Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 27: ESTRADAS MÃES DOS BAIRROS

A primeira estrada que deu origem ao povoamento e ao bairro Centro Histórico foi a das boiadas aberta no século XVII para a condução dos bois de Garcia D'Ávila e Guedes de Brito
Tasso Franco , Salvador | 24/05/2023 às 08:31
Na trilha da linha do trem nasceram vários bairros
Foto: BJÁ
  
As origens dos bairros em Serrinha - em outras cidades esse fenômeno também aconteceu, mas não em todas - quase todos eles e salvo raras exceções se deram em função das dez estradas que cortam a malha urbana de Leste a Oeste; e de Norte a Sul o que faz com que, também, a cidade seja o segundo maior entroncamento ferro-rodoviário do Nordeste do Estado sendo superada apenas por Feira de Santana.

  A primeira estrada que deu origem ao povoamento e ao bairro Centro Histórico foi a das boiadas aberta no século XVII para a condução dos bois de Garcia D'Ávila e Guedes de Brito a partir das fazendas de Tatuapara, região entre Itapuã e Praia do Forte, e que seguia margeando o rio Pojuca, Alagoinhas, Água Fria, Serrinha, Tucano e se dirigia em direção a Pernambuco e onde, antes mesmo de Bernardo da Silva já existia um sitio chamado Serrinha. Não há registro de quais foram os primeiros habitantes desta fazenda.

  Foi esse sitio que Bernardo adquiriu dos herdeiros dos Guedes de Brito, em 1723, escritura passada em 6 de setembro, essas terras onde estão a Praça Luís Nogueira e adjacências e se mudou com a família de Tamboatá, fazenda que fica localizada na estrada do Tanque Grande e pertence, hoje, a família do ex-professor Waldir Cerqueira, para esse local instalando sua casa de morada e capela daí surgindo o povoamento de Serrinha.

  Ora, por que Bernardo se mudou de Tamboatá para esse novo local?

  Porque era o caminho dos boiadeiros e tropeiros que iam para o sertão acima e, portanto, tinha movimento de gente e novos negócios e o Tamboatá ficava fora desse eixo. É assim que vai nascer o povoado nessa mancha matriz, depois vila e cidade, hoje, bairro centro. Bernardo da Silva é o fundador do povoado e seus descendentes fundadores da vila e depois cidade de Serrinha.

  A segunda estrada importantíssima foi a de ferro inaugurada em 1880 quando Serrinha ainda era vila cortando outro trecho da localidade também na linha Leste-Oeste numa nova área o que provocou uma mudança radical daí vindo surgir, com o passar dos anos, e no correr da linha do trem os bairros: Cruzeiro, Bomba, Treze, Matadouro, Caseb e Vista Alegre. Os três primeiros têm uma ligação direta com a construção da estrada de ferro e os outros três, nem tanto, mas estão inseridos na linha do trem. Tanto que o Matadouro (hoje Novo Horizonte) antigamente era o bairro que se dizia: "Fica depois da linha do trem".

 

  Na década de 1930 chegaram as estradas de rodagens para automóveis e ocorrem novas mudanças. A mais importante foi a Transnordestina implantada no governo de Getúlio Vargas (1932) que cortava no sentido Leste-Oeste com uma perna para o Norte. Ou seja, a estrada tinha trajeto diferente da pioneira Boiadas porque partia do Rio de Janeiro, chegava a Feira de Santana, Serrinha e daí seguia para Fortaleza, cortando a cidade numa nova fronteira via Santa Bárbara (isolou, portanto Água Fria, a quem Serrinha já esteve subordinada juridicamente), Matão, Alto, Campo de Aviação, Linha do Trem, centro da cidade onde é, na atualidade, a Avenida ACM, praça Luís Nogueira, Rua Direita, daí subia pela Manoel Novaes para o Norte.

  Ao longo do percurso desta estrada vão surgir os bairros Cidade Nova, Oseas e Rodagem, diretamente; e os bairros da Santa e Abóboras, indiretamente. O bairro da Rodagem, por posto tem o nome da estrada e assim segue até os dias atuais.

  Uma outra estrada nesta mesma época, carroçavel, municipal foi aberta no governo José Vilalva em direção aos distritos da Barrocas - na direção Oeste; e aos distritos Bela Vista, Chapada, etc, na linha Sul, com direção a Coité. Nesse entorno já havia loteamentos nas fazendas Casa Branca e Coruja, dos pais de Carlos Mota e de Joao Barbosa, respectivamente; e Fazenda Recreio, de Antonio Barbosa, que vão se transformar nos bairros Coruja (hoje, Vila de Fátima) e Recreio.

  Na década de 1960, com Mario Andreazza, surge a perna Norte da Rio Bahia, partindo de Feira de Santana, depois Santa Bárbara, mas mudando o caminho para Serrinha e, ao invés de passar pelo Matão, foi por fora beirando o Sitio das Flores (Santa Bárbara), a Guanabara, o Barreiro de Jovino Franco, nova via para o Lamarão (BA-400), cortando a Serrinha por fora do centro e no entorno do bairro Ginásio, que já existia, seguindo num retão para Teofilândia.

  Esse novo traçado da estrada federal asfaltada permitiu o surgimento dos bairros Aparecida, Vaquejada, CSU e Colina das Mangueiras. Essa BR-116 Norte quando duplicada em Serrinha poderá abrir espaços para surgimento de novos bairros, desde que sua perna da duplicação a partir do Motel Holywwod contorne os bairros Aparecida e Vaquejada pelo Norte e retornando ao leito natural na altura da ligação com Biritinga, BA-233. Se essa duplicação acontecer pela Av Lomanto Jr, hoje, com muitas residências e comércio, será diferente.

  Uma outra estrada que permitiu o surgimento de novos bairros surgiu em 1986 quando no governo João Durval fez-se a "Estrada do Sisal" (BA-409) que parte do Contorno do acesso a Serrinha na direção Sul para Coité. Nessa via transversal onde foram implantadas a Estação Rodoviária e já havia o Estádio Marianão, desde o governo Roberto Santos (1975/1979), surgiram os bairros: Rodiviária, URBIS I e II, Parque Santana e Estádio.

  Com essa estrada nova (BA-409) a antiga estrada para Coité que saía da Getúlio Vargas, passava por cima da Barragem da Bomba (hoje, uma invasão que se tornou rua) e seguia pela ladeira do Recreio foi desativa.

  Em 21 de junho de 2011, já no governo Jaques Wagner, vai surgir a BA-411 nova ligação Serrinha a Barrocas, 18km, em borra de asfalto e, também com esta estrada, a antiga para Barrocas que também saia da Getúlio Vargas, Barragem da Bomba e seguia em direção ao Cantinho pelo lado esquerdo do Morro Guarani foi desativada e ficou servindo como vicinal-municipal para fazendas e povoados. A BA-411 tinha um novo traçado para Barrocas saindo do centro de Serrinha, Rua Direita (Antonio Rodrigues Nogueira), Bela Vista de Dr Samuel, contornando o Morro Guarani pela direita, vai surgir, logo após a chácara de Dr Miguel Nogueira, já no governo Osni Cardoso, o bairro Ninho do Poeta, o mais recente de Serrinha.

  Portanto, quase todos os bairros de Serrinha, a exceção dos Ginásio, Abóboras e CSU, têm fortes ligações com essas estradas de boiadas, de ferro e de rodagem.