Cultura

O ANDARILHO DA CIDADE DA BAHIA,32: AS DATAS DE ANIVERSÁRIO DE SALVADOR

O 13 de junho de 1549 já foi considerada, em determinada época, a data oficial de aniversário da cidade
Tasso Franco ,  Salvador | 03/12/2023 às 10:04
Mancha matriz da cidade e antigo Palácio Rio Branco, dos governadores
Foto: BJÁ
 
    A cidade do Salvador começou a existir de fato no dia 13 de junho de 1549 aniversário real de fundação da fortaleza por Thomé de Souza, pelo mestre de obra Luís Dias (personalidade importantíssima e nunca homenageado), carpinteiros, pedreiros, artífices, homens em armas, tupinambás, etc, quando aconteceu a procissão de "Corpus Christi" comandada pelo padre Manoel da Nóbrega a partir da Sé de Palha (atual igreja de Nossa Senhora da Ajuda) e já havia, à essa época, algumas edificações preliminares, o palácio e o Senado da Câmara, em taipa, a praça e as 7 ruas iniciais demarcadas

    Portanto, esta data deveria ser considerada a de fundação real da cidade fortaleza uma vez que Thomé de Souza, Antônio Cardozo, Pero de Góes e outras autoridades passaram a morar em terra e não mais nas embarcações a essa altura já ancoradas na Ribeira do Góes próximo a nascente prainha onde se edificaria a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia (a nau capitânia de Thomé de Souza se chamava Nossa Senhora da Conceição), hoje, uma das quatro basílicas da cidade

  Outros historiadores como o frei Jaboatão consideram a fundação da cidade como a 1º de novembro de 1549 quando a estrutura da fortaleza já estava mais sedimentada e havia edificações para moradia e uma forte rancharia já se estabelecera no cais da Ribeira do Góes. O 1º de novembro de 1501, no entanto, ficou apenas conhecido como a data em que os portugueses com a expedição de Gaspar de Lemos e o cartógrafo Américo Vespúcio descobriram esse acidente geográfico e deram o nome, inicial, de Golfo de Todos os Santos, referente a data da Igreja Católica que reverencia todos os santos, e depois descobriram que não era um golfo e sim uma baía, chamada pelos tupinambás de “Kirimurê”, e daí se originou o nome da Capitania da Baía (1534/1821), Província da Bahia (1821/1889) e do Estado da Bahia (1889 até os dias atuais). Muitos documentos são grafados como Província da Baía e Estado da Baía e o gentílico baiano vem de Baía e não de Bahia

   Só lembrando, o Brasil foi achado casualmente pela expedição de Pedro Álvares Cabral que se destinava (como foi) às Indias Ocidentais e na travessia do Atlântico, ventos levaram alguns dos seus barcos até Porto Seguro, extremo-Sul da Bahia. Cabral permaneceu pouco tempo em Porto Seguro e enviou para Lisboa, uma das suas naus comunicando ao rei a descoberta de um novo mundo e seguiu adiante. Sua viagem às Indias foi um fracasso e das 14 naus que saíram de Lisboa retornaram apenas 4, uma das quais, a dele, comandante que chegou vivo. O frei Henrique Caminha que escreveu o mais valioso documento da descoberta morreu na segunda etapa da viagem, mas sua carta foi salva, porque enviada a Lisboa, antes 
   O rei dom Manuel ficou irritado e, em Portugal, até hoje, os historiadores não dão importância devida a Cabral como navegador, e sim a Vasco da Gama e outros. Cabral foi isolado e morreu em sua terra natal Belmonte. O rei, no entanto, mandou investigar o tal do novo mundo com Gaspar de Lemos e Américo Vespúcio e, descobriu-se, então, que o Brasil era grande e valioso, mas Cabral continuou isolado e se passaram 34 anos, já com o rei Dom João III, filho de dom Manuel, para instalar uma colonização definitiva com as Capitanias Hereditárias

Também só situando as coisas no tempo antes da instalação da Capitania aportou no território da atual Salvador um português ao que tudo indica deixado pelos franceses de Sain-Malo, do comandante Jaques Cartier, descobridor do Canadá e que andava pela costa brasileira, para intermediar o escambo de madeira e este cidadão, que teria chegado em 1510, se instalou na Barra e depois de casou com a tupinambá Catarina Paraguaçu, cujo nome original era ‘quayadin’ esta levada para a França, em 1527 e retornando em 1531, quando construiu com o marido uma capela em louvor a Nossa Senhora da Graça, hoje, igreja de Nossa Senhora da Graça, onde está sepultada 

