São 12 lojas que resistem ao tempo e as novas tecnologias e abastecem as costureiras e aos estilistas
Estamos vivenciando a 4ª era industrial com o avanço das máquinas impressoras em 3D, a robótica o uso a cada dia mais acentuado da IA e esses procedimentos invadiram o mercado de confecções vestes sob medidas, ajustadas ao corpo e aos gostos de cada cliente. Evidente que, numa escala maior, industrial, as vestimentas – camisas, calças, vestidos, ternos, etc – seguem padrões conhecidos popularmente com P, M, G, GG e também em números 38, 40, 45, 47, 50.
Entre 38 a 42 representa P; de 42 a 47 M; e a partir daí até 50 G; GG está acima de 50. Isso também depende do modelo da confecção e do país em que foi produzido. Esse avanço das novas tecnologias derrubou centros empregatícios de costureiros manuais e em máquinas comuns em Bangladesh, que também se renova desde que aconteceu o acidente na fábrica de roupas Rana Plaza, Daca, com 1.138 mortos e revelou ao mundo o degradante trabalho do setor têxtil, onde eram produzidos (e ainda são) roupas para o mercado internacional.
Então, você pode adquirir uma camisa social numa tenda da Avenida Sete e se tiver o cuidado de olhar na etiqueta verificar que a peça foi produzida na Ásia. E, já existem, algumas lojas com roupas indianas e chinesas à venda, assim como em cortinas e tapetes.
Bem, esse é um mercado extremamente ágil com o avanço dos tecidos sintéticos e ações do mercado internacional, porém, tem uma coisa curiosa na Avenida Sete (área comercial) que é a resistência das lojas e lojões de tecidos com vendas a metro (ou peças) no total de 12 que abastecem as costureiras individuais e pequenos empreendedores, de SSA e RMS, e até de outras cidades da Bahia.
Mas, como isso é possível em plena 4ª era industrial?
O certo é que representa uma realidade num mercado informal enorme, sem regulamentação, com milhares de costureiras somente na capital.
Qual número estimado desse mercado: 4.000 ou 6.000?
Não saberia dizer. Conversamos com várias costureiras e “metristas” (mais homens do que mulheres) que trabalham nessas lojas e dizem apenas que “são muitas”.
Josete Gomes Sampaio, 50 anos, costureira residente em São Cristovão, bairro da zona Norte de Salvador, diz que conhece só nas proximidades onde mora 8 costureiras sem contar uma minifábrica que tem mais de 10 entre modistas, costureiras e auxiliares. Todas essas pessoas são clientes de lojas da Avenida Sete.
- Existem outras lojas na cidade, na Pituba, na Liberdade, na Calçada, mas, a Avenida Sete é central tem muitas lojas perto umas das outras e isso facilita nossa vida na hora da compra dos tecidos. As costureiras já levam as amostras e o que desejam e também são orientadas pelos vendedores que são pessoas muito experientes nesse ramo, depõe.
Josete confessa que as costureiras (existem também muitos costureiros que preferem ser chamados de estilistas) já vão às lojas sabendo o que desejam, mas, há “um mundo de tecidos em cada loja e às vezes a gente não enxerga o que quer, daí a necessidade de ser atendida por um vendedor experiente que nos mostra os caminhos e as alternativas”.
Há, ainda, as novidades. Por exemplo, nesta época do ano da virada e início de ano novo sobressaem os tecidos finos: o linho, a crepe, a renda; e quando chega na época do São João a popeline, a tricoline, os sintéticos, as novidades em quadros e assim por diante.
O vendedor da Casa São Bento, onde comprei duas peças em linho para batas, disse-me que “a gente conhece uma costureira profissional quase imediato porque elas já chegam sabendo o que querem, com a amostra em mãos e a gente quando não tem indica outra casa, todo mundo parece até que se conhece”.
Bem, do lado esquerdo da Sete comercial as lojas são a São Bento Tecidos quase colada ao Mosteiro de São Bento com esquina do Paraíso; a Skina Têxtil, a Tecidos Salvador e o lojão da Moura – essas três nas proximidades do Relógio de São Pedro; a Casa São Bento e a Big Ben na área do Rosário/Mercês. E do lado direito a Big Ben, a Tecidos Popular, a Pontal, a Ferreira (cortinas) área do Relógio; a Cheddar (área da Piedade) e o Varejão das Fábricas (área do Rosário).
E quanto custa um vestido feito por uma costureira? Vale a pena encomendar um vestido a uma costureira?
Josete responde: - Tudo depende do modelo, do tecido, as exigências das clientes. Em média, R$100,00 o trabalho da costureira. Se for uma peça mais simples é até mais barato. Se for mais complexa, um fino para festas; um redobrado com pedrarias é outro preço. Mas, veja que um vestido desses numa loja de confecções gira em torno de R$700,00 a R$1.000,00 e numa costureira, tomando as medidas da cliente, fazendo tudo certinho e ajustado ao seu corpo, comprando o pano no metro sai por R$300,00 a R$500,00.
Para Josete, a diferença de comprar um vestido pronto numa confecção e fazer na costureira é que, na
costureira, o ajuste da peça no corpo é perfeito.
Outra questão interessante é que essas lojas não vendem somente nas épocas festivas – Natal, Réveillon, Carnaval, mês das Noivas e Dia das Mães (maio), São João, etc – e sim durante todo o ano.
A mulher, por natureza, confessa o vendedor da Casa São Bento – é vaidosa e a indústria está sempre lançando novos padrões, modelos em moda, e aqueles padrões que nunca saem de moda e nós sabemos, pela configuração da pessoa – jovem, madura, idosa – os tipos de tecidos que são ajustáveis aos seus gostos.
- Não adiante oferecer um tecido padrão, sóbrio, a uma jovem que ela não compra; e vice-versa. Nós temos clientes que vão de freiras a filhas de santo e são perfeitamente identificáveis e atuamos nessa direção, às primeiras ofertando um linho cinza e às segunda um branco cintilante.
Pergunto: e onde andam os alfaiates?
A resposta geral é que sumiram de cena. São tão raros nos dias atuais como os monges do São Bento que, embora residam na Avenida Sete, pouco andam nela.