Creio, nenhuma outra avenida no Brasil tem essa configuração
Tasso Franco , Salvador |
09/01/2025 às 09:36
Fortes de São Digo e Santa Maria
Foto: BJÁ
Nenhuma avenida de Salvador – e provavelmente do Brasil – abriga em seu território três fortificações do século XVII enraizadas na história da cidade, como acontece com a Avenida Sete, considerada a via protetora, a mãe, a pousada dos fortes de Santa Maria, São Diogo e São Pedro. E, por pouco, questão de metros, também não acolhia o forte de Santo Antônio da Barra, o mais antigo da cidade, do século XVI, que a olha e a protege, embora já esteja no promontório do Caramuru.
Essa proeza digna de ser registrada nos anais da história, antes mesmo de Salvador ser cidade e sediar a Capitania Hereditária da Bahia uma vez que a casa de morada do capitão Francisco Pereira Coutinho, o Rusticão, seu castelinho fortaleza era, onde hoje existe o Forte de São Diogo, que olha o Porto da Barra, que protege seus banhistas com os canhões emblemáticos do século XVII e que um dia impediram novas invasões de holandeses a cidade.
E, logo abaixo, mar à vista, brilham as águas mansas da Baía de Todos os Santos, a 150 metros distante de sua murada leste, local onde a esquadra de Thomé de Souza aportou, em 29 de março de 1549, para fundar a cidade de Salvador.
E foi neste espaço onde hoje banhistas jogam pontinhos, peteca e futivolei, onde bebem-se geladas e saboreia-se camarões e acarajés, que os portugueses desceram de suas naus usando botas de canos logos para andar pela praia e atingir o Caminho da Vila Velha, a vila fundada pelo insolente Pereira, e desde 1915, se tornou a Avenida Sete beira mar, graças a outro bravo guerreiro JJ Seabra e seu fiel escudeiro o “Sancho Pancha” Arlindo Fragoso.
Resta-nos, a nós baianos e aos nacionais e estrangeiros que nos visitam contemplá-los e conhece-los por dentro e por fora, dois deles, os de Santa Maria e São Diogo que são abertos ao público, gratuitamente as áreas de contemplação e paga-se R$20,00 (adultos) e R$10,00 (velhos estudantes e crianças) para conhecer os interiores do Espaço Pierre Verger com exposição permanente de fotografias (Santa Maria) e espaço Carybé com exposição iconográfica do mestre argentino nagô (São Diogo).
O Forte de São Pedro abriga uma unidade de intendência do Exército e não é aberto ao público, o que representa um erro. Este forte que fica na Avenida Sete Aclamação/Campo Grande com muro lateral integrante da via tem uma longa história desde a ermida do Campo de São Pedro (atual Campo Grande) as lutas preliminares da “guerra” pela Independência da Bahia do jugo português (1822/1823). Deveria, isto sim, abrigar um museu.
Os fortes de Santa Maria, Santo Antônio da Barra e São Diogo formam um triângulo no fogo cruzado dos seus antigos canhões para impedir que holandeses e franceses, especialmente a Companhia das Índias Ocidentais, ocupassem a cidade. Santa Maria e São Diogo começaram a ser construídos no início do século XVII, governo do espanhol Felipe II, uma vez que os canhões do Forte de Santo Antônio, sozinhos, não impediram a invasão holandesa com a poderosa esquadra comandada por John Van Dorth, em 1624.
Os holandeses ficaram pouco tempo em Salvador e, mais um detalhe, os batavos instaram seu quartel general no Forte de São Pedro que, naquela época (início do século XVII) descortinava uma visão ampla do meio da Baía de Todos os Santos, hoje, sem que possamos ter essa visão uma vez que em meados do século XX ergueram-se enormes edifícios de apartamentos nessa área da Avenida Sete.
Expulsos os holandeses de Van Dorth e concluídos os fortes de Santa Maria e São Diogo e reforçado o de Santo Antônio quando, novamente, em 1638, o conde Maurício de Nassau, tentou ocupar a cidade do Salvador, sua esquadra foi recebida pelo fogo cruzado disparado por esses três fortes e o impediu de avançar.
