A Alma da Senhora Av Sete é um livro de crônicas que está sendo publicado por capítulos pelo jornalista Tasso Franco no www.wattpad.com
Tasso Franco , Salvador |
08/08/2024 às 10:24
Beco Maria da Paz é o 1º da Av Sete logo após o Largo de São Bento e liga com a Carlos Gomes
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Já comentamos em crônica anterior que a Av. Sete se assemelha a uma cobra com cabeça na Ladeira de São Bento e rabo no Farol da Bahia. Vejo também a monumental avenida como um rio onde deságuam 15 afluentes classificados como becos, travessas e ruas camelódromos por onde circulam milhares de pessoas, diariamente e ajudam a manter o leito do rio em alta. Esse fluxo só diminui aos domingos dia em que Deus descansou ao criar o mundo e os baianos também descansam.
A maioria desses becos liga a Avenida Sete a Carlos Gomes (antiga São Bento de Baixo), outros a Av. Joana Angélica a Praça Barão do Rio Branco (Relógio de São Bento) e suas proximidades; um que liga a Mouraria a Sete; outro a Nova de São Bento ao Relógio de São Pedro; um que é largo e já foi Garganta do Rosário do Pereira ligando a Sete aos Barris; um sem saída; adiante um que liga o Corredor da Vitória a antiga praia Shangrilá na Baía de Todos os Santos; um na Ladeira da Barra que encosta na Vila Brandão, mas não sai por lá; e um na Barra que já foi do Leite de Camelo e é também rua.
Então, vamos nominá-los porque cada um tem sua história, uns mais do que outros, porém todos têm seus casos de amor, de desdita e afeto. O primeiro é o Beco Maria da Paz (1) que fica logo após o Largo de São Bento, à direita, colado com a Loja Borges Calçados. Em tempos idos os veículos passavam no sentido Carlos Gomes-Av. Sete e também foi um beco carnavalesco de grande notoriedade. Já brinquei vários carnavais nele, ainda que se passagem para a Praça Castro Alves e/ou para o Clube de Engenharia, mas havia barracas e muita confraternização e amassos carnavalescos.
Na atualidade está com cobertura zincada com tendas de roupas para crianças logo na entrada, peças para fogão de todos os tipos, artesanato em cerâmica – os fofos mealheiros porquinhos de barro – doces e confecções. Mais próximo da Carlos Gomes há três lojas de confecções e uma de roupas típicas da Bahia e indumentárias para praticantes do candomblé, um vendedor de refrigerantes e água, a Neide Cabelos e o Chaveiro da Paz – chaves e carimbos.
De um lado, já esquina com a Carlos Gomes o prédio da APLUB e o Instituto de Óculos – onde tem sempre um grande movimento de pacientes – e do outro lado o Edifício Bandeirante.
Adiante, a esquerda da Av. Sete está a Rua do Paraíso (2) também chamada de Beco do Paraíso uma via estreita que sai da Mouraria e acessa a Sete na parede do Colégio São Bento e passam veículos, sentido único. Há residências e comércio de ponta a ponta. Já morei nesta rua no Conjunto Residencial São Bento, em 1969, com mais três amigos, prédio que chamávamos “Balança mais não cai” e ainda estava em construção. Não havia servidor na portaria e os moradores se entendiam.
Lembrando que, nessa época, a violência em Salvador era mínima. Hoje, este prédio foi requalificado e tem grades por todos os lados e portaria com alarmes de segurança e vigilância. E, no final da rua, já na área que é mais conhecida como beco há vendedores ambulantes e um senhor que vende jacas porções ou gomos há mais de duas décadas.
Essa rua-beco era uma estradinha da área do Convento onde os beneditinos instalaram a senzala dos escravos e só para o serviço do convento existam 37 homens e mulheres que foram alforriados em meados do século XIX. Posteriormente, os frades construíram um muro e com o crescimento da cidade a estrada virou a rua do Paraíso.
Andando-se mais cem metros chega-se ao Beco 11 de Julho (3), hoje, nominado pela Prefeitura como Camelódromo 11 de Julho. Trata-se de um beco estreito que liga a Rua Nova de São Bento a Praça Rio Branco (Relógio de São Pedro). Também já morei na Nova de São Bento, em 1967/68, numa pensão, e esse beco não era tão movimentado como hoje e pela Nova de São Bento circulavam veículos entre o Paraíso e a Joana Angélica. Hoje, só circulam até metade da rua, pois, no lado da Joana Angélica onde se situava o Restaurante Bela Napoli há um calçadão com tendas no centro e amoladores de alicates e tesouras.
