A procissão comandada pelo padre Manoel da Nóbrega foi a 1ª do Brasil numa cidade e completa 474 anos de existência
Tasso Franco , m Salvador |
08/06/2023 às 10:35
Praça do Palácio, a primeira de Salvador
Foto: BJÁ
Os católicos comemoram neste 8 de maio o dia santificado de "Corpus Christi" - o Corpo do Senhor e/ou o Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo que ocorre todos os anos na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É, portanto, uma data móvel e a procissão pelas vias públicas atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cânone 944).
A origem remonta ao século XIII pontificado do papa Urbano IV. O cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, teria recebido o segredo da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que alegava ter tido visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.
Por volta de 1264, em Bolsena, cidade próxima a Orvieto (onde o já então papa Urbano IV tinha sua corte), teria ocorrido o episódio chamado de Milagre de Bolsena, em que um sacerdote celebrante da Santa Missa, no momento de partir a Sagrada Hóstia, teria visto sair dela sangue, que empapou o corporal (pano onde se apoiam o cálice e a patena durante a Missa).
O papa determinou que os objetos milagrosos fossem trazidos para Orvieto em grande procissão em 19 de junho de 1264, sendo recebidos solenemente por Sua Santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico de que se tem notícia. A festa de Corpus Christi foi oficialmente instituída por Urbano IV com a publicação da bula Transiturus em 8 de setembro de 1264, para ser celebrada na quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.
A primeira procissão de "Corpus Christi" realizada numa cidade do Brasil aconteceu em Salvador no dia 13 de maio de 1549 comandada pelo padre Manoel da Nóbrega e considerada a data de fundação da cidade, segundo atesta Theodoro Sampaio, embora haja polêmica sobre esse fato. Desta procissão participaram o governdor Geral do Brasil, Thomé de Souza, Antônio Cardoso de Barros, Luis Dias, Pero de Góes e outros integrantes do primeiro escalação do governo, parte da tropa, operários - carpinteiros, pedreiros, etc - e alguns tupinambás incluindo crianças que usaram cruzes de pindobas perduradas nos pescoços e mais os irmãos jesuitas da missão Nóbrega.
Saiu da Sé de Palha da Rua da Ajuda e deu uma volta até a Rua Direita dos Mercadores do Palácio, Praça do Palácio, Rua do Tira Chapéu retornado a Sé primacial na Ajuda onde houve missa solene e comunhão.
Veja o que diz Theodoro Sampaio em "História da Fundação da Cidade do Salvaror", 1949, pág 176: "Em junho, porém, a 13 deste mez, por ser o dia de Corpus Christi, dia do Salvador, nome este que se ia dar à nova cidade, conforme ordenara El Rei (Roteiro do Brasil cap V. pag 115) realizaram-se grandes e significativas festas, com procissão mui solemne, em que jogou toda a artilharia que estava na cerca, as ruas muito enramadas, e houve danças e invenções à maneira de Portugal (Nóbrega, carta a Simão Rodrigues de 9 de agosto de 1549). Este facto attento ao espírito mui christão da época e a intima união da Igreja e do Estado, é, pelo lado religioso, o acto solemne de inauguração da cidade, a qual, desde ahi, se ficou chamando de Salvador. A festa de Corpus Christi foi, assim, a da sua inauguração".
Historiadores dão a inauguração de Salvador como acontecido a 1º novembro de 1549, dia de Todos os Santos, segundo o padre Jaboatão. Theodoro Sampaio contesta e diz que o padre Nóbrega "que de tudo foi testemunha presencial" datava ele suas cartas com o dizer "Desta Bahia...de 1549", porém, na carta de 9 de agosto a Simão Rodrigues descreve os festejos de Corpus Christi destaca a expresão pela primeira vez "porto e cidade do Salvador"
"A inauguração, solemnisada religiosamente, que se outro modo não se fez, é, pois a 13 de Junho, dia de Corpus Christi e, decerto, é por este facto que a Câmara da Cidade assumiu, desde essa época, o compromisso ainda hoje observado, de custeiar a procissão de Corpus e nella se fazer representar solemnente", na descriação de Theodoro Sampaio.
