O trecho da Av 7 no Porto da Barra vai ao largo onde se situa o Grande Hotel da Barra até a esquina da Barão de Itapoan
Tasso Franco , Salvador |
15/08/2024 às 10:08
A Avenida Sete trecho do Porto da Barra
Foto: BJÁ
A maioria das pessoas que frequenta a praia do Porto da Barra não sabe que essa área de lazer se situa na Av. Sete. Quando perguntadas dizem que estão na praia do Porto, bairro da Barra. E, em tese têm razão, uma vez que há uma alvenaria de pedra que separa a praia da avenida e a balaustrada construída em 1915 na abertura da via. E praia não tem número e cep, o que assim parece justo, porém, trata-se de área adjacente à avenida, outrora, o Caminho do Conselho, idos de 1536 quando da fundação da Vila Velha.
Sim, o donatário da Capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, recebeu da Corte de Lisboa terras que se estendiam do Porto da Barra até o Rio São Francisco, na régua, no traço cartográfico. E fundou um povoamento de europeus portugueses com fortificação e Casa do Conselho – onde hoje se situa o Forte de São Diogo – e abriu uma trilha chamada de Caminho do Conselho, em terra e mato, que seguia ao Norte em direção da capela de Nossa Senhora da Graça e a Leste rumo ao Oceano Tenebroso.
É neste caminho que o governador Geral do Brasil, Thomé de Souza, ao chegar em 1549, neste mesmo porto, pisa os seus pés em terra após dois meses no mar em travessia do Restelo, em Lisboa, até a Baía de Todos os Santos, acidente geográfico que recebeu este nome em 1501, na expedição exploratória da costa brasileira pelo navegador Cristovão Jaques.
E é esse mesmo arrabalde, 379 anos depois, que, em 1915, o governador J.J. Seabra abre a monumental Av. Sete, do São Bento ao Farol da Barra, 4.6 km, constrói uma alvenaria de pedra e uma balaustrada sendo o penúltimo trecho da via à beira mar, descortinando a cidade colonial e abrindo as portas do mar para o lazer. Até então, o banho de mar era utilizado como terapia medicinal nas praias como a da Barra e Rio Vermelho, mais distantes do centro histórico onde as praias e o mar serviam de pinico, com os barris de fezes jogados nele.
Esse trecho da Av. Sete – diferente da área comercial, da Ladeira da Barra, Corredor da Vitória e Campo Grande Aclamação – tem três movimentos durante o ano e um público diferenciado, tanto das pessoas que trabalham neste local, como dos usuários da praia e moradores. Os movimentos são: a alta estação do turismo – entre parte de novembro e dias de março; a baixa estação ou época das chuvas – de meados de março até meados de julho; e a estação intermediária – entre as segundas quinzenas de julho e novembro.
Quando digo que tudo no porto é diferente justifico com uma garota de biquini fio dental desfilando no calçadão ou um boy com prancha de surf e short havaiano, o que é impossível de se encontrar na Sete comercial onde circulam monges, freiras, senhoras em compras e advogados vestidos com terno e gravata.
Nessa área há também camelôs que vendem cerveja, refrigerantes, água de coco, óculos escuros, cangas, biquinis, colares, etc, isso no calçadão; e os ambulantes e isoposeiros da praia que comercializam camarões, cervejas, caipiroscas, sanduiches naturais, quibes, acarajés no prato, e também prestam outros erviços como aluguéis de cadeiras, pranchas, piscinas plásticas para crianças, etc.
O trecho da Av. Sete nessa área vai do Forte de São Diogo até a esquina da Rua Barão de Itapoan onde há uma sorveteria, a Doce Gelado e Açai. Então, a partir do Forte de São Diogo há o condomínio residencial Portofino, o Grande Hotel da Barra e o prédio amarelo de 3 andares da Casa Artesanato da Bahia. Chega-se ao largo onde a Prefeitura instalou com a Marinha, em 2022, uma estátua do vice-almirante Joaquim Marques Baptista de Leão (1846-1913), ministro da Marinha que se insurgiu contra a determinação do presidente Marechal Hermes da Fonseca em bombardear Salvador por navios da Armada em janeiro de 1912 e renunciou ao cargo. No bairro da Barra há, também, uma rua denominada Marques de Leão onde se situava o Bar Habeas Copus, que funcionou entre 1974 e 2024.
Nesse largo há duas pernas que se estendem pela Ladeira da Barra e Av. Princesa Isabel, esta última o antigo Caminho do Conselho, um hotel de grande porte o Rede Andrade Barra Hotel e a Cassi Turismo; a lateral do Grande Hotel da Barra com o restaurante Delícias do Mar, a Sorvete da Bahia, o Ateliê Arte em Reciclar, a Artesanato do Porto e uma outra loja sem nome; e no outro lado o Edifício Santa Maria, dois andares residenciais, e no térreo com um depósito de bebidas (loja), a Churrascaria Albano e uma terceira loja (fechada) a Macau. No lado do grande Hotel há o quiosque da baiana do Acarajé, dona Emília.
Entrando na Av. Sete propriamente dita em direção a Barão de Itapoan, colado a lateral do Edifício Santa Maria situa-se Edifício Glória no térreo com a loja do Açai Granola; adiante um casarão amarelo número 3659 dois andares com cobertura onde há um brechó e no topo a imagem de uma baiana; em seguida uma casa menor com telha de amianto Restaurante Van Gogh; adiante o Restaurante Ancorador instalado num sobrado azul com quatro janelas; depois uma residência rosa com janelas verdes (estilo neoclássico) número 500; o Limusine Restaurante, o restaurante Axé Bahia, o Café Ateliê Canek – este situado no prédio do Hil Hotel o maior em frente à praia.
