Povo pediu pra Joãoaquim se afogar e ele pediu calma e ficou agachado na boma esperando a comida esfriar para não morrer estuporado
Tasso Franco , Salvador |
28/07/2024 às 08:16
Povo pedia "se afoga, se afoga, se afoga" e ele seguiu sentado na caixa d'água
Foto: SERAMOV
Prólogo:
O representante da Manga, Castor Jaboticaba, pediu a nossa atenção e assim orou: - A ciência, pelo pouco que alisei os bancos dos estudos, nunca se pronunciou se, de fato, de concreto, existe essa relação entre os cervejeiros e a tesão, pois, em sendo cervejeiro contumaz e na nossa querida Manga esta bebida também está sendo a preferida da elite, também gelada em barricas, sinto-me pleno de satisfações com a minha querida Alaide, a qual queixas não faz e pede mais. É o que tinha a dizer ressalvando que cada caso é um caso e, portanto, não desmereço o conto e aplaudo.
O professor Vieira Romanzeiro também se manifestou: - Não gostaria de entrar no mérito dessa questão até porque não sou fiscal desse tipo de atividade, mas, é sempre bom aludir que essas coisas modernas que estão chegando na nossa aldeia, tais como a cerveja, a mini saia, a “twist’, a lambreta, o uísque “Old Eight, etc devem ser vistas e usadas com cautela porque a indústria quer vender, o comércio quer faturar, é uma corrida maluca em cima da gente que não tempos meios de verificar se são bebidas autênticas e se não contém químicos que processam efeitos negativos.
- Muito bem – sinetei – chega de prolegômenos e quem quiser beber que beba e para isso temos no nosso Conselho técnicos especializados em Vigilância Sanitária para atestar a qualidade dos produtos à venda em nossa aldeia. Passo a palavra a senhora representante dos Crentes e do bairro do Ginásio, Glória Pulquéria Bananeira para sua apresentação que seja rápida e concisa, pois, ainda tempos dois outros palestrantes finais e dona Agripina já me sussurrou que seus candeeiros só suportam boa iluminação até às onze da noite e depois disso, se preciso, seguiremos às luzes de velas, o que, convenhamos não é agradável e os senhoras e senhoras ainda têm que se deslocar para suas casas.
Assim começou a falar a senhora Glória Bananeira discreta na veste que usava, beirando seus 50 anos de idade, alta, magra, parecendo mais uma freira do que uma crente, seios miúdos quase imperceptíveis, usando uma camisa branca com botões azuis, nada a embelezar sua face brejeira na cor de jambo, olhos de lince, uma lady com traços acaboclados, olhar sincero, letrada, pastora e professora de profissão: - Estou encantada com esses contos que falaram da alma do nosso povo, do cerne, da mente, desses boêmios que cantam para suas reclusas amadas, dos cornos – desculpem a expressão – poderiam chamá-los de mal amados que seria mais elegante na minha fala – e fiquei emocionada com o intrépido Marlinhos Avião, com o zebu mordido e o conto que vou narrar tem alguma semelhança com aqueloutro, o vivente a ser colocado em tela cismou, encafifou, que está sendo vitima da infidelidade e conheço a sua esposa, uma biblista, dona Epifânia, senhora recatada, cristã, de citar versículos de Mateus ou Lucas de cor e salteado, e como vocês todos sabem na nossa aldeia não existe psicólogo (a), um discípulo do senhor Freud para atender esse homem que se sente infelicitado injustamente, levando carapuça de si mesmo, de sua mente doentia, em ser um chifrudo, e o inventor da psicanálise já dizia que conflitos interiores brotam na adolescência, e também idealizou o complexo de Édipo de atração sexual do filho pela mãe e uma rejeição ao pai, daí que eu sendo apenas uma mestra escolar, uma professora sem conhecimento científico da psicologia e da psiquiatria, diria que o caso desse senhor que tem essa obsessão na cabeça e não fala noutra coisa dizendo a bendita esposa, que se ela não parar ele pode dar fim na sua vida, e quando ela procura saber sobre esse parar, se estava fazendo alguma coisa erra, um café mais forte, um tempero mais apimentado na comida, ele dizia que não era nada disso e sim a infidelidade, que sentia umas pontas nascendo em sua testa e ela mandava ele orar, mandava ele acender umas velas para Senhora Sant’Anna para que a santa iluminasse sua mente, pois, toda a vida ela sempre foi só dele, integral, e nunca passou pela cabeça tal ato, nem de longe, e a situação chegou a tal ponto que ele começou a expor essa situação irreal, inventada, nas rodas de conversas da rua, na barbearia, no bilhar, na padaria, e seus amigos diziam que era para ele ter cautela, ter ao menos alguma pista, e ele dizia que iria se afogar na bomba e estava decidido a fazer isso.
