Cultura

A ALMA DA SENHORA AVENIDA SETE, CAP 28: O CORREDOR DA VITÓRIA É 'CULT'

Área com 1 km de extensão com 3 museus, 3 bibliotecas e dois centros de cultura
Tasso Franco , Salvador | 14/11/2024 às 08:53
Area com 1 km com 3 museus, 3 bibliotecas e dois centros de cultura
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   O Corredor da Vitória é um trecho da Avenida Sete que tem 1 km de extensão e vai do Campo Grande ao Largo da Vitória. É uma área considerada nobre da cidade embora a nobreza se findou com a implantação da República, em 1889. Lembrando que Salvador tem 471 anos de fundada e experimentou ao longo de sua existência períodos colonial e imperial.   

   Portanto, algumas pessoas com títulos de nobreza moraram nessa área ainda que só tenha sido utilizada com mais intensidade a partir do século XIX, sobretudo após o advento da epidemia de Cólera Morbus (1886), quando houve a recomendação sanitária para que os moradores do centro histórico poluído e fedorento trocassem de ares para evitar a morte. A cólera matou milhares. Os mais pobres se dirigiram para os arrabaldes de Brotas, Cabula, Rio Vermelho, Itapuã, Abrantes e os mais ricos para o Campo Grande, o Corredor da Vitória, a Graça e a Barra.

   Nesse trecho se instalaram famílias inglesas (o cemitério dos ingleses ainda se situa na Ladeira da Barra) e de comerciantes portugueses. Na atualidade, moram os ricos baianos em edifícios com o metro quadrado mais caro da cidade, muito dos quais (os mais modernos e no lado direito da avenida) têm ‘peers’ (atracadouros) particulares para ancoragem de lanchas e iates.

   O Corredor é também uma das áreas de cultura da Avenida 7 mais importantes com três museus – Geológico, MAB e Carlos Costa Pinto – duas salas de cinemas (a de Arte e do ICBA), três bibliotecas (MAB, ICBA e Carlos Costa Pinto), abriga a residência e restaurante universitário da UFBA, um shopping vertical (Vitória Boulevard) com academia, livraria, supermercado, etc; dois outros supermercados (Ideal e Casa das Frutas), o Grão de Arroz, 6 restaurantes, uma casa de eventos Solar Cunha Guedes (ex-clube Fantoches da Euterpe), salões de beleza, agência de Correios, vendedores de livros em bancas de rua, 3 bancas de jornais, revistas e doces, etc; uma banca de frutas e verduras; um café (Cooffeetown) e uma loja de modas (Track Fields).

   Vê-se, pois, que o Corredor é múltiplo e os moradores dessa área superprivilegiada da cidade têm tudo que necessitam, praticamente, sem sair de casa (e saem pouco e quando saem é de lancha e de carros). 
   O Corredor não está isolado. É uma área pública com ciclovia e pista de ‘cooper’, trânsito de veículos em mão dupla (ônibus do Campo Grande em direções a Barra e Graça e vice-versa; outrora, de bondes) e com intenso movimento de jovens e maduros que vão aos museus. Já abrigou colégios – São José, Sophia Costa Pinto e Odorico Tavares – e reuniu a maior quantidade de casarões no estilo eclético italiano da cidade, hoje, com poucos exemplares existentes. Um dos últimos a casa que pertenceu ao jornalista Jorge Calmon se transformou na Mansão Leonor Calmon, de 28 andares.

   As sedes dos antigos colégios São José abrigam (hoje, MAB) e do Sophia (hoje, salão de recepção do prédio Mansão Margarida Costa Pinto, com 34 andares, 145 metros de altura). Não vou comentar sobre essa mudança de perfil (de casarões para prédios) e os debates que aconteceram para que essa área fosse tombada desde a época de Godofredo Filho, no IPHAN (década de 1980), porque é letra morta, já aconteceu e o Corredor se transformou numa cordilheira de arranhas céus. A cada dia com novos e gigantes, no momento, ao menos 3 novos sobem, na margem à esquerda.

   Sobrevivem, ainda, alguns exemplares como os casarões da Residência Universitária da UFBA, Museu Geológico, Delegacia da PF, sede da Funasa, MAB, Museu Carlos Costa Pinto (estilo mais moderno), DRT, ex-Clube Fantoches da Euterpe, Casa das Frutas e alguns abandonados no lado esquerdo.

   COMEÇEMOS PELO LADO DIREITO

   O primeiro prédio é o Manza, 1724, antigo com vista também para o Campo Grande; depois o Edifício Vitória Régia, 1788;  o Duque de Caxias e o Elizabeth, 1766 – são quarteto de prédios antigos e bem conservados; Edifício Arthur Moreira Lima, 1796, moderno, gigante, 4 suítes, 288 metros quadrados (em média) ; Condomínio Montenegro Jr, 1806; Condomínio João Mendes, 1822; o Victoria Loft (com piscina privativa e como o próprio nome diz pode ser usado como estúdio e local de trabalho); depois, segue um grupo de prédios mais tradicionais) edifício Portão do Mar, 1862; o Casa Blanca, 1884; Delrio, 1894; o Delmar, 1914; o Pedra da Vitória, 1942; o Koch, 1956; o Frederico Felini, 1978 (mais moderno)  o Mansão Roncalii, 2000 (ao que tudo indica homenagem ao papa João XXIII (1881/1963) que se chamava Angelo Giuseppe Roncalli e uma exceção com apenas 3 andares); Edifício Marte, 2022; o Apolo XXVIII, 2044 (referência a missão Apolo da Nasa).

