Cultura

FLIPELÔ:DIOGENES MOURA LANÇA "PINGUELO RÍGIDO", NO MUSEU ENGÊNIO LEAL

Acontece dia 12 de agosto
Doris Pinheiro ,  Salvador | 11/08/2023 às 11:18
Diógenes Moura
Foto: Daniel Kfouri
    

O curador de fotografia, editor e escritor baiano Diógenes Moura lança no dia 12 de agosto seu livro, O Pinguelo Rígido - Um Surto Baiano. A convite da Flipelô e Exu de Dentro, o lançamento acontece a partir das 16h, no Museu Eugênio Teixeira Real – Memorial do Banco Econômico, na Rua do Açouguinho, 01 Pelourinho. Nessa noite ele conversará com o editor Igor Albuquerque.

Escrito entre 2015 e 2023, O Pinguelo Rígido – Um Surto Baiano, constrói uma polaroide urbana com textos precisos, a partir de cenas que o autor presenciou nas ruas de Salvador, cidade que conhece desde o dia 2 de julho de 1971, quando, vindo do Recife, chegou com sua família para viver no bairro da Liberdade.

Com uma narrativa repleta de personagens reais, ao lado da ficção poética e limítrofe sempre presente na obra do autor, O Pinguelo Rígido – Um Surto Baiano também diz sobre a violência embutida nas ruas da cidade; as cenas absortas dentro dos hotéis; o aluguel dos palácios tombados pelo patrimônio histórico para “eventos” feito pelos Exu de Dentro apresenta 1 / 3 carnegões da casa grande; a cadeira elétrica infra-humana que carrega os animais para o abate na feira de São Joaquim; os últimos dias de Kelly Cyclone, a Dama do Pó; a exploração do homem do ferro que trabalha dentro de um dos arcos da Ladeira da Conceição da Praia: “Corre, homem bafio! Desce as escadas que levam ao mar e conta para suas parceiras que vivem lá por baixo, às bordas do contorno da avenida, que amanhã outra mulher vai levar a filha à escola para ver se a menina não se torna uma mulher bafio, uma mulher espectro, uma mulher exumada, uma mulher carniça antes da porra do carnaval chegar e pronto: arregaça bala, faca, garrafa quebrada no corpo da menina para roubar qualquer nada e a menina cai sem vida na porta do palácio, logo cedo”.

No livro, entre violência e paixão, o escritor deixa claro o seu incômodo com os turistas e/ou agregados que, vindos em grande parte do Sudeste do país, chegam à cidade para, em menos de uma semana, se tornarem filhas ou filhos de santo, entre outros detalhes de intimidade perversa e sintomática: “Vosmicê quer tirar uma foto comigo, é? Então pague.

Não estou aqui fantasiada de “baiana típica” para fazer parte da paisagem do Pelourinho, não, viu? Quer a minha agonia colorida para postar no Instagram? Então pague. Quer usar o meu corpo preto para sair por aí dizendo que somos um povo alegre: painho, mainha, meu rei? Meu rei, um caralho! A minha sofreguidão não cabe dentro da tela do seu celular”.

Para esses e aqueles, Diógenes Moura criou o termo Cheiradores de Axé e uma série de verbetes a partir de expressões que pertencem à linguagem popular: “O Boca-de-zero-nove: aquele que vai almoçar ou jantar uma “moqueca desconstruída” em alguma comunidade que virou moda à beira-mar (trema o vale, povo da Gamboa!), pede para não colocar coentro porque pode vomitar desleixos e sai dizendo que pobre- -dendê deve, sim, sonhar acordado, sem tomar banho de folhas”. Com sua dicção peculiar, sua geografia humana muito particular e uma escrita concisa e abundante em acontecimentos, O Pinguelo Rígido – Um Surto Baiano faz um retrato veloz, realista e tragicômico de uma cidade devastada pela alegria, sempre de braços abertos para ser explorada física e mentalmente, sobretudo nas fatídicas temporadas de verão. 2 / 3 Na apresentação do livro, o editor Igor de Albuquerque, escreve: “Sob o sol negro brilhando visgo, soa nas ruas uma voz que cavalga no lombo das bestas pingueludas da destruição.

Voz escrita – alcaloide – a única que até agora foi capaz de, enfim, pôr em prática o processo de zumbificação definitivo do turista, do cheirador de axé. Vocês irão entender muito bem quando, nas ruas claras do Santo Antônio Além do Carmo, cruzarem com aquele sorriso-wanna-be-influencer: sinta logo a morrinha do morto-vivo antes dele sair rastejando cidade abaixo. Diz a voz. E quando perguntarem o que havia de bom, de belo, de justo, lembremos sempre que, antes da queda, da boca-de-se-fudê, da imolação, antes de morrerem, de morrermos, essa gente esteve viva. Desmedidamente viva”.

Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Morou durante 17 anos em Salvador. Vive em São Paulo desde 1989. Em dezembro de 2022 publicou Minhocão (Editora Noir, contos, 120 págs), um livro devastador sobre solidão e desespero às margens do maior viaduto de São Paulo. Com Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina (2021, romance, Vento Leste Editora, 104 págs.) entrou na lista dos Semifinalistas do Prêmio Oceanos 2022. Com 12 livros publicados entre romance, contos, crônicas, ensaios e poesia, com O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos (2018, ensaios, Vento Leste Editora, 198 págs), também foi Semifinalista do Prêmio Oceanos 2019. Em 2010 recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Crônicas, Ateliê Editorial, contos, 112 págs), também finalista do Prêmio Jabuti 2011. O selo Exu de Dentro foi criado pelo autor para publicar seus escritos quando, onde, e como quiser. Diógenes Moura escreve sobre abismo, imagem e abandono