Cultura

A ALMA LÍRICA E MEMORIAL DE RUY ESPINHEIRA FILHO, p LILIANA PEIXINHO

Liliana Peixinho- Jornalista, ativista. Especialização em Jornalismo Científico - UFBA. Produtora de conteúdos humanitários
Fundadora das Mídias independentes: Movimento AMA, REAJA, RAMA, Mídia Orgânica
Liliana Peixinho | 11/05/2023 às 09:30
A invenção da poesia e outros poemas
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  Escritor, poeta, jornalista, professor, agente social, Ruy Espinheira Filho fez 80 anos em dezembro e como exemplo de vitalidade produtiva lança novo livro "A Invenção da Poesia".

O lançamento está programado para ser realizado no primeiro dia de junho, às 18 horas, na LDM do Shopping Paseo, Itaigara, em Salvador, Bahia.

Em conversa, via WhatsApp - que ele diz, com gentileza, não gostar como espaço de escritas- Ruy falou que o novo livro foi gerado entre o período de 2019 e 2022, onde o ambiente pandêmico, de extremo isolamento, resultou em poemas não propriamente sobre a pandemia, mas também sobre ela.

O outro no eu

A alma leve, doce e poética de Ruy Espinheira Filho, alimentada em lirismo, sensibilidade e memórias afetivas, faz movimentar as palavras em ritmos poéticos musicais.

Assim, poema a poema, Ruy imprime caráter intimista e habilidade nos detalhes de escritor para sentir como a natureza humana se manifesta em ambientes extremos, de desafios de vida, num tempo e espaço com situações diversas, como o isolamento sanitário social, decretado planeta afora.

Nesse novo livro: A invenção da poesia, Ruy ecoa suas criações líricas como um dos poetas contemporâneos mais expressivos do Brasil. Apresenta um eu lírico que se mostra impressionado e reflexivo com a passagem do tempo.

Consagração poética

Membro da Academia de Letras da Bahia, Ruy foi eleito um dos vinte poetas contemporâneos mais importantes do Brasil. A alma leve, doce e poética de Ruy Espinheira, alimentada em lirismo, sensibilidade e memórias afetivas, consagram sua literatura como poesia memória.

Tempo lírico

No A invenção da poesia, Ruy revela, em 252 páginas, divididas em três partes, dores que o passado ainda remonta, voltando a sentimentos e questões que se prolongam no presente. Um livro repleto de recordações.

Na primeira parte, Ruy percorre temas e espaços regionais, com a mesma desenvoltura que se detém naqueles de cunho universal. Na segunda parte, faz referência aos dias mais obscuros da pandemia. E finaliza, com homenagem a consagrados escritores como Machado de Assis e Graciliano Ramos, em conexões com possíveis diálogos estabelecidos em suas obras.

Ruy atendeu nosso pedido e disponibilizou um dos poemas do A invenção da poesia.

" IMORTAIS"

Nesta noite quieta
não pensas que os teus sonhos estarão um dia mortos
como tantos impérios imortais e tantos deuses.

Não os teus sonhos.

Olhando o céu podes vê-los,
belos como os criaste,
fulgurantes em todas as amplidões.

Para sempre.

Para sempre,
sempre,
sempre,
todo o sempre,
os teus sonhos.

A menos que sejas como os impérios imortais e os deuses.

Trabalho aclamado Brasil afora

Ruy Espinheira Filho é consagrado pela crítica e ganhador dos principais prêmios literários do país.
"Poeta do sonho e da utopia Ruy Espinheira faz poesia com o coração. É assim que, poema após poema, livro após livro, Ruy Espinheira vai se consolidando como um dos grandes nomes da poesia brasileira de todos os tempos ", diz, Ricardo Vieira Lima.

" Trata-se, por excelência, do poeta da memória na poesia brasileira contemporânea, tema explorado ao mesmo tempo com agudeza do pensamento e a necessária transmutação lírica", expressa, Alexei Bueno.

O jornalista e premiado escritor Roniwalter Jatobá, Prêmio Jabuti 2013 (Cheiro de Chocolate e outras histórias), em viagem neste mês de maio, de Minas para a Bahia, com roteiros de memórias afetivas pela região de Campo Formoso, Senhor do Bonfim e outros territórios de vivências adolescentes, marcou encontro com o amigo Ruy, em Salvador, e nos falou sobre sua obra:

" Sou leitor de Ruy Espinheira Filho desde 1981, quando o poeta ganhou o prêmio nacional de poesia Cruz de Sousa, em Santa Catarina, com “As sombras luminosas”. De meados da década de 1980 para cá, a amizade se aprofundou e, pelo menos duas vezes por ano, nos encontramos em Salvador ou em São Paulo. Ruy é hoje um dos maiores poetas brasileiros. 

