A música, o cinema, o jornalismo, a fotografia e a literatura que moldaram os primeiros tempos da sociedade serrinhense
Tasso Franco , Salvador |
20/11/2025 às 10:53
Um painel das atividades culturais
Foto: BJÁ
10. AS ATIVIDADES CULTURAIS
Uma coisa puxa a outra. Já que falamos de comunicações – a social e a tecnológica – fala, escrita, imagens, sons, etc, integrantes desse universo - vamos complementar o tema com um capítulo adicional que abordará as atividades culturais que são as irmãs, primas, parentes das comunicações. Falaremos da música, do teatro, do cinema, da literatura, da imprensa, da arte visual, os movimentos que existiram em Serrinha no tempo dos meus avós (1880-1960).
Nesse capítulo, veremos que o sertão antes de virar mar como previa o catastrófico Antônio Conselheiro, pelo menos no campo da cultura estava antenado com o que se passava no Ocidente apesar de todos os problemas que enfrentava como a seca, a fata d’água e energia e outros meios para sobreviver com dignidade.
O período que abordamos experimentava a III Era Industrial e os aviões já voavam nos continentes, a energia atômica já tinha siso experimentada, os antibióticos já completavam 30 anos no mercado, enfim, o “sapiens” tinha um novo conforto em moradias e alimentos.
O que causa certa admiração é como Serrinha conseguiu no final do século XIX (1896) fundar a Sociedade Cultural Filarmônica 30 de Junho e uma Orquestra de bandolins e violinos constituída por mulheres, a Lyra de Ouro. É algo que parece inacreditável numa vila em que o transportes mais usado era o burro e a carroça, a água era de tanque e a luz de candeeiros.
Estamos falando de uma sociedade musical, do estudo da música, do aprendizado da música por jovens que só conheciam a cultura da roça, da lavoura, o ensino básico escolar era raro e a alimentação precária.
A cidade tinha apenas 5 anos de existência desde que se criou o território municipal desmembrado de Irará, em 13 de junho de 1876 (ainda no Império), mas até 30 de junho 1891 seguiu na condição de vila já com a intendência de Mariano Silvio Ribeiro (1890/1893) em andamento e com a mudança de regime imperial para republicano.
O relevante a destacar é o altruísmo de um grupo de pessoas, à frente os descendentes de Bernardo da Silva – fundador do povoado, a partir de 1723 – Júlio Paes e Moisés Alves, Aurélio Dionísio da Silva (1º presidente), Rogério Alves da Silva, Estefânio Pedreira de Freiras e Antônio Pinheiro da Mota que organizaram a formação da entidade.
Os primeiros movimentos, provavelmente se deram a partir de 1895 com as reuniões, constituição do estatuto, eleição da diretoria, contratação de um maestro (Cazuzinha) que importaram de Alagoinhas, enfim, todo um trabalho preparatório.
Isso, em parte, só foi possível graças ao trem que facilitou a compra dos instrumentos em Salvador, a embarcação deles acomodados em caixotes de madeira na Estação da Calçada e desembarque na gare do trem em Serrinha, daí até a sede da futura filarmônica levados em carroça, a seleção dos alunos e o ensino da música.
Ninguém sabia nada de música e o maestro Cazuzinha trouxe de Alagoinhas cadernos de música e algumas partituras. Primeiro foram dadas aulas teóricas para compreensão das notas musicais, a posição delas nas linhas (pauta), os compassos, o significado do que era uma mínima, uma semínima e uma colcheia, etc, a seleção dos jovens por naipes de acordo com tamanho, composição física, mãos, lábios, etc, e a partir daí (meninos com lábios mais grossos e estruturas corporais mais fortes) nos trombones, tubas e bombardinos, etc, e a familiaridade com os instrumentos.
Um trabalho que demora no mínimo entre 6 meses a 1 ano até que os grupos (naipes) de clarinetas, trompetes, trombones, etc, pudessem tocar em conjunto formando a fila harmônica (daí o nome Filarmônica), aquela que toca com harmonia, dentro dos compassos e sem desafinar.
Um desafio maior foi ensinar mulheres a tocar bandolim e violino instrumentos que são difíceis de serem executados e demoram no mínimo 1 ano para dominar o básico. Eu toco bandolim e sei o que isso significa.