No Beco 11 Julho a partir da Nova de São Bento há grandes lojas – a Brisa, a Mega 20 & Cia, Lanchonete, Loja de produtos para festas e um ateliê de costura e alugueis e confecções de roupas e máscaras. Há dez anos encomendei neste ateliê uma máscara de lobisomem e indumentária fantasia que usei no Bacalhau da Barão, em Serrinha, uma vez que o “Lobisomem de Serrinha” é um dos meus personagens literários.
No 11 de Julho, a partir do meio do beco há tendas de meias, folhas, tiras de havaianas, conserto de relógios e brinquedos e as pessoas passam espremidas para atravessar a área. Fala-se também que é o beco das folhas, pois, tem de vários tipos para chás e olhados. Na entrada do beco – lado do relógio – há uma vendedora de comida PF em isopor na base de R$10,00 a quentinha.
Nessa área da Av. Sete conhecida como Relógio de São Pedro existem mais três becos – a Rua 21 de Abril, hoje, conhecida como Rua das Frutas ou Beco das Frutas (4), o Portão da Piedade (5) e o Beco do Cabeça (6), hoje, nominado pela Prefeitura como Camelódromo Rua do Cabeça.
Vamos por parte. A 21 de Abril liga a Joana Angélica ao Relógio de São Pedro. Em tempos passados circulavam ônibus que vinham da Liberdade, Lapinha, Barbalho, Nazaré e entravam por aí saindo no Relógio e seguindo para a Praça da Sé. Há alguns anos virou camelódromo a céu aberto com maioria das tendas vendendo frutas: daí ser chamado de Beco das Frutas.
Existem ainda prédios nesse beco como os edifícios Rio Branco e o Laje Empresarial, restaurante popular (serve moqueca de fato), lanchonete, cabeleireiro de rua e loja de celular, a Casa Nova Utilidades – preço único R$6,00. No Edifício Rio Branco existe uma galeria especializada em celulares com várias lojas – a Jian Gell, a Rios Itech, Mundo do Celular, Vando, João Peças, China Tech e lojas de baterias para celulares. É uma área movimentadíssima e uma gritaria enorme dos vendedores. Parece os mercados de peixe populares da Itália.
O Portão da Piedade é mais estreito do que a Rua das Flores ou Beco das Flores e mais organizado e as tendas 1m, 1m30cm, máximo 2 metros de largura cada uma delas com mercadorias até o teto dos dois lados algo em torno de 80 vendem de tudo, porém, o que mais de se comercializa são brinquedos para crianças, mas tem de relógios a confecções, meias outros. Nos corredores apertados há lojas e prédios. Liga a Av. Joana Angélica na altura da OAB ao Relógio e na boca de entrada da Joana Angélica há uma feira de verduras e uma baiana do acarajé.
Do lado esquerdo sentido Relógio estão as lojas CS Modas, ASP crédito, Atacadão, o Edifício Kennedy no térreo com as lojas Monte Blanco (joias), uma galeria com relojoaria, compro ouro, adiante A Amiga, variedades da China, o Atacadão do Celular e o Ponto do Relógio. No outro lado, a VIP Jeans, Conserto de Celulares e blindagem, uma lotéria do bicho, Ponto da Moda, Armarinho das Unhas, Nivaldo galeria conserto de joias, Site das Modas, Bebê Feliz, Mega Max, Conserto de Celulares, Vest 35, Leal Modas Kid e Basil-Inova.
Em todos esses becos já citados, a exceção do Paraíso, há jovens portando as tabuletas de vendo e compro ouro, batedores de carteiras e de celulares, propagandistas e panfletistas. No Portão da Piedade beco com aproximadamente 80 metros existem mais de 100 tendas e lojas. Impressiona.
Do lado direito da Avenida localiza-se o Beco do Cabeça ou Rua do Cabeça antiga área do Distrito de São Pedro onde as picaretas do JJ Seabra, na construção da Sete derrubaram vários casarões, sobretudo na Rua do Duarte e Beco do Senado. Esse beco liga a Sete a Carlos Gomes saindo no Largo do Mucanbinho seguindo em direção ao Sodré e Areal de Cima.
Diria que esse é o beco das bolsas, bags e malas de todos os tipos e gostos. Há uma grande variedade nesse local, mas também se vende: doces, rapaduras, mel, castanhas, cocadas, cuecas, calcinhas, buchas, azeites, banca de relógios, banca de perfumes e cosméticos, banca de folhas, banca de celulares e capas, o Edf Marques de Abrantes, uma farmácia popular, uma loja de confecções sem nome. a Kavíssia (modas) e um ponto do bicho. Beco coberto e com circulação de pessoas em aperto.
