Cultura

A MAIOR GUERRA DA CIDADE DO SSA PARA EXPULSAR HOLANDESES 400 ANOS (FF)

Nunca houve uma em igual dimensão com 52 naus, 14.000 mil e centenas de mortos e feridos para expulsar os holandeses em 1625
Tasso Franco , Salvador | 27/03/2025 às 11:11
A maior batalha que a cidade do Salvador já teve e durou 40 dias (março/abril 1625)
Foto: Gravura de Benedictus Mealius
      Completa neste 27 de março de 2025, 400 anos do início da maior batalha naval e terrestre que a cidade do Salvador já experimentou em sua existência com a retomada da capital da colônia pela armada e tropas de infantaria luso-espanhola comandadas por Don Fradique de Todelo Osório (espanhol) e Dom Manoel de Menezes (português).

   Conhecida como a "Jornada dos Vassalos" a esquadra era composta por 52 navios e 14 mil homens e como diz Antonio Risério em seu livro "Uma História da Cidade da Bahia" - no dia 27 de março suas velas se fizeram visíveis, tingindo a paisagem baiana".

   E os canhões abriram fogo e as lutas duraram quase 40 dias em terra, nas trincheiras, até que houve a rendição dos holandeses em 30 abri de 1625. Nunca houve, na cidade do Salvador, nem na Batalha de Pirajá, novembro de 1822, uma batalha como essa.

   Em "História do Brasil”, do frei Vicente do Salvador (Edição da Odebrecht organizada por Maria Leda Oliveira) há uma discrição minuciosa da formação das duas esquadras a portuguesa e a espanhola que se uniram na Ilha da Madeira e como foi realizada essa logística e a preparação das naus, canhões, artilharia pesada e de mão, a infantaria, uma coisa realmente fantástica para a época colocando 14.000 homens para atravessar o Atlântico e reconquistar uma cidade que, por sua importância, no Atlântico Sul era vital para o Império.

   Afinal, estamos falando da sede da Colônia, o núcleo central do poder e do porto por onde saia o produto mais cobiçado do mundo, o açúcar.

   Lembrando, ademais, que entre 1580/1640 o Reino de Portugal foi dominado pela Espanha, época das ordenações filipinas (Reis Felipe I até o IV) e Salvador era, por conseguinte espanhola. Quando os holandeses invadiram a cidade, em 1624, o almirante holandês Jacob Willekens prendeu o governador Diogo de Mendoça Furtado e alguns jesuítas e mandou-os para Amsterdã. 

   Na reconquista (1625), tanto na armada portuguesa como na espanhola havia generais, mestres-de-campo, fidalgos, marques e condes pertencentes a várias casas reais, de Castela a  Avis, portanto, gente experiente em batalhas e capacitada militar e economicamente.

   Ainda assim, não foi fácil a retomada e morreram centenas de pessoas embora não se saiba o número exato de quantos foram os mortos e feridos. Frei Vicente do Santo narra que somente no primeiro assalto a São Bento (o mosteiro era o QG dos holandeses) foram 80 mortos "só dos nossos". 

   Diz o frei: "trezentos mosqueteiros às dez horas do dia iniciaram a luta, da qual foram mortos dos nossos oitenta, porque como vierão seguindo até os fazerem recolher à cidade a porta della, e de outras fortalezas que tirarão tantas bombardas com cargas de munição miúda, e pregos, que poderão fazer toda esta matança".

   Nessa bateria para a conquista de São Bento estavam o mestre de Campo Dom Francisco de Almeida, o almirante Dom João de Souza Alcayde mor de Thomar, dom Antônio de Castelo Branco, senhor de Pombeiro, Ruy de Moura Teles, senhor de Póvoa e outros. Mostro isso para os leitores sentirem a dimensão dessas lutas envolvendo uma tropa de 500 ou mais homens em armas de mão. 

Uma segunda bateria se fez no Convento do Carmo sob o comando de dom Fradique de Todelo Osório (espanhol) e muitas lutas local onde se deu a morte de Martin Afonso, morgado de Oliveira. O cerco aos holandeses por terra tinha várias frentes pois os batavos estavam entrincheirados no São Bento, Carmo, Grabriel e na área da fortaleza atual de São Pedro e essas lutas da infantaria se desenrolaram durante mais de 30 dias com mortes dos dois lados.

   Mas, os holandeses não tinham para onde ir. O socorro de Amsterdã era incerto. Já vinham sendo acossados pela guerrilha portuguesa mesmo antes da invasão e seus navios estavam destruídos ou imobilizados pela armada luso-espanhola que fechou o cerco formando um arco e vomitando bolas de ferro dos seus canhões. Em armas e em números superiores as naus holandesas estimadas em 26 quando da invasão e mais e três iates. Só que algumas dessas naus já tinham regressado para a Holanda.

   A rendição aconteceu em 30 de abril com as tropas holandeses sem condições de reagir por falta de munições, comida, muitos feridos nas trincheiras, revoltas internas como a que aconteceu contra o coronel Guilherme Scutis, e houve a rendição pelo comandante holandês Hans Ernest Kijff e a prisão de 1919 holandeses e segundo Frei Vicente do Salvador "alguns portugueses que ficaram com eles e 600 negros fugidos dos seus senhores para o inimigo pelo amor a liberdade”.

   A partir maio de 1625, retomada a cidade, havia destruição por todo lado e um caos total no abastecimento de alimentos, água, limpeza, saúde pública, educação etc. Os historiadores não detalham com precisão como se deram os retornos das esquadras para seus países e o que foram feitos dos prisioneiros e outros. O certo é que dom Fradique deixou 1000 espanhóis e os 600 negros libertos ou revendidos.

   Nesse período o conde de Alegrete, Mathias de Albuquerque era o governador interino e o substituiu após a batalha Francisco de Oliveira Rolim, que era brasileiro nascido em Olinda, nomeado em dezembro de 1626 governado o caos até 11 de julho de 1627. Em 1640, Portugal se livra da Espanha e reconquista de vez a Bahia e o Brasil. 

   A reconstrução de Salvador demorou anos porque os holandeses, mesmo assim, não desistiram da Bahia e retornaram em 1627. Mas essa é outra história, até porque não conseguiram retomar a cidade com Peter Heyne, porém, este não deu a viagem perdida e capturou e levou para a Holanda 30 navios portugueses carregados de açúcar. (TF)