Um grande júbilo aconteceu quando a banda se apresentou pela primeira vez indo a praça principal da cidade, ainda sem o coreto, para se revelar ao público com fila de três, as tubas à frente e no final os músicos que executavam pratos, bombo e caixa, a marcação. Quem toca sabe que na partida para a banda começar a andar, quando o maestro dá o sinal com a vareta é o bombo que marca o primeiro passo dado com o pé direito.
Não há registro oficial do primeiro concerto, mas já na primeira década do século, a 30 se apresentava em Serrinha, Alagoinhas, Queimadas, Bonfim, Juazeiro. Isto é, na linha do trem.
Ademais, o maestro Cazuzinha organizou a Banda Lyra de Ouro (bandolins e violinos) constituída por mulheres, o primeiro exemplo prático de como se introduziu o feminismo na cidade (final do século XIX), que, hoje, as feministas esquerdistas de araque não falam, não lembram delas, nem citam e conhecem essas heroínas numa época em que a mulher não votava, a mulher só frequentava os ambientes sociais acompanhadas dos maridos e pais, até para ir a lojas e as missas.
E, de repente, eis mulheres aprendendo música, formando um grupo independente, altivo e dizendo em alto e bom som ao machismo, “aqui quem manda somos nós”.
Palmas para o maestro Cazuzinha que fez isso tudo e hoje é um ilustre desconhecido da Serrinha, assim como outros maestros como Vianinha e Luís.
O curioso é que meu avô paterno um roceiro inveterado, nunca fez parte da diretoria da 30, nem tocou qualquer instrumento, porém, quando meu pai nasceu, em 1910, minha avó Roza de Lima Coutinho que era da cidade disse que na roça não ficaria e ele comprou uma casa na praça Manoel Victorino (hoje Luís Nogueira), nas proximidades do atual Shopping Freitas, e vieram morar na cidade. Claro que ele ia e vinha montando num burro toda semana para cuidar dos seus negócios.
A casa ficava perto da sede da Philarmônica e meu pai, Braulio Franco, desde criança ouvia os ensaios da banda e as apresentações na praça. Então, ainda jovem, 10 a 15 anos, aprendeu a tocar clarineta e flauta e passou a integrar a banda. Em 1932, na foto da diretora, está ao lado do meu avô materno (João) e Miroró (irmão de Joãoi), além de outros integrantes da diretoria.
A 30 de Junho teve altos e baixos em sua existência, mas, nunca fechou de vez. Passou por momentos politizados, o PSD de André Negreiros Falcão quis se apoderar, José Vilalva, prefeito ligado a André, sempre teve algum apoio da Prefeitura para sobreviver e enfrentou sua pior crise nos anos 1960/1970.
Deve-se a José Ramos de Menezes e a Epifânio de Menezes (Simão) o soerguimento da 30. Diga-se de passagem, que Zé Ramos foi o negro serrinhense que criou o primeiro clube social da cidade – “Só falta Você” – juntamente com sua esposa Marieta Esmira dos Santos, que nasceu como cordão carnavalesco em 1942 e tinha sede dos seus bailes a 30 de Junho.
Mas Zé Ramos não se apoderou da sede da 30 como fizeram com a ACS e foi honesto em separar as coisas, a 30 era um patrimônio da cidade (e ainda é) e o “Só Falta Você” uma associação de negros, mestiços, artífices, pedreiros, carpinteiros, operários, o que foi um fato de relevante importância quando não existiam movimentos negros organizados na Bahia, salvo exceções.
Em 19 de abril de 1996, a entidade completou 100 anos de existência e meu pai foi homenageado como presidente de honra com foto descerrada pelas netas Thais e Thiana e a presença dos seus filhos, diretores, autoridades municipais e concerto. Ele, infelizmente, não viu a festa porque faleceu em 1994.
A 30 do tempo dos meus avós segue sua missão, continua em atividade e é a instituição cultural mais antiga de Serrinha, com escola de música, biblioteca e inúmeras atividades culturais.
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Outra atividade cultural da cidade iniciada no inicio do século XX foi o teatro e nasceu graças ao esforço de uma mulher descendente da família Bernardo da Silva, chamada Jesuína Paes Cardoso (Pipe), filha do fundador da 30 de Junho, Júlio Paes.
Diz-se que os filhos vão puxando aos país, nas profissões e nas artes. Isso é real. Era famoso, já no inicio do século XX, o presépio natalino da família visitado por muitas pessoas, e também uma apresentação tipo baile pastoril, conhecido como as pastorinhas, herança da cultura ibérica.
