Cultura

MEU DESENCONTRO NO ENCONTRO COM OS CEPLAQUEANOS Por WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado
Walmir Rosário , Canavieiras | 09/05/2025 às 18:07
Ceplaqueanos no Codorna Restaurante de Itabuna
Foto: DIV
  Uma das frases mais em voga nos dias de hoje é “quando o cavalo passa selado você tem que montá-lo”, dando a entender que jamais o indivíduo terá uma nova oportunidade. E isso aconteceu comigo
recentemente e me nego a aceitá-la como verdade absoluta, como se eu ou qualquer outro ser humano não tivéssemos obstinação, persistência.

  E esses dias eu deixei passar o tal do cavalo selado sem que pudesse montá-lo. Garanto que não se tratou de uma simples falha, incompetência, mas por motivos superiores. Não aqueles dados como desculpas esfarrapadas para não comparecer a compromissos assumidos, mas por excesso de confiança na sumida temporária da malfadada labirintite.

  Eu deveria me apresentar às 11 horas, no Codornas Restaurante, em Itabuna, para o I Encontro dos Ceplaqueanos da Divisão de Extensão de Itabuna, nesse colóquio inaugural. Dada a sua importância, todo o
planejamento realizado, bastaria me deslocar de Canavieiras com duas horas e meia de antecedência e abraçar os velhos e queridos colegas.

  Missão abortada, devidamente comunicada por whatsapp, com as devidas escusas e lamentar minha inusitada ausência, comportamento que não faz parte do meu dicionário. Mesmo impedido de estar no evento de corpo presente, mantive o compromisso moral de marcar presença mental, espiritual torcendo
pelo sucesso do primeiro de uma série de eventos que prometem entrar em pauta.

  Mas que os servidores da Ceplac discutiriam nesse encontro, se a instituição continua no leito de morte, sem direito a atendimento com vistas a recuperar seus áureos tempos? Tudo. O engenheiro agrônomo aposentado Luiz Ferreira da Silva anotou em seu livro “A fazenda Corumbá que virou Ciências 60 anos atrás” que a Ceplac era mais que uma empregadora, era uma religião.

  Na mesma obra, Luiz Ferreira cita que seu colega e líder extensionista Ubaldino Machado movimentava sua turma por meio da palavra parceiro, em moda nos dias de hoje. Era esse o espírito de corpo implantado na instituição por Carlos Brandão e “Zé Haroldo”, incutindo em todos a chamada filosofia da solidariedade.

   Do mais simples operário ao titulado cientista, a palavra colega era o tratamento adequado, pois todos deveriam agir com excelência na sua missão profissional conjunta. Do operário de campo, passando
pelo motorista, escriturário, comunicador, técnico, aos profissionais mais graduados, tinham que ser os melhores. E a Ceplac disponibilizavam os meios para tal.

  Cada um dos ceplaqueanos carregava consigo o dever de tornar a região cacaueira um modelo de desenvolvimento e até hoje se sentem orgulhosos com famosa sensação do dever cumprido. Ainda
hoje perdura o reconhecimento regional sobre a excelente qualidade da formação e desempenho profissional dos ceplaqueanos, distinção que se estendeu por todas as regiões cacaueiras do Brasil.

  Assim sendo, têm o que comemorar, comentar o dia a dia na instituição Ceplac, as lembranças das realizações, incluindo aí as dificuldades enfrentadas nas tarefas em locais inóspitos, as vitórias. A
Ceplac não era uma simples empregadora, mas uma instituição reconhecida e respeitada pelos que fizeram acontecer na transformação das regiões cacaueiras da Bahia.

  Para os mais novos que não puderam acompanhar a missão da Ceplac, vale lembrar que mantinha os departamentos de pesquisa, extensão, ensino técnico, e desenvolvimento atuando dentro e fora das porteiras das fazendas. Esse esforço de inovação tornou possível a implantação da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), ampliando a formação da inteligência regional.

  Não fossem os programas da Ceplac, não teríamos o porto do Malhado, tal como é, os milhares de quilômetros de estradas vicinais, a maior rede de energia rural, a modernidade na telefonia, em todos
os campos do conhecimento. Estrategicamente, beneficiou todos os municípios das regiões cacaueiras do Brasil, com escritórios, estações experimentais, todos tocados com o que tinha de mais inteligente e
de alto poder aquisitivo no comércio.

  Mas voltando ao encontro dos servidores da Divisão de Extensão de Itabuna, nada melhor que essa satisfação de bem estar pelo cumprimento das responsabilidades de antes e o reconhecimento de
suas participações. Se por anos tiveram esse compromisso com a Ceplac, continuam, como sempre, com a sociedade onde vivem e são distinguidos.

  E nada melhor do que viver com dignidade e alegria. No próximo estaremos juntos, parabenizando a eficiência da organização.