Cultura

SERRINHA COMPLETA 300 ANOS HISTÓRIA, ESQUECIDA, ABANDONADA, SEM LOUVOR

Comunidade nasce a partir de 6 de setembro de 1723 com compra do sitio por Bernardo da Silva aos herdeiros da casa da Ponte
Tasso Franco , Salvador | 06/09/2023 às 11:44
Centro Histórico em 2022
Foto: BJÁ
     A localidade de Serrinha completa nesta quarta-feira, 6, 300 anos de existência oficial. A escritura pública de venda do Sítio Serrinha a Bernardo da Silva por 2.200$000 foi passada em 6 de setembro de 1723, na cidade do Salvador, pelo tabelião Manoel Affonseca da Costa, documento que está arquivado no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, sito na Avenida Sete, Piedade, Salvador.

  Reza o documento que Dom João Mascarenhas e sua esposa Dona Joanna da Silva Guedes de Britto venderam a Bernardo da Silva um "Cittio de terra" ao morador do "Certão de Tocós, as terras do Certão de Tocós e nelas um Cittio chamado Serrinha, que houveram de herança do seu pai e sogro Antonio da Silva Pimentel".

  Nesse sítio Serrinha (na época se escrevia Cittio com c e dois tt) já havia um morador arrendatário chamado Gaspar Pinto que era o pioneiro. Trata-se, pois, da primeira família (de Gaspar Pinto) que residiu onde é, hoje, a Praça Luís Nogueira.

  Segundo o documento, esse sitio parte ao meio com um taboleiro que vai para a caatinga onde morou Antônio Gonçalves demarcado ao meio com o Saco do Moura, "donde corre rumo a tapera de Cypriano, de lá cortando a contestar e damarcar com as terras de Francisco de Sá Peixoto e de outra parte corre o dito a partir do meio com as terras de Manoel Carlos Lima e deste corre rumo direito a contestar com o Saco dos Tapúyas, buscando a Lagoa chamada Genipapo, correndo rumo a contestar com o dito Sá Peixoto.

  COMO SURGIU O POVOADO

  Com a compra das terras, Bernardo que morava na fazenda Tambuatá como arrendatário se mudou com a familia para o Sitio Serrinha, que era o roteiro da estrada das boiadas, local que poderia melhorar seus negócios, construiu casa de morada e capela em louvor a Senhora Sant'Anna e, com o passar dos anos, surgiu o povoado de Serrinha.

  Documentos cartoriais de 1763 ainda citam a localidade como "Sítio de Nossa Senhora Santa Anna de Serrinha" e outros, de 1775, com o "Termo do Sítio de Nossa Senhora Santa Anna de Serrinha". A única mudança foi que Cittio passou a ser Sitio com a consoante S maiúcula.

  Em 1838, ou seja, 115 anos depois da compra por Bernardo (ele já havia falecido) instalou-se o Distrito de Paz de Serrinha com elevação da capela a freguesia sendo canonizada pelo arcebispo Romualdo Almeida de Seixas. Isto é: "Foi erecta em Matriz a Capela de Santana de Serrinha, ora filial da Frequeguesia da Vila de Água Fria".

  Com essa mudança a Frequesia de Serrinha foi anexada a ao Termo da Vila de Purificação dos Campos (Irará).

  Como Distrito de Paz organizou-se a administração do local sob a direção de um Conselho sendo nomeado juiz de paz, Miguel Carneiro da Silva Ribeiro (Pai Geza) principal liderança do Partido Conservador, descendente de Bernardo da Silva.

  A emancipação politica de Serrinha, desmembrando-se de Irará, deu-se em 13 de junho de 1876 quando o arraial é elevado a categoria de vila. 

  Em 1º de outubro de 1876 elegeu-se os membros da Câmara de Vereadores. Em 11 de janeiro de 1877 instalou-se a Câmara sendo eleito presidente José Joaquim de Araújo.

  O governador Manoel Victorino instalou a Intendência de Serrinha em 10 de fevereiro de 1890.

  O primeiro intendente Marianno Silvio Ribeiro governou de 3 de março de 1890 a 20 de janeiro de 1893.
  No seu governo, em 30 de junho de 1891, Serrinha ganhou foros de cidade.

  Entre intendentes de prefeitos durante toda a história foram 28 personalidades. O atual é Adriano Lima, até 2024.

  SEM COMEMORAÇÕES

  Esse fato histórico, importantíssimo, os 300 anos da localidade, infelizmente não é comemorado, nem pelo órgão de cultura da Prefeitura; nem pela Câmara. Como a cidade não tem institutos de cultura, museu municipal ou estadual, até a biblioteca municipal derrubaram e o prédio da antiga Prefeitura está desabando há 30 anos e ninguém toma uma providência, a data passa em branco. 

  Paciência. Comunidade que não cultua sua memória tende a ser esquecida. Eu, jornalista em fim de carreira diante o avançar da idade, 78 anos, enquanto tiver vida vou lembrando desses fatos e traços da nossa história, uma vez que foi o local que nasci e estão minhas raizes familiares. (TF)