Essas apresentações pastoris quando meu pai tinha 1 ano de idade e minha mãe ainda não havia nascido, meus avós observavam esse movimento, mas, não participavam diretamente. Meu avô João Paes, primo de Pipe, somente no final da década de 1920, quando minha mãe estava com 10 anos de idade, integrou como figurante (ela e sua irmã Celina) na peça “Criadinhas de Alto Lá”, exibição que aconteceu no armazém do coronel Nenenzinho, improvisado com o nome de “Teatro Carneiro”.
Era teatro amador e Pipe, em 1926, criou o Grupo Democrático 13 de Maio, e apresentou a peça “A Ralhadeira”, uma comédia organizada por ela com cenário de Zizinho Gonçalves.
Vocês podem imaginar, passados mais de 100 anos desses movimentos culturais a repercussão que tinha na cidade, como eram divulgadas as informações dos eventos teatrais em cartazetes na praça, os ingressos como eram vendidos, etc, a arrecadação da maioria dos espetáculos doada a 30 de Junho.
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Outra atividade cultural era o cinema, que se iniciou com apresentações na casa de Pipe (casada com José Nunes Oliveira), em 1910, cinema mudo, restrito a família e amigos.
O primeiro cine-teatro foi inaugurado em 1918 na Rua Virgílio Damásio, com a exibição do filme “Bigodinho Tem Dente”.
Na década de 1930, inaugurou o cine-teatro Glória, primeiro cinema falado da cidade, que funcionava na Igreja Batista 15 de novembro, na antiga Rua da Estação. Tinha dois ambientes: cadeiras na frente e bancos de madeira no “galinheiro”.
Virou um modismo em Serrinha entre as décadas de 1930-1950 os cine-teatro e Juca Campos o grande incentivador e investidor nesse segmento. Existiram o Cine Teatro Confiança (Rua Barão de Cotegipe), Cine Teatro Pérola (especializado em cowboy), Cine Teatro Serrinha, Cine Teatro Comercial e Cine Teatro Astro.
Alguns desses locais eram improvisados como na Igreja Batista e em armazéns de cereais, como foram os casos de José Gonçalves e Emilio Ferreira, porém, o Cine Teatro Serrinha, que pertenceu ao Grupo Cavalcanti, já explorava cinemas na Bahia.
Essa cultura do cinema durante o tempo dos meus avós (1880-1960) durou algo em torno de 40 anos ou mais um pouco, entre 1910 a 1955, que influiu diretamente no comportamento das pessoas, na maneira de se vestir, na moda, na dança na cultura de uma forma geral, evidente, sem perdermos a nossa originalidade dos vaqueiros e das vestes em couro, nos anos entre 1910 a 1930 com forte influência europeia, especialmente da França; e a partir do final da Segunda Guerra mundial dos Estados Unidos, quando o cinema foi invadido pelas películas norte americanas, especialmente os filmes de cowboys.
Cowboys do norte eram diferentes dos nossos vaqueiros assim como os colonizadores do Oeste americanos que usavam ternos encorpados e gravatas estilizadas, coletes e até cartolas, uma vez que por lá eles tinham que usar essas vestes porque o inverno e boa parte do ano fazem muito frio e nevava em alguns lugares.
Também os índios deles eram diferentes dos nossos, mais fortes, alguns com enormes penachos e mantas, tendas em couro, cavalos bem nutridos, e além de flechas usavam rifles de repetição.
Tudo isso mexia com a cabeça dos serrinhenses da classe média e da elite, que majoritariamente frequentavam os cinemas, mas, também por outras camadas da população, mais pobres, que adoravam (e assistiam) os filmes de cowboy com John Wayne, Tom Mix e outros.
Lembro que meus amigos dos anos 1950, meus avós já idosos, aprendemos a nadar – nós e muitos outros meninos da Serrinha – nos açudes da Bomba e do Gravatá e íamos para um recanto chamado sangradouro da Bomba, nos Treze, aprender a nadar no estilo cachorrinho segurando numa pedra. Os mais velhos ensinavam aos mais jovens, garotos de 7 a 10 anos, como eu, e ia soltando as mãos da pedra e batendo na água como cachorros.
Daí, a evolução era nadar como Tarzan, aquele homem branco que vivia na África e a gente via no cinema nadando mais rápido do que um crocodilo, e pedia aos mais velhos: “Eu quero nadar como Tarzan, de braçada”. E o “instrutor” mostrava primeiro fora da água como movimentar os braços e depois na água mandando bater bem os pés e ter força dos braços.
