Cultura

A ALMA DA SENHORA AVENIDA SETE, CAP 7: QUATRO RESTAURANTES POPULARES

Vamos mostrar todos os restaurantes da Av 7, as lanchonetes, baianas de acarajés e tendas de pirão e churrasquinhos
Tasso Franco ,  Salvador | 12/06/2024 às 19:45
Comida da Mãe, prato servido no Point, R$35,00
Foto: BJÁ

    Há mais de 25 restaurantes na Senhora Avenida Sete. Conheço quase todos, mas ainda não contei nas pontas dos dedos como fazem as crianças. Alguns são o que na Bahia se dizem situados em bairros nobres - Barra, Vitória e Campo Grande - e outros no trecho do comércio entre Mercês e Ladeira de São Bento. Por sinal, já falamos de um deles nessa área, o mais barato de todos em visita que fiz com o conselheiro Marconi, no Rei do Churrasco, onde se almoça ao módico preço de R$13,90.

      Comentamos agora nesta inicial prosa com meus leitores e amáveis leitoras quatro outros restaurantes situados na digníssima Senhora 7, dois deles na modalidade “coma a kilo” - é assim que se escreve na nossa cidade - que os sofisticados abominam, os cronistas de escol abjuram; e dois deles a la carte, por sinal nos tais bairros nobres cujos barões e marqueses desapareceram de cena com a implantação da República, em 1889, com o glorioso marechal Deodoro da Fonseca. 

     Acá, sim, no período colonial tivemos alguns condes, marqueses e vice-reis morando em Salvador, o conde de Vila Pouca de Aguiar – Antônio Teles da Silva – governador conhecido como Telo; o marques de Montalvão, governador Dom Jorge de Mascarenhas; o conde de Alegrete, Matias de Albuquerque; o vice rei Vasco Fernandes César de Menezes só para citar alguns exemplares da nossa sepultada nobreza.

     Os dois sítios “coma a kilo” em apreço são o Pimenta de Cheiro, situado na Casa d'Itália, consulado honorário com prédio do neoclássico italiano em decadência; e o Café São Pedro instalado na Paróquia de São Pedro, na Praça da Piedade com Avenida Sete, ambos com preços justos – outro termo dos baianos - e comidinhas deliciosas. E os dois à la carte – modismo francês que significa serviço com cardápio - são o Point, localizado no trecho do Campo Grande, comida de boteco, e o Limusine, no trecho do Porto da Barra, que pertence a um suiço, ambos, também, com comidinhas deliciosas.

    São restaurantes frequentados pela classe média cada qual com sua característica o Café São Pedro apreciado basicamente por cristãos que comparecem a Paróquia e donas de casas que fazem compras na Sete. O Pimenta é majoritariamente visitado por policiais militares - fica vizinho ao quartel do comando da PM na Bahia, em Aflitos - e comerciantes das Mercês; o Point convivido por moradores do Campo Grande e turistas e visitantes em congressos e outros que se hospedam no Hotel Wish - antigo Hotel da Bahia (fica em frente a este hotel); e o Limusine, por se situar no Porto da Barra, é o restaurante típico para turistas. E é mesmo.

    Tem esse dizer entre os baianos: “Não vou naquele restaurante porque é de turista”, ouve-se com frequência essa frase dos nativos. Em miúdos significa dizer que não é apreciável para os locais e a comida não é preparada com esmero. O arroz é sem gosto e a moqueca de peixe feita de forma apressada. O que, em parte, é verdade. Mas, no geral, não. No Limusine, yo e a madame Bião – dileta esposa - saboreamos um peixe vermelho frito saboroso. E eu falei ao Cláudio, o garçom, que só aceitaria se fosse um frito bem preparado. O que ele consentiu.

    E, diria, que quando o vermelho chegou à mesa, demorou um pouco para aportar em nosso cais, provamos e estava delicioso, ao ponto. Mas, ouvi da madame Bião que o arroz e a farofa eram insossas. O que pilheriei: - Pra turista. – Mas eu avisei a ele (o garçom) que sou da Bahia. Mais pilheria: - Então, ele (o chef da cozinha) achou que eu era francês.

     O importante a destacar é que esses restaurantes têm preços modestos, aceitáveis aos bolsos da perseguida e espoliada classe média e nos “coma a kilo” gasta-se, em média, entre R$25,00 e R$30,00 numa refeição; e nos à la carte R$45,00. Sem contar, óbvio, as bebidas, cujos preços são variados: um suco no restaurante da paróquia vale R$4,00; no dos turistas, R$10,00.

   Há, ainda, as diferenças entre estilos e comportamentos das pessoas, em cada um deles. No Café São Pedro não serve bebidas alcoólicas e há dois ambientes com bom público, quase sempre lotados na hora do almoço, com muitas senhoras e idosos. São locais com cara de igreja, silêncio, paz, mesas compartilhadas, tudo bem acolhedor.

   No dia em que almocei por lá saboreei um pene ao suco com salada, arroz integral, frango assado e mais suco de laranja. E compartilhei a mesa com mais três fiéis e não trocamos frases nem palavras. Perdão: pedi a velhinha que estava ao meu lado que me passasse o porta-guardanapos e fui atendido, prontamente. – Amém, irmã agradeci. 