Sua poesia carregada de simplicidade, melancolia e lirismo nos atrai e nos fascina. Leio Ruy todos os dias, como sempre faço com Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Sempre generoso, escreveu o prefácio do meu livro “Cheiro de chocolate e outras histórias”, prêmio Jabuti de 2013. Brincando, sempre digo a ele que as minhas crônicas ganharam a maior premiação literária do País não por causa delas, mas, sim, pela sua bela e contagiante apresentação".

Considerado por Carlos Drummond de Andrade como um autor de uma "poesia concentrada e de sutil expressão " , Ruy Espinheira Filho é consagrado pela crítica e ganhador dos principais prêmios literários do país.

O escritor Alexei Bueno, em pesquisa para o livro "Poesia Reunida e Inéditos" considera que a obra de Ruy Espinheira Filho, quando “lida num fio, mostra uma perfeita combinação de variedade e unidade, é um ‘poeta da memória’”. E continua em outro trecho: “E poeta da memória no mais legítimo veio da língua, nessa sensação de exílio do que se passou  ̶   pois como todo o tempo, como toda a vida, é exílio   ̶   que reproduz no agora temporal aquele que geograficamente viveram alguns de nossos maiores, de Camões a Camilo Pessanha, ou biograficamente o nosso imenso Pessoa, e todos a um só tempo nesse exílio obrigatório que é a solidão, outro tema presente, em suas várias origens, na obra de Ruy Espinheira”.

Honrarias

São diversas as honrarias a Ruy Espinheira Filho como o título de doutor honoris causa, em 1999, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Com rastros de harmonia e sabedoria como professor, Ruy fez história em espaços como a Facom- Faculdade de Comunicação da UFBA e Instituto de Letras da Bahia.

Baiano raiz

Nascido e residente em Salvador, Bahia, em 12 de Dezembro de 1942, a trajetória de Ruy Espinheira Filho caminha pela graduação em Jornalismo, mestrado em Ciências Sociais, doutorado em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) entre outras formações.

Um olhar sobre a obra

Na extensa e diversa obra de Ruy Espinheira estão livros de poemas como: Heléboro (1974), Julgado do Vento (1979), As Sombras Luminosas (1981, Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa), Morte Secreta e Poesia Anterior (1984), A Guerra do Gato (1987, infantil), A Canção de Beatriz e Outros Poemas (1990), Antologia Breve (1995), Antologia Poética (1996), Memória da Chuva (1996, Prêmio Ribeiro Couto da UBE de 1998), Poesia Reunida e Inéditos (1998), Livro de Sonetos (2000, 2.ed., revista, ampliada e ilustrada), A Cidade e os Sonhos/Livro de Sonetos (2003), Elegia de Agosto e Outros Poemas (2005, Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras e Prêmio Jabuti). Como prosador e ensaísta, publicou mais de dez títulos.
Pela importância de sua produção literária, os seus poemas e contos integram diversas antologias, no Brasil e no exterior (Portugal, França, Itália, Espanha e Estados Unidos).

Papel social

Seja como poeta, jornalista, romancista, contista, ensaísta, cronista, cidadão, Ruy Espinheira Filho é inspiração de compromisso social. Acompanha novos cenários interativos culturais e apoia movimentos de incentivo à leitura e escrita como encantamento literário.

O escritor está sendo convidado pelo Movimento AMA- Movimento Amigos do Meio Ambiente, fundado por sua ex-aluna de jornalismo, Liliana Peixinho, a colaborar com a proposta de difundir conceitos sobre o papel da Academia junto a Comunidade, onde escolas e instituições educativas incentivem alunos e colaboradores a mergulharem na leitura e interpretação de textos como instrumento de transformação pessoal/social.

Cultura de paz

A integração entre as Academias de Ciências, Letras e Artes com a comunidade tem propostas como o "Prêmio Literatura Escolar", "Rodas de conversas", "Chá Cidreira Literária",
"Ciência e Arte na prática". Ações que, segundo Liliana Peixinho - membro- fundador da ACLASB- Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim, criada, em 1991, pelo educador Paulo Machado, e atualmente presidida pelo professor Jackson Santana- vem sendo discutidas e bem aceitas, através de conversas com colegas jornalistas, escritores, professores, cientistas, pesquisadores e colaboradores de instituicões educativas. A ideia, difundida e ampliada, é democratizar o acesso às informações como instrumento propulsor à cultura de paz, em cenários de extrema violência e banalização da vida.

* Liliana Peixinho- Jornalista, ativista. Especialização em Jornalismo Científico - UFBA. Produtora de conteúdos humanitários com foco em ODS socioambientais: desigualdade, garantia de direitos, fome, violência, saúde, mulher, idosos, crianças.
Fundadora das Mídias independentes: Movimento AMA, REAJA, RAMA, Mídia Orgânica, Catadora de Sonhos, Cuidar do Cuidador, O outro no eu.