Cultura

BOOGIE WEEK CELEBRA 50 ANOS DE HIP HOP COM DEBATES

A mesa abordou a trajetória dos 4 elementos no Brasil e destacou as principais mudanças das últimas cinco décadas para os artistas brasileiros
Ghabriella Machado , Salvador | 24/11/2023 às 12:52
Nelson Triunfo, Cris SNJ, Edi Rock e Soberana Ziza
Foto: Boogie Week / Terra Preta

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo no Parque Ibirapuera está sendo palco de um dos mais novos festivais de celebração à cultura negra. A Boogie Week, idealizada pela produtora Boogie Naipe, acontece entre os dias 21 e 25 de novembro, com uma programação diversa. Um dos destaques da última quarta-feira foi a mesa 50 anos de Caminhada - Hip Hop como expressão política e social, que ocorreu no Teatro Ruth de Souza, auditório do MAB. Nela, quatro artistas representando os diferentes elementos desta manifestação global - Nelson Triunfo, Soberana Ziza, Edi Rock e Cris SNJ - se reuniram para compartilhar vivências, relembrar momentos históricos e compartilhar as expectativas para os próximos 50 anos da cultura. A mediação ficou a cargo de Stella Yeshua.


Nelson Triunfo, considerado um dos precursores do breaking no Brasil, contou como iniciou sua jornada no Hip Hop. Ele relatou que sua primeira experiência nas ruas foi em 1983, com o grupo Funk & Cia, com os melhores dançarinos da Black Music de São Paulo. Desde então, ele se dedica à cultura Hip Hop, que já tem 40 anos de história no Brasil e 50 anos no mundo. “É importante entender que esses 10 anos de diferença não significa um atraso, e sim de uma construção. Se em 83 eu posso dançar nas ruas de São Paulo, foi devido a essa construção, não foi de um dia para o outro”, enfatizou o dançarino.


Soberana Ziza, multiartista e uma das principais protagonistas da arte de rua brasileira, relatou sobre seu início na cultura, a importância do papel das mulheres negras que atuam nas vertentes do Hip Hop e a relevância do trabalho da Frente Nacional do Hip Hop, que busca difundir a participação de mulheres pretas no movimento.


“Eu tive o apoio fundamental da Frente, que me acolheu e me fortaleceu. Foi nesse espaço que eu percebi que a minha arte ia além de pintar paredes, que ela também era uma forma de afirmar a minha identidade de gênero e de combater as desigualdades que as mulheres enfrentam na sociedade”, explicou Ziza.


Cris SNJ também compartilhou sua vivência como rapper negra no Brasil. Durante sua infância, sendo a 9ª de 11 irmãos, sendo seis homens, Cris vivenciou desde cedo o machismo, que se estendeu até o início de sua carreira, um momento em que teve suas ideias menosprezadas algumas vezes. No entanto, hoje ela percebe mudanças positivas no cenário.


“Há dois ou três anos, eu não era contratada, mas hoje é diferente, houve uma mudança. Acredito também que por termos a Aline Torres, uma mulher negra à frente da secretaria municipal de cultura, as coisas estão mudando. Eu estou vendo as coisas acontecerem, estou vendo as mulheres do cenário acontecer”, completou. Durante a troca, Soberana Ziza também apontou a importância de ter acesso às informações como editais públicos, porém, para ela, não se trata apenas disso. Segundo a artista, “não é somente buscar informações, pois há pessoas ainda dentro do Hip Hop que não sabem o que é um portfólio, então não basta apenas os editais, é necessário investir em formações”, disse ela.


Edi Rock, integrante do grupo Racionais MC's, um dos maiores expoentes do rap nacional, chamou a atenção para como o Hip Hop pode ser uma ferramenta na educação para estudantes, e que o caminho para os próximos 50 anos dos elementos já está sendo pavimentado. “Não tem mais como voltar atrás, não tem como parar, pois seguimos vivos. Enquanto eu estiver aqui, vou continuar lutando”, declarou o MC.


No final da mesa, o público pôde fazer algumas perguntas aos artistas, que responderam sobre suas expectativas sobre o futuro do Hip Hop no Brasil. A Boogie Week continua com sua programação até o dia 25 de novembro, trazendo outras mesas de debates e shows com grandes artistas pretos do cenário musical brasileiro, como MC Carol, Linn da Quebrada, Bateria do Vai-Vai, além da atração internacional inédita no Brasil, o cantor de R&B, October London.


Festival Boogie Week


Idealizado pela CEO da Boogie Naipe, Eliane Dias, o conceito da Boogie Week surgiu em 2016, depois que a empresária fez um mapeamento global dos principais festivais temáticos da cultura negra, passando pela África do Sul, Estados Unidos e América Latina. Ela avaliou não somente a curadoria artística, como também a estrutura técnica e a experiência do público. A programação desta edição traz a ideia de pertencimento, acolhimento e celebração do passado, presente e futuro. A proposta é criar um espaço novo para a população negra, “onde a nossa cor não seja lembrada só para falar de dor, de luta e resistência, mas para criar novas memórias com nossas presenças e nossos sorrisos”, afirma Eliane.


O festival Boogie Week inaugura em 2023 sua parceria com o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, administrada pela Associação Museu Afro Brasil. A edição deste ano contará também com os patrocínios da ONErpm e Budweiser, os apoios da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Urbia, iFood, Jeep-Dahruj, Eletromidia como parceiro de mídia e Sympla como plataforma oficial de vendas.

Imagens para a imprensa: https://drive.google.com/drive/folders/1pCCj3IrbiOToQ3qYPPl7OU9m60LF2rTF?usp=sharin