   Já no Pimenta de Cheiro, na Casa d’Itália, passei por lá numa sexta feira e a comida servida era a baiana – vatapá, caruru, feijão fradinho, banana frita, etc, e adorei a refeição. No serviço, organizando meu prato, ao meu lado estava um jovem major da PM, educadíssimo, também fazendo o seu prato, e portando duas pistolas na cinta. Nada assustador, é claro, são seus objetos de trabalho em rondas policiais, mas, vocês veem a diferença, em relação ao restaurante da Paróquia, onde as pessoas entram e se servem portando missais e terços.

   No Limusine, já dito que é de turista, no Porto da Barra, os garçons usavam trajes típicos do momento junino e ficam no calçadão convocando os clientes e fazendo ofertas, numa concorrência com os demais de outros restaurantes que fazem o mesmo. É uma disputa sadia, eventualmente com a troca de alguns sopapos, e conquista os clientes aquele que faz a melhor oferta, suponho. 

   Não foi o nosso caso – yo e a madame – que já fomos determinados ao “Jasmine”. Assim falei com ela ainda quando estávamos no calçadão do Farol da Barra dizendo que almoçaríamos no “Jasmine” um restaurante florido no Porto. Ela, claro, consentiu. A questão é que quando chegamos ao local e ela leu a placa do restaurante viu que se chamava “Limusine” e disse: - Estamos no local errado, não há flores, jasmins, nada, o que vejo é um automóvel, uma “limousine” – esnobou em seu francês.

     Em restaurante de turista beira de mar a paisagem é outra. O Limusine tem dois ambientes – no calçadão e o salão interno climatizado e turista é turista em qualquer lugar do planeta, sempre conversador, abusado. Na parte externa almoça-se sem camisa e de sunga, mulheres de biquini e assim por diante. E turista – em grupo – adora falar alto, causar, badalar, fazer fotos e vídeos, o que denota, meu caro, que não é casa intimista nem sossegada.

    Já o Point, no Campo Grande, instalado numa loja térreo de um prédio residencial, o ambiente é mais aprazível. Lembra um pouco um bar de boemia, o velho Colon do Forte, alguns clientes vestidos nesse modelo à antiga, tem dias com música ao vivo e outros com karaokê.  

    No dia que fui estive por lá saboreei um prato típico da casa chamado “Comida da Mãe” – carne de panela com toque de molho caseiro, acompanhado com purê de aipim, banana da terra, farofa de torresmo e salada vinagrete de pepino japonês – confeccionado pelo chef Pedro e inspirado nas comidinhas preparadas por sua mãe Judith. Sugestão do garçom Romildo.

    O Point tem dois ambientes - um na calçada da Av Sete - e o outro interno, espaçoso, arejado, com decoração simples, banheiros limpos (este é um ponto importante), área ampla para lavar as mãos e pentear-se, serviços de qualidade, cerveja geladíssima e sorvetes e picolés deliciosos. 

  Além do que, ótimo local para ir com os amigos para um papo descontraído como o que assistimos, de senhores e senhoras em animada conversa, e também para casais e pessoas que vão solo como yo, que compareci depois de uma caminhada na Sete.

   Lê-se no descritivo da casa, que Dona Edith "sempre usou de forma sábia a manipulação dos alimentos, tendo o cuidado de processar o sabor dos pratos com as dosagens certas dos temperos e o tempo de cozimento. Com isso, gerou um dos pontos fortes de sua cozinha em reservar a textura e o sabor dos alimentos".

   Para dona Edith - segue o texto - "cozinhar, além de ser um prazer e um ato de amor, era também uma forma de reunir de recepcionar a família e amigos, trazendo alegria e conforto por meio da comida". Entende que a cozinha afetiva é muito mais do que preparar alimentos. "É uma expressão profunda de amor, cuidado e conexão. Ela transcende o simples ato de cozinhar, transformando-se em uma linguagem única que fala diretamente aos corações daqueles que compartilham uma refeição".

   Pois dito, assim, o Point serve também - só a título de exemplo - assado de porco (R$28,00), bife de carne ao molho (R$27,00), carne de sol (R$38,00), frango com pirão (R$25,00), picanha na chapa (R$58,00). Toda sexta-feira tem comida baiana com xinxim (R$33,00), comida baiana com arraia (R$33,00), e todo domingo feijoada (R$40,00). Ademais, moquecas de camarão, peixe - bobó de camarão.

   Para petiscar bolinhos de queijo, bolinhos de bacalhau, quibe, camarão encapotado, camarão alho e óleo, isca de peixe e isca de frango com fritas, etc.  Cervejas Budweiser, Spaten, Stella Atrois e Heineken Trata-se de um restaurante tipo "comida de buteco", de boa qualidade e local agradável de ser frequentado. Nem parece um "boteco".  

   Bem apresentei a vocês quatro restaurantes da Avenida Sete em bairros distintos, com preços e públicos diferenciados. Em dois deles, “comida a kilo” o atendimento é mais rápido porque os clientes são que fazem seus pratos, à gosto, no modelo ‘chegou, serviu, comeu’ e a média de preços R$30,00 por refeição; nos à la carte fazem-se os pedidos aos garçons e demora-se meia hora (ao menos) para atendimento. No Point, média de preço por refeição R$40,00; no Limusine R$65,00.  Além do que, nos à la carte cobra-se 10% nos serviços.

   Nenhum deles tem estacionamento próprio ou manobrista. Portanto, se não moras perto de um deles, vá de táxi convencional, UBER ou 99. Bom apetite.