Seus pés, ah! que pés sedutores de Afrodite andam por conventos, igrejas, palácios, sobrados e mansões
Tasso Franco , Salvador |
27/08/2023 às 10:18
A senhora avenida ilustração Borega
Foto: Stúdio Borega
Senhora escultural e encantadora, assim apresento Avenida, a mais bela mulher da minha cidade
O nome não nos parece o mais sonoro, bíblico ou retirado de compêndios das mitologias grega ou romana como adoram fazê-lo os poeta
Conheço-a de perto há anos e admiro as suas longas pernas que vão do São Bento ao Farol de Santo Antônio da Barra
Ora, que outro ser poderia ser tão monumental? Esse imensa piton sinodal que caminhamos juntos sempre um olhando para o outro
Que outro ser simboliza todas as raças e credos, todas as classes sociais e desigualdadeS vistas a cada trecho, dos ricos habitantes do corredor aos pobres trabalhadores dos becos
As suas tranças, tal qual Rapunzel se estendem por oito localidades com nomes de Relógio, Piedade e Mercês; Corredor da Vitória, Ladeira, Porto; Largo e Portão
E se enramam como cipós de aroeira em catorze becos da Maria Paz, do Mocambinho, da Forca, da Farmácia, do Abaixadinho a saber em nomes exóticos
Seus pés, ah! que pés sedutores de Afrodite andam por conventos, igrejas, palácios, sobrados e mansões
Pés que deslizam nas areias das praias do Porto e do Farol e na enseadinha da Vila Velha do Pereira
Pés firmes, ora descalços e noutros momentos com sapatos; ora a usar sandálias franciscanas como os monges; ora a usar mocassins de grifes francesas
Pés emplumados, pés com unhas enfeitadas nas pedicures do Mocambinho, pés cheirosos e ardilosos em sedução
Pés dos descamisados da Piedade, dos piedosos e dos pedintes, do povo pobre, dos andarilhos e andarilhas com sombrinhas e bastões
Louvemos agora suas mãos que de tão longilíneas dobram largos e corredores e descem ladeiras
Que mãos! Ah! quero beijá-las como as de Euridice do Pedro Bloch; ou as mãos do abade Emanuel
Que mãos! Belas como as da baiana do São Raimundo que nos servem acarajés e abarás; calejadas como as de Marinês do coco verde
Que mãos! Tais as bem cuidadas das freiras dos caixas das Paulinas, as rústicas das artesãs do Beco da Forca
Mãos de Rita, a vendedora de empanadas; de Júlia, a manicure; de Odete, a livreira; de Maria, a baleira; mãos das trabalhadoras
Que senhora encantadora é dona Avenida
Donana Avenida, Dra Avenida, Sua Graça Avenida, Senhorita Avenida, Vovó Avenida, Donzela Avenida, Viúva Avenida, Descamisada Avenida
Abriga todas as idades, raças e credos
É católica, crente, cabocla, do povo de santo, espírita, ecumênica
Avenida é também resoluta, despachada, atrevida, ventania, assombro
Seus seios são como as torres do São Bento luzidios ou como as de nossa senhora da Piedade brilhantes
Ou murchos e caídos como as folhas das árvores em seu percurso
Seios fartos e largos como o Campo Grande; estreitos e sumidos como no beco do mijo
Sua boca! gigante, capaz de engolir uma igreja, abocanhar uma banda da casa do Senado, a lateral de um convento
Boca devoradora, desbravadora, demolidora do que estivesse à sua frente
A Senhora Avenida para ser a mais bela da cidade tinha que possuir todos esses atributos e permitir a passagem dos bondes, de ida e de volta, e dos ford de bigode e dos homens a pé
Consentir que os homens com seus ternos de linho e os monges com suas batas escuras, marrons e brancas andassem sobre as suas curvas pitonescas
Como então não amá-la, endeusá-la e saudá-la, sempre como a acolhedora, a anfitriã
Sobre o seu leito desfilam os ginasianos ao 2 de Julho, as bandas e fanfarras a saudar a independência, os militares no 7 de Setembro, os foliões dos carnavais, os manifestantes de toda ordem
Por isso mesmo seu sobrenome é Avenida Sete Souza Bragança Fonseca e Silva desde a colônia, império e repúblicas velha e nova
E assim será para sempre