Chico Cabeleira interrompeu a senhora Glória e pediu a permissão do mediador para dizer que este senhor, que sequer sabia o nome; nem gostaria de saber, merecia, isto sim, era uma surra com folhas de cansanção para ele sentir o ardor no corpo e um bocado de chifres em sua testa.
Retomou a palavra a senhora Glória: - Creio que esse remédio não resolveria embora pudesse ser um bom corretivo e o que tem que fazer é ir a capital de trem e procurar um psicólogo ou um psiquiatra e se receitar, curar a mente, curar sua cabeça, e a gente sabe que cansanção não cura, chá de pau de rato também não, cachaça, pior, porque a mente é invisível, mas tem um poder de criação enorme, você veja que em nossa aldeia tem esse senhor Anizio, homem alto, elegante, bem apessoado e que anda pelas ruas o tempo todo tocando um sax de papelão, imitando sons com a boca, marchando, algo completamente fora do normal, e o povo chama ele de “Raspilho”, tem dona Maria Chupa Bico que fica na porta da matriz chupando bico o dia todo ela que já passa dos 50 anos, tem Buzo da Flauta, Maria Psiquila, Sirnando da Cabeça da Vaca e muitos outros que sofrem da cabeça e são saudáveis e andam pelas ruas...
Toquei a sineta e ponderei: - Senhora Glória fineza concluir seu conto, pois, se a madame ficar falando dos doidinhos de nossa aldeia vai demorar bastante e aqui, todos sabemos, existem também uns espertos que se passam por doidos, mas são gananciosos e especuladores.
- Pois, não, senhor mediador vou concluir: voltando ao personagem que estava falando certo dia ele chegou em frente ao Café Gonzaga e fez um discurso dizendo que ia se afogar na bomba e começou a juntar gente pra vê-lo e quanto mais gente se reunia ele inflamava no discurso, sem falar da sua esposa, sem nada, e o povo ficou curioso e ele desceu de um tamborete donde falava e disse: “É agora, vai ser agora” e começou a tirar a camisa como gesto de raiva, e desceu a Barão de Cotegipe e o povo atrás dele, dobrou a direita adiante e pegou o caminho do Largo da Matança, tomou rumo pela Manoel Novaes à esquerda, atravessou a Getúlio Vargas e quando chegou na bomba deu uma careira e se jogou no açude e o povo chegou um pouco atrasado ao local, mas, instantes depois que ele teria se jogado, e sem saber nadar como propalava iria morrer, mas ninguém viu um borbulho d’água, ninguém viu um redemoinho, e o povo foi chegando mais perto e havia uma caixa d’água onde se situava uma bomba quando um menino viu o suicida agachado num canto, escondido, e gritou: “olha ele ali”, e o povo todo começou a gritar “se joga, se joga, se joga”, e ele então, escabreado, pediu a palavra e disse que havia comido um cuscuz com meia dúzia de ovos e café bem quente, portanto, iria esperar esfriar a comida na barriga, pois, queria morrer afogado e não estuporado. Terminei seu mediador, muito obrigada.
Como mediador fiquei curioso o que teria acontecido depois do esfriar a comida e procurei saber de dona Glória o que se passou.
- Ora, meu querido mediador, quando a comida esfriou pediu desculpas ao povo, solicitou licença, se levantou e foi embora pra casa, e o povo, que é malino, ardiloso, critico colocou o apelido nele de Joãoaquim Afogado e ele viveu para sempre com dona Epifânia.
Moral da história: Não confie no povo; se queres morrer afogado não contes pra ninguém