O Santa Maria tinha 18 bocas de canhões e as embarcações invasoras que passassem pelo Forte de Santo Antônio, recebiam a carga de bolas de ferro deste segundo forte na entrada da baía. E aqueles que passassem dessa segunda linha de tiro recebiam nova descarga do Forte de São Diogo instalado no sopé do Morro de Santo Antônio da Barra, hoje, também, administrado pelo Exército, onde funciona o Espaço Carybé. E adiante, passando daí, as bolotas de ferro eram disparadas das fortalezas de São Pedro e São Paulo (Gamboa).
O rei de Portugal, Dom João III e sua Corte determinaram que Salvador (na sua origem) fosse uma cidade fortaleza e na inicial seguiu-se essa diretriz em plana trazida de Lisboa e quando a cidade de expandiu também se instalaram novos fortes.
Lembrando que Thomé chegou dia 29 de março de 1549, mas só desembarcou da nau Nossa Senhora da Conceição, dia 31 de março, e a cidade só começou a ser construída em maio, sendo sua primeira procissão de Corpus Christi, em 13 de junho de 1549, quando deu-se por inaugurada a cidade fortaleza.
Outros historiadores apontam que a cidade só ganhou forma em novembro de 1549 com 4 a 5 ruas demarcadas e com casas de taipa, palácio, câmara e fortificações em paliçada, mas, o IGHB, considerou a data da chegada da esquadra (29 de março) como a quele que se deve comemorar a fundação de Salvador, o que é um erro, pois, não havia nada ainda, nem o local escolhido.
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O Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana é dedicado à valorização, reconhecimento e divulgação da fotografia baiana, destacando o trabalho do francês Pierre Verger e de mais 100 fotógrafos nascidos ou fixado residência, ainda que temporária, na Bahia. Cada temática é tratada com recursos tecnológicos diferentes, alguns adotando uma via mais clássica, como projeções e telas interativas; outros, empregando tecnologia de ponta, como apresentações virtuais e interatividades.
A exposição permanente é dividida em seis eixos principais: Retratos (as primeiras fotografias feitas na Bahia e retratos de personalidades; Paisagens Urbanas -ruas, bairros e pontos diversos da cidade, em imagens antigas e atuais; Cultos Afro-Brasileiros - vários momentos cerimoniais do candomblé), Interior da Bahia - diversas regiões do estado; Cenas do Cotidiano - capoeira, carnaval, festa de largo; e Fotografia Contemporânea (ensaios que mostram um extrato diverso e de vanguarda da cena fotográfica local).
Há foto de Gonsalves e Jonas – dois pioneiros; de mães Senhora e Menininha do Gantois, a única a cores que se conhece.
Há exposições virtuais que são visitadas através de Óculos de Realidade Virtual, mostras de Pierre Verger, Adenor Gondim e Hirosuke Kitamura.
A curadoria do Espaço Verger é de Alex Baradel, diretor técnico da Fundação Pierre Verger, que divide os créditos de pesquisa/curadoria com Célia Aguiar, fotógrafa e professora de fotografia. O projeto expográfico é assinado pelos arquitetos Fritz Zehnle Jr e Rose Lima.
Daí, com o mesmo ingresso, o visitante segue para o Forte de São Diogo que dista 200 metros para conhecer a obra do argentino Hector Julio Páride Bernabó, o Carybé. As obras são expostas de forma virtual (digital) - gravuras, desenhos, ilustrações, cerâmicas, esculturas e murais.
Personagens de Carybé modelados em 3D, são controlados e animados pelo visitante com seu próprio corpo, através da programação de software que utiliza o kinect, de modo a reconhecer quando um visitante está diante da projeção, replicando na projeção seus movimentos.
Há um cavalete e mesa com material de pintura que simulam o ambiente em que o artista trabalhava. Sobre o cavalete, uma TV serve de “tela” de pintura para o visitante, que “desvela” desenhos de Carybé com movimento das mãos e pincéis, através da programação de software que utilizará o Leap Motion, para reconhecer os movimentos do visitante. O visitante usa o movimento das mãos para ver as obras.
Um conjunto de 9 projetores colorem o espaço com desenhos de Carybé, que surgem e desaparecem nas paredes internas do Forte. A curadoria é de Solange Bernabó e o projeto expográfico da empresa Blade Design (Joãozito Pereira e Lanussi Pasquali).
Depois de visitar esse espaço as pessoas podem percorrer as áreas externas do forte e vê a praia do Porto da Barra e o local que Thomé de Souza desembarcou, em 1549, do alto com vista maravilhosa.