Em seguida vem o Restaurante Todo Azul, um sobrado onde funciona um chinês de depósito de bebidas, a Casa da Felicidade – Arte Música e Gastronomia e embaixo uma loja de artesanato; um prédio amarelo pequeno; um prédio com 1 andar (fechado), uma doceria e depósito de bebidas chinesa e uma peixaria no térreo num prédio estreito na esquina da Cesar Zama. Aí há um calçadão e dando sequência no outro lado situa-se o Restaurante Portal do Mar térreo num prédio residencial de 3 andares.
Em seguida, um prédio estreito com 4 pisos verde número 3743 embaixo o Restaurante Blue Barra; ao lado um imóvel menor com 1 piso e cobertura; em seguida um estacionamento (sinais de abandono); dois imóveis fechados com grafites de Augusto Artista; depois vem o Hotel Porto da Barra (dois prédios pequenos com 3 e 2 andares); uma casinha azul (número 3787); o Hotel Barra Mar (fechado) em prédio amarelo de 3 andares; depois vem o bar e Restaurante Aruba Girl em casarão pérgola e mesas e cadeiras na avenida; o bar e restaurante Solar do Porto maior que o Aruba e com vista para o mar e mesas e cadeiras na Sete.
Há, adiante, um Centro Comercial com as lojas Apecatu Expedições, Galeão Sacramento Escola de Mergulho, a Gelo Tropical, depósitos de bebidas e de cadeiras e na entrada (calçadão) o Restaurante Sol Brilhante, conhecido popularmente como “Bar das P..”; adiante; o Edifício Monte Pasquali, 3855, 3 pavimentos, marrom, com as lojas no térreo Rei da Esfirra – delivery 71 99241 6003; Tarê – cozinha oriental; a Sr. Banana Açai, café; depois, o imóvel do Mana Brunch Smothie, Açai e Café; o Centro de Estudos Espíritas Francisco de Assis e um prédio de um hostel onde funciona no térreo a Doce Gelato, sorveteria.
Agora vamos para o outro lado da Av. Sete neste trecho que começa com o quiosque de coco que, em tempos do passado, pertenceu a Marco Polo, adiante a tenda de acarajé da Rosineide, um depósito subterrâneo da Limpurb, uma tenda - carro de venda de coco verde, um ponto de ônibus, um ponto de bikes Itaú, um vendedor de cangas para uso nas praias, outro carro de venda de cocos, chegando-se ao Largo Amigos da Marinha onde há um pequeno monumento ao almirante Tamandaré com vários camelôs no entorno, a tenda de acarajé da Neide, o quiosque de venda de coco de Nem; uma expo de fotos da Prefeitura além da estátua de a Stefan Szeif. Nos finais de semana, a baiana Sônia arma sua tenda neste final de trecho.
Emoldura essa área em frente ao mar o Forte de Santa Maria com museu e visitação aberta ao público. Falaremos dele e do São Diogo, separadamente, assim como da praia na época do verão.
O Porto Avenida Sete é frequentado, majoritariamente, por turistas e baianos da classe média. Não representa uma área no estilo Mônaco ou Ibiza disputada pelos ricaços e tem uma arquitetura variada e modesta, com alguns imóveis em abandono numa área tão disputada e querida em Salvador. Por que isso? O Porto, em certo sentido, virou uma área de risco diante da violência e dos deslocados e a classe média alta baiana e os ricos não querem saber dele, salvo aqueles que aparecem com suas lanchas al mare.
A disputa que falei acima (sobretudo da praia) se dá pela população de média e baixa rendas e a praia é semiprivatizada. Paga-se R$20,00 para sentar numa cadeira e os espaços livres são poucos. Os restaurantes têm preços variados entre populares e mais salgados e um peixe vermelho médio frito pode custar entre R$40,00 a R$90,00 a depender do local. Portanto, o porto (praia) da minha época de jovem com Marco Polo, Maria do Acarajé a rede de vôlei, a feijoada do Grande Hotel da Barra esse já acabou.
Ultimamente e com frequência estão ocorrendo casos de policia no Porto Avenida. Às noites, os restaurantes e bares fecham por das 23 horas e o ambiente local fica sombrio com a presença de travestis, boys e girls de programas sex, cafetões, etc. Nas madrugadas, então, tornou-se área de risco. Já no amanhecer os moradores da Barra próximos ao Porto se deliciam com o banho de mar na melhor praia da cidade, exercícios físicos, mergulho e jogo da peteca. E o pessoal da Colônia de Pesca sai ao mar e os mergulhadores vão à pesca de polvos e lagostas nas locas marinhas.
Assim é a Av. Sete Porto da Barra um misto de praia, habitação, lazer, negócios, serviços, alegria, correria, disputas e diversão. Um trecho da Sete diferenciado dos demais. Procure uma camisa com os dizeres: “I Love Porto” que v não acha. Pero, “I Love Porto” há 60 anos, desde quando Elmano Castro, el patron da Tribuna da Bahia tomava uns porres no Grande Hotel da Barra e nosotros em carnavais dos anos 1960 íamos curar a ressaca com um banho de mar no Porto.