadas.
O comendador se rrcolheu ao quarto em passos de cisne bailando com o sono, e em instantes, ao que confessou a senhora O a neta, já estava a ressonar.
- Merecido sono – dizia ela as amigas. Hoje, trabalhou demais na escrita, na pintura e no ajudar da organização do nosso jantar, foi buscar os pães na padaria, temperou a gosto o peru e vigiou- por horas no forno, preparou a salada e o vinagrete.
A neta Sol desconfiou desse enredo, pois, conhecendo o avô como conhece, o máximo que teria acontecido, foi a busca dos pães no Pulo do Gato, a mercearia do bairro.
No decorrer da madrugada o cansaço parece ter pego a todas as amigadas da madame O que, por volta das 4 de manhã, foi fazer companhia ao comendador, ao que se registra, em sono de cruzeiro.
A tantos minutos mais, poucos que foram, dia amanhecendo ou coisa parecida, ela já acomodada ao lado do comendador, de bandinha, acariciando seus cabelos brancos, ouviu algo estranho na casa, um zumbido, um pisar de gente, e latidos do cão Boca, guardião da rua, que parecia impaciente.
Estirou o dedão do pé direito e deu uma unhada na perna do comendador, apavorada, exigindo que ele acordasse pois algo de errado estava se passando em sua residência.
O comendador se revirou na segunda unhada e respondeu a madame - O que ouço são latidos de cão e não cantos de galo, portanto, não me levantarei. Quero paz.
Aos poucos o cão parou de latir, mas, a madame O, sentia nas suas narinas com ângulos árabes cheiro do peru assado e tilintar de garfo e faca, mas, resignada, seguiu na cama em busca do sono e este chegou com vontade, creio, embalado na champagne.
Ao acordar, por volta das 10 horas do dia santificado do Natal, encontraram no gabinete do comendador, dois pares de chinelos mouriscos, um bilhete do Papai Noel preso no rosto do chinelo branco com agradecimentos pelo delicioso peru que experimentou com o resto da champagne que encontrou sobre a mesa.
No bilhete, em inglês, o Papai Noel dizia que chinelos bons para idosos são os do tipo mouriscos ou baianos changrins, nunca havaianas ou ipanemas de tirinhas.
O comendador tomou um banho de água quente, orou na manjedoura do menino Jesus, calçou o changrim marrom e foi até o Pulo do Gato comprar pães de milho para o café da manhã.
Por lá, soube da polêmica dos chinelos, a guerra dos chinelos encetada entre a direita e a esquerda no país, que ninguém aguenta mais de tanta baboseira, cancelamento e idiotices, e ouviu Mr H, o proprietário da casa, contar ao jurista GB já abraçado a uma skol em lata, que Papai Noel visitara o Morro do Gato na madrugada, andou comendo peru nalguma casa, dera as asas assadas ao cão Boca e levou-o consigo para a Lapônia, de trenô, claro, supersônico.
O comendador ouviu toda aquela conserva em silêncio e no retorno para a casa, que fica perto, arrastando os chilenos, com passos de velho, ouviu o galo de dona Consuelo cantar. Galo de canto tardio. Feliz Natal, ho ho ho.