Mais à frente, 50 a 60 passos, encontra-se o Beco do Mucambinho (7), hoje, também chamado de Beco das Sobrancelhas próximo da Praça da Piedade, ligação da Av Sete com a Carlos Gomes, também chamado do Beco da Beleza". Há um grupo de manicures, pedicures, cabelereiras e cabelereiros, esteticistas, que deixa as pessoas mais bonitas com unhas em gel, escova, corte, sobrancelhas, etc, tudo a preço popular com serviço no momento sem hora marcada. Quem vai chegando escolhe a profissional que vai fazer o "new-look" e se tiver fila entra nela esperando sua vez.
Os profissionais trabalham com rapidez, há espelhos para acompanhar os serviços (se for corte de cabelo, etc) e no pagamento vale tudo: dinheiro vivo, cartão, pix, tiquete, menos fiado. Como me contou uma manicure, "meu prezado aqui sentou pagou". Os preços variam de R$10,00 a R$30,00 e existe um acordo entre os profissionais - espécie de cartel - para não queimar a tabela. Há um salão de beleza formal onde já cortei meu cabelo (R$20,00) 0 Naturally.
Faz-se sobrancelhas na lâmina ou na linha. A maioria das clientes prefere passar uma tinta especial para cobrir falhas e dar contorno, a popular ‘henna’”. A quantidade de stands disponíveis varia a depender do dia, com o movimento maior nas quintas e sextas-feiras. Aproximadamente 10 autônomos fazem do salão de beleza a céu aberto sua fonte de renda. Em comum, além da profissão, o preço: R$ 10 na lâmina; R$ 15 na linha e R$ 20 na henna, conta o repórter Gabriel Moura, Correio.
O espaço funciona organizado no Mucambinho – expressão antiga que significa local para receber negros fugidios - desde antes da pandemia 2017/2018 e é uma aglomeração de trabalhadores que antes atuavam em outros cantos do Centro. Após a chegada dos espelhos e cadeiras, outros estabelecimentos abriram as portas por lá. Hoje, funcionam chaveiro, loja de mochilas infantis, banca de óculos, consultório odontológico e até um salão de beleza tradicional (Naturally), com porta e ar condicionado.
Adiante, a poucos metros situa-se o Beco da Forca (8), hoje, Rua da Forca camelódromo, coberto, e que em tempos idos os veículos vinham das Mercês entravam nele e saiam na Rua Carlos Gomes, na altura do La Fontana (chope) – hoje, loja de bolsas; e antigo Brazeiro – hoje, churrascaria chinesa. Essa rua segue adiante até a Praça Inocêncio Galvão conhecida como Largo 2 de Julho e emblemática tendo esse nome porque os conspiradores da Revolução dos Alfaiates, 1798, foram conduzidos por ela para serem enforcados na Praça da Piedade.
Trata-se de um beco com grande movimento de pessoas, porém, menos do que o Cabeça e o 11 de Julho. No Forca há tendas de confecções, artigos para fogões e liquidificadores, bancas de folhas, CDS, Doces e a tenda de dona Ana que vende roupas para cães e a Alice design, manicure. Existem também no lado da Carlos Gomes no âmbito do beco, o Edifício Barão do Rio Branco, a Churrascaria Liang (chinesa), Angelos Eletrônica, a Copiadora da Hora, uma loja de suplementos, o Pastel Chinês.
Também neste mesmo corredor encontra-se o Beco da Farmácia (9), antigo do Mijo. É o beco mais estreito da Av Sete e liga-a a Carlos Gomes onde se localiza o também emblemático Edifício Totônia que ficou famoso por concentrar garotas que faziam massagens sex, em algumas de sus salas, que eram alugadas e equipadas para esse fim. Ainda existem não só no Totônia mas em outros locais da Sete, hoje, também massagens sex de homens, travestis e cisgêneros. O Edifício Totônia, hoje, está muito mais estruturado e com portaria eletrônica.
Esse beco embora seja o mais estreito é fechado às noites com grades de um lado e do outro há, ainda, a portaria do Edifício Raimundo, a Bela Visão Vip e um chaveiro Nelson chaves e serve como estacionamento para algumas motos.
Anda-se mais 100 metros e chega-se ao Beco Pedro Autran (10) também conhecido como Beco do Sapateiro de Irará que é o único a partir da Carlos Gomes que acessa a Av Sete por veículos de passeio e motos e sai de testa com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pereira, antiga Rosário dos Brancos. Nesse beco há comércio no Ponto do Celular, Point do Ivan (bar e petiscos), um depósito de bebidas, o restaurante Panela Divina e o Sapateiro de Irará. Conheço esse sapateiro há anos e já utilizei seus serviços.