Pronto: era assim que se aprendia a nadar como Tarzan, influência do cinema. Serrinha não tinha crocodilos nem leões que Tarzan matava-os. O importante era aprender a nadar como Tarzan. Tinha uns moleques que nadavam de costas, outra arte.
Meus avós não sofreram essa influência e não aprenderam a nada. Eles e centenas de outros serrinhenses.
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A música e a dança no tempo deles, quando os bailes ainda eram na Prefeitura e ou nos saraus em algumas casas, dançava-se valsa, a mazurca, a polka, a contra dança e embora o bolero tenha surgido em Cuba no final do século XIX, só chegou em Serrinha nos anos 1940. Tudo isso, em parte era copiado do cinema.
Assim como as orquestras populares que surgiram no século XIX, e já mostramos que a filarmônica 30 de Junho data de 1896, daí os músicos e os maestros criaram com naipes de 3 ou mais sax, 3 trompetes, 3 trombones, bateria, percussão e crooner (vocais), em parte, imitando o que se via no cinema a partir da popularização das big bands de Glenn Miller, Duke Ellington, Benny Goodman, que surgiram nos EUA nas décadas de 1930/1940. Depois, nos anos 1950, muitos imitaram a orquestra de Peres Prado que tocava mambo.
As orquestras locais nesse gênero mais famosas no tempo dos meus avós foram a Colombo e a Azevedo.
Também a moda foi influenciada pelo cinema: as mulheres vestiam longos até no dia a dia e os homens, nos momentos festivos, usavam jaquetões, smokings e chapéus de feltro. No comércio, algumas lojas vestiam os vendedores à moda francesa com camisas brancas de mangas curtas e gravata, alguns com quepes estilizados.
Meu avô, o roceiro Jovino, nunca usou nada disso. Seu traje preferido era botas roló, calça caqui e camisa; e meu avô João era mais citadino e usava ternos, eventualmente. Minha avó Roza adorava um longo e minha vó Eleonor era mais informal. Mas, pouquíssimo andavam pelas ruas da cidade. Meu pai, nos anos 1930, usou muita boina à moda francesa e possuía ternos de linho. Eu, que nascei em 1945, experimentei bastante a influência do cinema, pois a TV só chegou a cidade nos anos 1960 e eu já tinha me mudado para Salvador e meus avós estavam no céu.
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Outras atividades culturais foram a literatura, o jornalismo, a fotografia e as artes plásticas. Os três primeiros caminharam juntos e entrelaçados ainda que com propósitos diferenciados. A fotografia esteve ligada ao jornalismo, porém, o modus de sustentação dos fotógrafos era trabalhar em eventos familiares – casamentos, batizados, aniversários, álbuns de famílias e outros.
O século XIX é considerado uma época de ouro da literatura quando surgiram o romantismo, o realismo, o naturalismo, o parnasianismo e o simbolismo e se destacaram (e foram muito lidos no Brasil no decorrer do século XX), os escritores europeus, os russos e os norte-americanos, e também os brasileiros como Machado de Assis, José de Alencar, Castro Alves, Gonçalves Dias e demais.
Os autores franceses Victor Hugo, Alexandre Dumas e Alfred Musset eram devorados. Os russos Alexander Pushkin, Fiodor Dostoievski, Liev Tolstoi, Anton Tchekhov leitura obrigatória da elite ocidental.
Mas como meus avós e a população de Serrinha do final do século XIX, quando eles eram jovens, e até meados do século XX, poderiam desfrutar desses livros até mesmo os nacionais se a vila e a cidade não tinham biblioteca, o ensino até 1952 só se dava no nível primário, não havia grupos de leituras e nada exista nessa direção?
Simplesmente eles não tiveram conhecimento desses movimentos literários e dos autores, salvo exceções de alguns letrados que estudavam em Salvador a traziam livros nas bagagens nos momentos de férias.
Esse cenário foi se modificando um pouco no final dos anos 1910 quando Reginaldo Ribeiro e o advogado Aristóbulo Gomes inauguraram o “Jornal de Serrinha”, em 12 de outubro de 1917. Semanal, 4 páginas, modelo tabloide 25 cm x 35 circulou durante 2 anos ininterruptamente. Mas, não foi o único, em 1915, surgiu “A Tesoura”, jornal satírico, humorístico, politicado, escrito pelos redatores Eu, Tu e Elle.
