Cultura

SANTA BÁRBARA: O TAPETE VERMELHO DA FÉ ABRE CICLO DAS POPULARES (TF)

A mais bela festa do ciclo popular aconteceu hoje em Salvador
Tasso Franco ,  Salvador | 04/12/2023 às 15:26
A imagem da santa chega ao Quartel do Corpo de Bombeiros na Ladeira da Praça
Foto: BJÁ
      A cidade do Salvador abriu o ciclo de festas populares nesta segunda feira com os louvores a Santa Bárbara, no centro histórico da cidade.

     Iniciou com alvorada às 6 horas seguida de missa campal no Largo do Pelourinho celebrada pelo padre Lázaro Muniz, o eterno, diante de multidão entre a Fundação Casa de Jorge Amado e o acesso a Ladeira do Taboão. 

    No sincretismo religioso Santa Bárbara é associada a orixá Iansã daí que os presentes se vestem de vermelho.

   Bem, é dificil saber quem é católico e quem pratica o candomblé, isoladamente. Na maioria dos casos, os fiéis de Santa Bárbara pertencem a algum terreiro de candomblé da capital e da RMS e a alguma igreja.

   Isso, aliás, pouco importa. O mais significativo é a fé e no cortejo há, ainda, adeptos e andores de São Cosme e Damião, São Jorge, São Miguel, São Domingos e São Lázaro.

   Portanto, há santos para todos os gostos. Neste ano, o andor da Santa Bárbara não esteve tão bonito como em anos anteriores. Havia poucas rosas vermelhas ao redor de sua imagem.

   Conversamos com alguns fiéis de longo curso, aqueles que frequentam a festa todos os anos, e eles me diziam que Salvador é assim mesmo, mistura-se tudo - católico, crente, candomblecista, etc - e o importante é a crença, a espiritualidade.
 
   "Teve fé e reverenciou seu santo predileto é o que vale", confesa Cristina Oliveira, técnica de enfermagem.

   Neste 2023 senti a ausência de Clarindo Silva, proprietário da Cantina da Lua, que sempre carregava o andor da santa dos raios e trovões, mas, recupera-se de uma enfermidade.    
    
   Santa Bárbara tem origem turca e teria sido degolada por seu pai diante da insistência no cristianismo, o qual foi castigado com a morte atingido por um raio.

   No sincretismo religioso de candomblé praticado no tempo da Colônia ela representava Iansã, orixá dos ventos e da natureza. Ou seja, os descendentes de africanos cultiavam os santos católicos para fugir da policia, mas, associando-os aos orixás. Assim, também, São Jorge é Oxóssi.

   Celebrar a data no mesmo dia da santa católica não é uma coincidência: essa era a forma dos africanos escravizados terem liberdade para cultuar ritos religiosos. Lembrando que o candomblé (o batuque) só foi liberado pelo estado no governo Roberto Santos, 1975/79.

   É comum, ainda hoje,  observar-se esse sincretismo nas festas baianas, a exceção de Yemanjá, 2 de fevereiro, que é exclusiva da orixá.

   As mães de santos mais ortodoxas não admitem o sincretismo. Mãe Stella não gostava nem de ouvir falar. O cardeal Moreria Neves também. Ele e ela diziam: - santo é santo; orixá é orixá. Mas, quem é que pode com o povo?

   Santa Bárbara é também a protetora dos bombeiros, profissionais que trabalharem com o fogo, e por vezes com situações como desabamentos provocados por tempestades ou incêndios provocados por raios.

   Muitos bombeiros acompanharam a procissão e carregaram o andor da santa. Foi a o ano que vi a maior participação dos bombeiros em todo o trajeto carregando o andor. A banda seguiu todo o percurso e a recepção ao povo e aos santos no quartel da Baixa dos Sapateiros foi belissima, com o banho tipo ducha para refrescar.

   Vi poucos politicos na festa, mas cumprimentei os deputados Robinson Almeida (PT) e Fabíola Mansur (PSB). 

   Neste ano não vi nenhum filha de santo dando santo no quartel do CB. Era praxe a gente presenciar esse tipo de manifestação quando o CB abria a sirene.

   O CB ofereceu 300 pratos de caruru justo na hora do almoço. Eu não consegui um pratinho. Paciência, fica para 2024. 

   O cortejo seguiu até o Mercado da Santa Bárbara na Baixa dos Sapateiros onde ofereceu-se outro caruru. Mas eu só andei até o Mercado de São Miguel. 

   A festa, mais uma vez, foi belíssima, um tapete vermelho lindo de se vê, no Terreiro, que é de Jesus, na Sé, do antigo palácio do bispo, na Misericórdia da Santa Casa e na Ladeira da Praça ex-local da boemia.
   
   Meu sentimento foi de que, em 2023, tivemos menos fiéis que 2022, mas como a fé remove montanhas, valeu. (TF)