Cultura

GINJINHA ESPINHEIRA DE LISBOA: TRADIÇÃO DE 1840 COM FILA NA PORTA (TF)

Bebe-se no pé do balcão ou no Largo de São Domingos
Tasso Franco , Salvador | 18/01/2024 às 10:58
Ginjinha Espinheira a mais famosa de Lisboa
Foto: BJÁ
  Creio se não me falha a memória que experimentei a primeira dose de uma ginjinha - licor português de ginja uma fruta que parece cerejeira - lá pelos anos 1980/1990 no Porto Moreira oferecida pelo saudoso Antonio Moreira, no restaurante de comidinhas baiano-portuguesas do Mocambinho, Salvador, que fechou suas portas ano passado, após 80 anos de existência. E, a partir desse momento, sempre que ia a Portugal, quando retornava à Salvador trazia uma garrafa de ginja para ele.

   Ademais, toda vez que retorno à Lisboa, como aconteceu recentemente, passo na Ginjinha da Ribeira (do Mercado da Ribeira) para umas doses, onde, em 2021, a madame Bião e sua madre Antonia Leda aceitaram quase uma botella e sairam bem alegres. Agora, retornamos lá, yo e a madame, e também conhecemos (até por acaso) a tenda da Ginjinha Espinheira, a mais famosa e premiada de Lisboa, no Largo de São Domingos, e primeira a vender o famoso licor, a partir de 1840.

  É um local bem apertadinho que só tem uma porta e uma pessoa servindo o licor. Com anda sempre repleta de nativos e turistas enfrenta-se uma fila para saborear o licor e bebe-se no largo, em pé, ou mesmo ao pé-do-balcão de um gole só. Mas, o recomendável é saborear a ginjinha com pequenos goles sentindo o aroma da bebida que é delicosa. 

  Aviso aos incautos. É o tipo da bebida para aqueles que não estão acostumados que "pega" como se diz na Bahia. Isto é, se apresenta como leve, deliciosa, tipo licor encorpado de jenipapo na época junina, e se a pessoa bebe 3 a 4 doses achando que é saborosa e leve acaba tropeçando as pernas.  

  GINJINHA ESPINHEIRA

  Segundo dados da Espinheira, as raizes da casa data de 1840 inicialmente no nº 27 da Rua das Portas de Santo Antão, à época um local bem avivado segundo o folclore Lisboeta dos meados do séc. XIX.  "Aí se susteve a nossa mais antiga fábrica e a partir daí se produziam, vendiam — e se celebravam — os vinhos e licores que hoje entendemos como antepassados da Ginjinha", informa o descrito da casa.

  Curioso é que nasceu de uma familia de galegos (espanhóis da Galicia) por Francisco Espiñeira Couziño que enxergou no seu negócio também um espaço de troca de ideias e de agitação social. E se mantém até hoje como uma empresa familiar.
 
  A Ginja Espinheira foi galardoada com três Medalhas de Ouro e duas de Prata nas Exposições Internacionais de 1923 (Rio de Janeiro), 1926 (Macau), 1929 (Sevilha) e 1932 (Portugal).

   Ainda em 1932, nasce Miguel Osvaldo Espiñeira, figura que nas décadas seguintes se encarregaria pelo lançamento das sementes que fariam da Ginja Espinheira uma tradição mais do que enraizada, não apenas em Portugal mas também noutros cantos do mundo.

  Ginjinha, ou simplesmente ginja, é um licor obtido a partir da maceração da fruta da ginja (nome científico Prunus cerasus), similar à cereja, muito popular em Portugal, especialmente em Lisboa e em Óbidos. É costume servi-la com uma fruta curtida no fundo do copo, popularmente dito "com elas", ou, quando pura, "sem elas".

   A receita atual do licor inspira-se em receitas antigas dos monges de Cister, usando apenas produtos naturais, sem quaisquer conservantes artificais. A Espinehria possui sua fábrica e pomar no interior de Portugal (TF)