Era o “Jornal de Serrinha” que trazia as informações culturais da cidade, do Brasil e do mundo. Em outubro de 1918 comentava: “O Club Adeptas a Philarmônica 30 de Junho realizou uma festa para a qual concorreu o gosto artístico das exmas senhorinhas sendo objeto a oferta de um excelente piano para o club () Seguiu-se uma serenata que se prolongou até alta madrugada com serviços de buffet e buvette (pequeno bar)”.
É este jornal que vai publicar os primeiros poemas de serrinhense e outros autores anônimos como ALÔ e o francês Cyrano de Bergerac. Em 2 de maio de 1919, o JS publicou de Mathias Costa, dentista local, o poema “O Cruzeiro do Monte”: A minha solidão, Cruzeiro, é igual a tua/ Porém é muito diverso o meu triste destino/No monte pedregoso ao longe se insinua/ o teu perfil tranquilo – um ponto pequenino”.
É provável que Mathias subiu o Morro Guarani na semana santa e depois fez o poema e na estrofe seguinte ele narra: “Sei que sofres também um tédio amargo e fino/ Mas, na vida quem não maldiz a sorte sua?/ Que tristeza, Cruzeiro, estas noites de lua/ Quando abrigar o mocho a gemer qual um sino”.
O cruzeiro, ainda hoje, está situado neste morro, solitário, e só é visitado durante a semana santa e o poeta acertadamente, noutro verso, diz que “a imensidão azul é teu grande regaço”. Quem conhece o local sabe que é assim. O cruzeiro olha para a Serrinha tendo à sua frente o horizonte azul.
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Vale observar que Reginaldo Ribeiro foi o primeiro dono da Tipografia O Serrinhense, somente na década de 1930 adquirida por meu pai Bráulio Franco. O “Serrinhense” à frente com Regionaldo Ribeiro existia desde 1924 e quando meu pai comprou a tipografia e deu seguimento ao jornal juntamente com Claudionor Ferreira, em 1934, o jornal completara 10 anos de circulação e se manteve até meados da década de 1950. Ou seja, mais de 30 anos ininterruptamente com noticias da cidade e informações da cultura local.
Em 1926, O Serrinhense publicou o primeiro livro local, intitulado “A Família de Serrinha”, de Dr. Antônio José Araújo. Eu possuo um exemplar que herdei do meu avô João Paes Cardozo e sempre o consulto há quase 50 anos. O livro vai completar 1 século em 2026.
Imaginem o trabalho que deu para fazer em composição manual, letra a letra no chumbo, impressão em máquina movida a pedal, encadernamento e refilamento perfeitos, com 125 páginas. Um trabalho artesanal que deve ter durado mais de 5 meses para sua conclusão. Hoje, uma preciosidade.
Publiquei em 1972, Serrinha História e Estórias, uma monografia sobre a cidade, também editado pelo “O Serrinhense”, no mesmo processo, só que a impressora já estava eletrizada, meu pai comandou a edição destacando um operário (Pedro) só para fazer o livro, lançado com uma exposição de peças históricas da cidade na ACS.
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As fotografias dos álbuns das famílias aos olhos de hoje revelam a linguagem visual da época, a moda, como as pessoas se vestiam, os modelos de penteados, os bigodes, os tipos de chapéus e assim por diante. As primeiras fotos da 30 de Junho e da Lyra de Ouro mostram os homens de bigodes e quepes à moda francesa, os diretores com cartolas nas cabeças, as mulheres de longo, terninho e gravatas borboletas, pés acomodados em borzeguins (botas de cano medio com cordões trançados) os meninos de “macaquinhos” (macacões curtos) tudo isso são registros que servem para analisarmos a influência europeia na vida das pessoas.
A farda dos músicos da 30, em 1896, era a moda militar com bordões e galões nos ombros, o maestro usava alamares trançados no tórax que ainda se pronunciava o nome francês -fourragère. Mesmo as pessoas mais pobres imitavam a moda da Europa e tinha ternos de linho (os homens) e as mulheres (vestidos longos).
Nas artes visuais não há registros de trabalhos de artistas locais e nas casas dos meus avós não tinha nas paredes obras de arte. Creio que a primeira exposição que houve em Serrinha, deu-se em 1935, no governo André Falcão, do chargista “Paraguassu” que veio de Salvador.
*** Próximo capítulo – o dinheiro.