Quando soube que havia passado no teste para o elenco de Tremembé, Letícia Rodrigues trabalhava em uma produtora audiovisual com uma função burocrática envolvendo contratos. Até então pouco conhecida pelo público, a atriz tem sido elogiada pela interpretação de Sandrão na série sobre o "presídio dos famosos" e comemora o reconhecimento pelo trabalho.

"Perdi o controle das minhas redes sociais. Não esperava essa recepção. Sou uma pessoa que, como a grande maioria, é muito insegura. Havia um receio de como seria recebida, ainda mais na pele de uma personagem como essa, que é sensível para o público brasileiro. Então, estou muito feliz mesmo. Recebi mensagens de todos os tipos, me abençoando, torcendo por mim, me agradecendo e me paquerando. É uma loucura", diz ela em entrevista ao Terra.

Letícia interpreta Sandrão, personagem baseada em Sandra Regina Ruiz Gomes, condenada a 24 anos de prisão por sequestrar e matar um adolescente de quem era vizinha, pois queria extorquir a família do jovem. No presídio de Tremembé, ela viveu um romance com Elize Matsunaga e depois com Suzane von Richthofen, mas este último chegou ao fim após ela receber o benefício de cumprir pena em regime aberto.

A série mostra a passagem das condenadas pelo complexo prisional, com grande destaque para o triângulo amoroso em que Sandrão se envolveu. Letícia considera que a parceria com Marina Ruy Barbosa e Carol Garcia, respectivamente intérpretes de Suzane e Elize, foi essencial para conseguirem entregar um resultado de alta qualidade.

"Foram personagens muito densas. Não eram todos os dias que a gente estava bem, porque são histórias muito difíceis de lidar. Ter o apoio dessas mulheres foi muito importante. A gente fez um pacto de respeitar muito uma a outra no dia em que alguma não queria conversar. O silêncio foi muito necessário nesse trabalho. Então, a gente criou vários pactos e, com isso, criamos uma intimidade profissional tão profunda", relembra a atriz.

Além do drama dos relacionamentos das condenadas, Letícia também protagonizou cenas quentes tanto com Carol quanto com Marina, o que também chamou a atenção do público. "Há muito mistério em torno de cenas mais íntimas, mas a verdade é que o nosso trabalho é muito técnico. São cenas que a gente estuda com muito afinco para fazer com que o público entre nessa história. As pessoas não compreendem que é muito mais sobre uma técnica. É uma dança, uma coreografia muitas vezes."

Para entrar na pele de Sandrão, Letícia estudou os livros sobre Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga escritos pelo jornalista Ulisses Campbell, que inspiraram a série, e também conversou com o ator, que conheceu a condenada que inspirou a personagem dela. "Nem sabia se podia, mas fui atrás dele e mandei mensagem. Ele me ajudou a entender que a minha intuição estava certa, que fazia sentido o que queria construir para essa personagem."

Após os estudos e ensaios, a atriz passou por um longo processo de caracterização, no qual foi cortando o cabelo aos poucos até chegar ao corte moicano descolorido que usa na série. Nos dias de gravação, ela usava apenas protetor solar no rosto e cobria as tatuagens que tem pelo corpo. Mesmo sem maquiagem alguma, muitos comentários destacam a diferença entre a atriz na vida real e caracterizada como a personagem.

"Vejo muitos comentários falando: 'Nossa, deixaram a atriz horrorosa'. Até brinquei que será que não sou feia mesmo? Estava só com protetor solar e um corte de cabelo, mas entendo que foi toda uma composição energética. Mas, diferente da personagem, tem muitas pessoas que não cometeram crimes e que se vestem dessa maneira e querem viver em sociedade e ter a vida delas em paz. Pessoas que muitas vezes são da comunidade LGBT e são excluídas por conta dessa imagem. É importante refletir sobre isso", analisa Letícia.

Elogiada pelo trabalho em Tremembé, Letícia torce para que esse trabalho lhe abra novas portas no mercado audiovisual brasileiro e espera realizar o sonho de ser uma atriz de cinema. "Sou uma atriz apaixonada pela minha profissão. Quero contar todo tipo de história, das mais diversas possíveis. Meu sonho é ser atriz de cinema no Brasil. Hoje, a gente tem uma qualidade técnica que não deixa duvidarem do nosso potencial. Todas as indústrias cinematográficas lá fora têm o mesmo nível de qualidade que o nosso e quero fazer parte disso", conclui a artista.