No Dia do Jornalista, decidi virar a câmera para mim, diz Vitória Viana, jornalista baiana, 27 anos de idade
A comunicação no Brasil ainda carrega estruturas que silenciam vozes como a minha: negra, periférica, feminina. Por isso, no Dia do Jornalista (7 de abril de 2025), escolhi me colocar no centro da imagem. Mais do que um gesto simbólico, aquele ensaio visual foi um manifesto — um grito de identidade, um ato de denúncia e, também, um exercício de cura.
Sou jornalista formada pela Rede UNIFTC, com especialização em Branding e Storytelling. Desde o início da minha caminhada, compreendi que contar histórias com propósito é uma forma de existir politicamente. Atuei em assessorias voltadas para causas sindicais, ambientais, culturais e eleitorais. Estive em coberturas em bases da Petrobras, participei de ações da Fiscalização Preventiva Integrada da Bahia (FPI-BA) e colaborei com festivais como o Boca de Brasa e A Cena Tá Preta — neste último, coordenando a coletiva com Lázaro Ramos e o Bando de Teatro Olodum.
Também colaborei com o portal UOL, integrei a Missão de Observação Eleitoral do TRE-BA e assessorei candidaturas. Atualmente, mantenho parcerias com agências como a Comunicação Assertiva, com sede em Sergipe, e atuei na Agência LK, (atendendo projetos como o Camarote Brahma), além da Associação dos Defensores Públicos da Bahia (ADEP-BA).
No Dia do Jornalista, decidi virar a câmera para mim. Rompi, com esse gesto, a lógica dos padrões e bastidores. Me inspirei no que Grada Kilomba chama de “ato insurgente”: a autorrepresentação como recusa da invisibilidade e reinvenção do lugar de fala. Mostrar minha imagem naquele dia foi, também, uma forma de valorizar o trabalho de quem constrói a comunicação de dentro — quem escreve, pensa, sente, articula. Muitas vezes, não se vê. Mas se sente. E isso precisa ser reconhecido.
Entre as imagens do ensaio, uma me atravessa profundamente: estou com um microfone em uma mão e uma boneca na outra. A cena foi registrada no bairro da Liberdade, onde nasci. A boneca, presente de uma amiga, que veio como cura da criança ferida. Antes de contar outras histórias, precisei me reconectar com a minha. Esse gesto me lembra o conceito de “reexistência”, de Sueli Carneiro, que compreende a narrativa de si como estratégia de sobrevivência diante dos apagamentos históricos.
Como estrategista digital, acredito que a velocidade das redes sociais precisa de responsabilidade ética. Questiono o etarismo ainda presente em veículos tradicionais e defendo que a experiência negra — como nos ensina Patricia Hill Collins — é uma forma legítima de conhecimento. Não é possível construir uma comunicação verdadeiramente democrática sem reconhecer o saber que nasce da vivência.
Minha atuação vai além da comunicação de marcas e pessoas. É política. É sobre memória, afeto, denúncia e transformação. É sobre ocupar e permanecer em espaços que, historicamente, tentaram nos excluir.
Que a minha jovem trajetória inspire outras meninas e mulheres negras a ocuparem seus espaços com coragem, potência e sensibilidade. Que nossos corpos sigam sendo palavra. Que as novas histórias sejam cada vez mais potentes.