Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 26: CASEB APÓS LINHA DO TREM

Bairro eminentemente residencial que mais parece zona rural e que vai crescendo aleatoriamente
Tasso Franco , Salvador | 17/05/2023 às 08:00
Praça do Caseb ainda com cara de zona rural
Foto: BJÁ
     O bairro Caseb, em Serrinha, tem sua origem (como os demais na Bahia: em Feira de Santana também há um bairro Caseb) associada ao grande depósito da Companhia de Armazéns Gerais e Silos do Estado da Bahia (CASEB), daí vem a designação, que nasceu a partir do projeto de planejamento CPE/Fundagro iniciado no governo de Antônio Balbino (1955/1959) com o economista Rômulo Almeida à frente. É longa história que começa com os estudos e projetos de planejamento do estado em dez anos de 1954 a 1964 - iniciado no governo Balbino tendo sequência nos governos de Juracy Magalhães (1959/1963) e Lomanto Júnior (1964/1967). 

  Segundo trabalho do professor Edivaldo Boaventura, a primeira tentativa de planejamento econômico global no Estado da Bahia, surge no Governo Antônio Balbino. Ressalta-se o trabalho do economista Ròmulo Almeida, Secretário da Fazenda, como sendo “o principal apoio e verdadeiro idealizador, não só do esquema institucional posto em prática na Bahia, como, e sobretudo, da mudança de mentalidade administrativa indispensável ao planejamento” (Fernando Pedrão, Estudos sobre o Desenvolvimento Econômico Baiano. III, A experiência com o Planejamento).

  No setor financeiro, previa-se a reforma da Secretaria da Fazenda, a transformação do Instituto de Fomento Econômico da Bahia em Banco do Estado, além da criação do Fundo de Desenvolvimento Agro-Industrial, o FUNDAGRO. Pois bem, 4 empresas integravam a estrutura do FUNDAGRO: Camab - Companhia de Adubos e Materiais Agrícolas da Bahia; a Caseb - Companhia de Armazéns Gerais e Silos do Estado da Bahia; a Frimasa, Frigorífico Matadouro S. A., e a Cageb, Companhia de Armazéns Gerais do Estado da Bahia. 

  No final da década (1959), a CPE formula outra ambiciosa política de intervenção, materializada no Plano de Desenvolvimento do Estado da Bahia, Planeb. "Este, elaborado no início do governo Juracy Magalhães, representou o mais completo e também mais ambicioso dos planos elaborados, pretendendo, inclusive, somar-se à nascente Sudene (então Codeno) no sentido de carrear recursos federais para o estado. 

  COMO CHEGOU A SERRINHA

  Essa é um pouco da história da economia da Bahia para entender como Serrinha ganhou o armazém da CASEB. A cidade tinha tradição em leguminosas e chegou a ser exportadora de cereais e também de fumo e charque. No governo de Juracy (o primeiro governo) implantou a sede do bicho da seda, a Sericicultura; posteriormente, sede do projeto das leguminosas; e a partir de 1953, sede do Ginásio Estadual do Nordeste, hoje, Colégio Rubem Nogueira.

  Serrinha, ademais, possuía uma excelente infra-estrutura para a época com estradas vicinais para as áreas produtivas, especialmente o distrito da Manga, uma estrada federal e uma linha férrea. Graças a essa infra instalou o armazém da CASEB numa área à margem da estrada de ferro, na zona Leste, em meados dos anos 1960. 

  Também nessa época, a região passou a cultivar com mais intensidade, a agave (sisal) e os cereais perderam terreno, o milho e o feijão sendo reservados mais para consumo das famílias e também surgiram, em Serrinha, vários armazéns de sisal localizados praticamente no centro e que passaram a sofrer, no final dos anos 1960 e inicio dos anos 1970, misteriosos incêndios, atribuindo-se, esse problema, a seguros que eram garantidos pelo Banco do Brasil.

  O CASEB nunca teve uma influência forte na economia serrinhense como se esperava e a vida da cidade e do município, na economia dos cereais e das leguminosas, girava em torno do mercado municipal (inaugurado em 1950) e da feira livre. Mas, ainda assim, graças ao prefeito Aluisio Carneiro (1970) que abriu frentes de doações de terras para prosperar a Cidade Nova e seu entorno até o bairro do Matadouro, a área do entorno do CASEB e do nascente loteamento do Vista Alegre, começaram a ser habitadas por famílias diversas. Daí nasceram os bairros, Cidade Nova, Caseb, Vista Alegre e expansão do Matadouro, hoje, Novo Horizonte.

  Não consegui a lei da Câmara de Vereadores que aprovou a criação do bairro CASEB nem quando o armazém pegou fogo. Ouvi algumas pessoas no local, mas, não sabiam ao certo se foi no final dos anos 1970 ou 1980. O certo é que o armazém pegou fogo (e olha que era de cereais) e nasceu uma praça no local.

  A Prefeitura de Serrinha, já na primeira gestão Adriano Lima fez melhorias no bairro. Conforme o Secretário da pasta, Misael Cunha Neto, o projeto de recuperação das estradas no bairro do CASEB tem como propósito oferecer melhores condições de tráfego para os ônibus do transporte escolar, dentre outros veículos pesados, proporcionando melhor mobilidade aos moradores. “Era algo que estava sendo muito solicitado pelos moradores daqui, que reclamavam da dificuldade de deslocamento pelas estradas”, explica o Secretário.

   A construção da praça do CASEB foi realizada nas proximidades do campo de futebol da comunidade. O bairro até hoje não está estruturado e ainda há muitas ruas sem calçamento e um traçado confuso após a linha do trem.

  O QUE TEM NO BAIRRO

  Recentemente, na segunda gestão Adriano, foi inaugurada a praça João Ferreira de Oliveira - benemérito do bairro - para proporcionar uma área de lazer. Na época, Angélica da Cidade Nova, disse, em nome da família, que “não tem palavras para agradecer à administração pela praça construída e pelo esforço para fazer esse dia acontecer. Hoje acordamos felizes por essa maravilha que estamos inaugurando. É muito emocionante falar do nosso pai, pois ele fez muito pela comunidade do CASEB até os últimos dias de sua vida”.

  O bairro tem os seguintes limites: a leste é zona rural (em si, o bairro ainda tem características de zona rural); a oeste fez divisa com o URBIS II; ao norte com a Cidade Nova; e a Oeste com o bairro Vista Alegre. Há, ainda, uma confusão enorme em determinadas áreas se são da Cidade Nova, do Vista Alegre ou do Urbis II. O certo - como diz José Aparecido - residente na Segunda Travessa do Caseb com URBIS II - é a linha do trem. "Passou pra lá - aponta a praça com a placa CASEB - é o Caseb e de lá pra cá Cidade Nova e URBIS II".

  José tem 59 anos de idade e trabalhava na roça, no Saco do Moura, e há anos - nem lembra ao certo - adquiriu uma área no Caseb e fez sua casa onde mora com a família e tem uma tenda de venda de frutas e verduras. Vive disso, na atualidade. Diz que o bairro tem uma Associação comandada por Vicente, mas, não a frequenta. 

  O CASEB, em resumo, é um bairro eminentemente residencial. Tem um colégio municipal, pequenas oficinas e mercearias (mercadinhos) típicos de bairro.