   Em seguida, o Sol Victoria Marian Flat, 2068 (local do badalado Mahi Mahi restaurante e eventos; o Solar da Vitória, 2090; o Victory Side, 2110; o Golden Tower, 2152; a Mansão Leonor Calmon, 2172 (um dos mais belos deste trecho erguido em casa que pertenceu ao Visconde de Guay, depois a Carlos Joaquim de Carvalho e Antonieta Ballalai; em seguida ao jornalista Jorge Calmon e Leonor); a Mansão professor José Silveira, 2252; o Palais Versant, 2282; o Edifício Açores, 2308; o casarão amarelo da Superintendência Estadual da Funasa na Bahia; o Edifício Margarida Costa Pinto, 2354 (local do antigo Colégio Sophia Costa Pinto); 

   a Residência e Restaurante estudantil da UFBA (antiga em casarão no modelo da arquitetura eclética italiana que pertenceu a família Vilas-Boas), objeto de desejo dos construtores e que pertence a UFBA; a Mansão Phileto Sobrinho, 2410; Vitória Residencial, 2438;. Mansão Carlos Costa Pinto, 2460 (um dos mais antigos da safra moderna e que teria puxado a fila dos grandes prédios); o Museu Carlos Costa Pinto, 2490 (funciona em prédio no estilo casa americana na área onde existiu o casarão do casal Carlos e Margarida Costa Pinto) é uma Fundação que tem apoio do governo do Estado através da Secult e foi inaugurado no governo Luís Viana Filho, em 1969); Edifício Oiram, 2514; Bem Bonita, salão de beleza, Edifício Sumé; Casa das Frutas (casarão antigo, amarelo); Edifício Cecy, 2572; Mansão Plínio Guerreiro, 2582; Grão de Arroz, restaurante natural desde 1974; e o edifício Pedra do Sol (com portaria no Largo da Vitória).

   O LADO ESQUERDO DO CORREDOR

   Lado esquerdo do Corredor: Começa com a lateral da Liga Álvaro Bahia, 36, edifício pequeno com pastilhas azuis; casa fechada; Coffeetown, 1755 – café e restaurante estilo americano instalado em prédio térreo; loja da Track & Fields instalada em casa estilo americana ; banca de chaveiro; banca do sebo Ágora de livros; barraca de lanches; Goethe-Institut Salvador – conhecido como Instituto Cultura Brasil Alemanha (ICBA) funciona em casarão que pertenceu a família Oscar Magalhães ; Vitoria Boulevard Shopping vertical 5 andares inaugurado em 2023 com lojas, banco, academia, livraria, etc; 

   Em seguida, Edifício Manoel Victorino, 1867 (11 andares, antigo); Edifício Alive, 1883, recém inaugurado; Edifício Jardim Tropical, 1907 (dois blocos com 15 andares cada um deles; na calçada, carrinho de doces; Condomínio Maria de Lourdes, 1937; Edifício José Costa, 1949; Edifício VV (em construção); Edifício Lisboa, 1983; Hotel Bahia do Sol; agência do Itaú Personalité; Edifício Sabino Silva; banca do alemão (vende coco e revistas); ex-Colégio Estadual Odorico Tavares (pertencia a rede estadual de ensino, fechado); A Gente Banca Gomes (frutas e verduras); Edifício Torre Barcelona – moderno, um dos mais bonitos do trecho; Agência do Correios, 2127 (casinha recuada com acesso por uma escadaria estreita); 

   Edifício Caiçara, 2141 (antigo); Edifício Júpiter, 2155; Residencial Murilo Soares da Cunha, 2173; Museu Geológico da Bahia – casarão que pertenceu a família Hoesli; Sala de Arte (e cinema); Edifício Veríssimo (gigante em construção); Mansão Vitória, 2231; Mansão Lino Cerviño, 2265 (moderno); Banca de revista do MAB; Museu de Arte da Bahia (casarão de José Cerqueira Lima, comerciante de escravos, em frente tem uma área parecendo um larguinho (semicircunferência) para facilitar o trânsito de carruagens, século XIX); 
 
   Casarão da Policia Federal, 2365 (Delegacia de Controle de Armas e Químicos; Delesp – Delegacia de Controle de Segurança Privada – funciona em casarão; Edifício Monsanto, 2367; Morada Real da Vitória, 2417; Cerimonial Cunha Guedes (antiga sede do Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe, ainda mantém o casarão em estilo eclético); casarão abandonado; casa onde foi um banco, fechada; terreno abandonado; Edifício Sarah, 2563; prédio pequeno abandonado, 2515; Hiper Ideal; sede do Ministério Público do Trabalho – Procuradoria Regional do Trabalho, 5ª Região; casa em reforma na esquina com a rua Bráulio Xavier; Honda Imperial; Drogasil, 2631, no térreo do edifício Space Vitória.
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   Pelo exposto, no Corredor da Vitória residem milhares de pessoas, a área serve de base para o desfile cívico do 7 de setembro e para armação e saída de blocos carnavalescos e uma ligação viária importante entre o centro histórico tradicional a partir do Campo Grande e os bairros da Graça e Barra com extensão para a orla atlântica.