Nessa área à esquerda, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, era a antiga Garganta do Rosário (11), acesso dos bonés aos Barris, só ida. No retorno, os bondes pegavam a Direita da Piedade. Hoje a Prefeitura colocou o nome Camelódrono Largo do Rosário e há cinco bancas no lado da Av Sete – vendas de óculos, relógios, artesanato, doces e salgados; em seguida vem a garganta ou beco onde fica o Restaurante Lugar Comum e outros e depois surge um outro largo (o nome vale para os dois), vários bares e restaurantes, a Casa Portuguesa – restaurante e bar – e Edf Tani.
Nas Mercês, lado direito da Avenida localiza-se o Beco da Quebrança (12), onde passam veículos no sentido Carlos Gomes esquina com a Loja Le Biscuit e do outro lado fica o Residencial Alice Prado, um enorme pensionato. Nesse beco há, ainda, os edifícios Rafael e Marcílio Dias (advogados), a Central do Silk, St@mpnet plotagem de banneres.
Ainda nas Mercês há a Travessa Salvador Pires ou Beco do Sebrae (13), sem saída para a Av. Sete (há blocos de gelo baiano impedindo) ao lado do antigo Palacete das Mercês, morada de ex-governadores e onde residiu JJ Seabra na época de construção da Av. Sete – prédio em abandono – e que se transformou num estacionamento de veículos.
No Corredor da Vitória há a Travessa Hugo Wilson ou Beco do Abaixadinho (14) ou também Beco do Wilson, localizado no final do Corredor entre o Museu e a Mansão Carlos Costa Pinto e a Casa das Frutas (antigo Armazém Vitória). O Abaixadinho, como o próprio nome diz, embora ninguém precise se abaixar para entrar nele, é um restaurante popular.
O restaurante pertence a dona Maria Luisa Souza da Purificação, Dona Lita, a qual nos 76 anos de idade, atende aos clientes como a mesma modéstia e simpatia desde 1980 quando o velho Souza faleceu e ela passou a administrar a casa. De alguns anos para cá com o reforço da filha Rita Souza Lima, 48 anos, um dínamo.
O Abaixadinho tem história que é também a narrativa do beco área que pertenceu a família Costa Pinto e era usada em moradias com único banheiro, por operários que trabalhavam nesta empresa. A travessa foi adquirida pelos espanhóis Garcia e Laureno, em 1963, galegos que chegaram a Bahia fugindo dos rigores da ditadura franquista e se estabeleceram no Corredor com o Armazém Vitória, de secos e molhados.
O beco tem o nome de Hugo Wilson ao que tudo indica o aportuguesamento de Hugh Wilson um inglês que morou no Corredor no século XIX. Muitos ingleses se estabeleceram neste trecho da cidade a partir da ‘cólera morbus’ de 1855/1856, e o líder desta colônia inglesa Edward Pellew Wilson foi dono da casa no Campo Grande que serviu de morada dos arcebispos e cardeais da Bahia.
O certo, comenta Rita, é que o beco existe e “desde quando eu era menina muita gente descia por aqui para ir à praia Shangrilá que ficava lá em baixo, na Baía de Todos os Santos, e acabou essa farra quando foi construída a Mansão Carlos Costa Pinto e erguido um muro no local”.
Hoje, o Beco Wilson, como é popularmente conhecido tem 16 construções casas e pequenos prédios cujos donos são os herdeiros de Garcia e Laureano que cobram aluguéis por esses espaços.
Em tempos idos, quando a agência de publicidade Engenho Novo, de Fernandinho Passos, tinha sede no Corredor, promoveu a Lavagem do Beco e o local que já era festivo, as famílias sempre trocavam brindes e bolos no Natal e outras festas, ganhou popularidade.
Na Ladeira da Barra, próximo da Propeg quase em frente ao Solar das Mangueiras há um beco Sem Nome ou Beco da Costureira (15) que, no passando tinha uma casa de massagem com garotas sex e serviço especializado no prazer. Hoje é um beco com grade e uma caixa de Correios e mais a placa Anna Costureira e Reformas em Geral fone 99916-0520.
E, no Porto da Barra existe a rua César Zama ou Beco do Leite de Camelo (16). Essa rua onde fica a Associação Atlética da Bahia nasce na ligação com a Marquês de Caravelas, mas quando chega no entroncamento com a Barão de Sergy se transforma num beco calçadão (não passa carros só motos e bikes) onde fica a Pousada Manga Rosa e o Tik Bar bistrô Por do Sol. Antigamente tinha um barzinho na esquina que vendia uma batida leite de camelo à mancheia. E, na outra esquina havia o bistrô Berro d´Água que marcou época.