  Theodoro Sampaio, em "A História da Fundação da Cidade do Salvador", diz que o 13 de junho ficou consagrada como data de fundação reconhecida pelo Senado da Câmara (Câmara de Vereadores atual) uma vez que, também, pela primeira vez, numa carta de Nóbrega ao irmão Rodrigues, o frei jesuíta cita o nome de Salvador pela primeira vez, até então, noutras correspondências se falava apenas da cidade da Bahia.
  A data oficial, no entanto, foi estabelecida pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, num congresso realizado nos 400 anos de Salvador, em 1949, graças aos argumentos do professor tupinólogo (estudioso da língua tupi) Frederico Edelweiss que propôs, até para evitar essa polêmica da fundação da cidade, se em maio, em 13 de junho ou em 1º de novembro, que se considerasse a chegada das naus comandadas por Thomé de Souza, o 29 de março de 1549, como a data de fundação da cidade

  Mas, óbvio que se tratava de uma data simbólica uma vez que nada existia da fortaleza e Thomé de Souza só desembarcou da nau Nossa Senhora da Conceição dia 31 de março, data em que pisou na praia do Porto da Barra e depois seguiu em comitiva e protegido por lanças altas até o Caminho do Concelho (se escrevia com c) e a fortaleza do ex-donatário Francisco Pereira Coutinho, onde, hoje, existe o restaurante Pereira. Essa fortaleza não existe mais e, em 1549, Pereira Coutinho já havia sido morto pelos tupinambás
    E, somente a partir do início de abril de 1549 é que Thomé, Luís Dias (com as traças - o mapa da fortaleza) pegaram o Caminho da Vila Velha, ao que tudo indica orientado por Diogo Álvares (Caramuru), morador em sua sesmaria da Barra/Graça, em direção ao Campo Grande, Piedade até o cimo onde foi escolhido o local melhor para fundar a fortaleza, a uma altura de 70 metros para a Baía de Todos os Santos, bom local para se instalar os canhões de defesa, uma vez que o Porto da Barra, onde existia a Vila Velha do Pereira era rente ao mar

    Em abril foi capinado e desbravado o cimo onde iria ser criada a Praça do Palácio – sede do palácio, Senado da Câmara e as primeiras edificações em taipa vão surgir em maio. Não há uma data certa de quando isso ocorreu. Enquanto essas edificações não foram construídas Thomé de Souza e os mais graduados voltavam para a Vila Velha para dormir nas embarcações, o que passaram a fazer, posteriormente, na Ribeira do Góes, subindo a escarpa pela porta do Pau da Bandeira para chegarem à fortaleza, e os demais dormiam em rancharias na ribeira e no topo

  Portanto, a 13 de junho, como já havia algumas edificações deu-se por inaugurada a cidade, mas não houve solenidade, nem reunião, salvo a procissão de "Corpus Christi" reunindo a comitiva de Thomé (uma grande parte), os jesuítas (6 ao todo) e tupinambás

Por coincidência, 13 de junho também é o dia de Santo Antônio (morto em 13 de junho de 1231, Pádua, Itália) padroeiro original da cidade e destronado pela Câmara de Vereadores por São Francisco Xavier, santo que não é cultuado em Salvador nem na Bahia. Santo Antônio, sim, o mais querido santo no estado em Salvador deve voltar ao padroado

  Ainda para uma melhor compreensão dos nossos leitores por que Olinda comemora 488 anos de fundada e Recife 486, assim como Ilhéus e Porto Seguro, na Bahia, 489 e 523 anos, quando suas capitanias são da mesma época da Capitania da Baía de Todos os Santos que englobava, além do território de Salvador, Itaparica e Tamarandiva, todas criadas pela Corte de Lisboa, rei Dom João III, em 1534, e Salvador comemora 474 anos? 

  Ora, porque os historiadores pernambucanos consideraram as datas que Duarte da Costa instalou as capitanias em Olinda (1535) e Recife (1537) e os historiadores baianos desconsideraram a instalação da Capitania da Baía, em 1536, por Francisco Pereira Coutinho, alegando que, entre 1536/1549 o que havia era uma vila chamada Vila Velha do Pereira, no Porto da Barra. Trata-se, pois, no nosso entendimento, de um absurdo, e Salvador completou, portanto, 487 anos e não 474 anos, e se assim quiserem, como Porto Seguro que considera sua data a do descobrimento do Brasil, como comemorações dos 500 anos no governo FHC, em 2002, agora com 523, Salvador teria 522, considerando a data de descobrimento da Baía de Todos os Santos, ou 513 anos considerando a dala da chega de Caramuru e instalação da Vila do  Caramuru, em francês Ville du Caramuru