Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 24: APARECIDA, ANTIGA LAGOINHA

Bairro fica localizado às margens da BR-116 Norte na entrada da cidade com acesso no Posto Caçuá em direção a capela de NS Conceição Aparecida ao IFBaiano
Tasso Franco , Salvador | 03/05/2023 às 09:15
O diácono e ex-professor Lúcio Euzébio fundador do bairro
Foto: BJÁ
    Quem chega a Serrinha pela BR-116 Norte (Rio Bahia) provindo de Feira de Santana vai observar após o acesso a BA-400 para o Lamarão, à direita, a torre de uma capela azul dedicada a Nossa Senhora Aparecida em área onde existia a Fazenda Lagoinha, que representa o marco principal do bairro Aparecida. Imagina-se, pela pequena quantidade de moradores deste bairro ser um sitio novo, implantado recentemente, mas, qual nada: trata-se de um bairro antigo que nasceu graças a dedicação de um homem que tem muita história para contar, em Serrinha, o diácono Lúcio Euzébio dos Santos, hoje, com 92 anos de idade.

   E onde mora Lúcio? Ora, em Aparecida, numa tarefa de terra comprada do proprietário da Fazenda Lagoinha, José Sancho da Silva, onde construiu sua casa de morada e vive com sua esposa com quem tem 4 filhos, um deles, também residente nesta tarefa com casa e oficina de trabalho como serralheiro.

   A rigor, se olharmos para a configuração de um bairro com os serviços essenciais - residências, casas comerciais, colégio, ruas, praças, templos religiosos, etc - o Aparecida se apresenta mais como um pequeno povoamento mais rural do que urbano, onde só existem algumas residências, a capela e um colégio ambos com o nome de Nossa Senhora Conceição Aparecida. Até a única avenida que existe, ainda sem calçamento, também leva o nome desta santa e corta de ponta a ponta o bairro entre a capela e o posto Caçuá, à beira da Br-116 Norte.

  Como então nasceu esse bairro? 

  Quem conta é João Sancho da Silva, 75, filho de José Sancho, que mora em Aparecida com a irmã Clarice do Carmo da Silva, 85, e diz que o bairro se encaminha para 60 anos de existência aprovado pela Câmara, graças do trabalho de Lúcio Eusébio, do padre Demócrito Mendes de Barros e dos vereadores Joanício Álvaro da Silva e Antônio Ramalho Ramos. 

  Revela que a Fazenda Lagoinha - ainda existem terras desta fazenda e a lagoa - foi comprada por seu pai José Sancho na mão do ex-prefeito Joaquim Hortélio da Silva (5º intendente de Serrinha entre 1904/1907), o qual doou tarefas de terras na testada para o novo trajeto da BR-116 Norte construída na década de 1960, para ser erguida uma capela em louvor a Nossa Senhora da Conceição Aparecida e daí foi surgindo o movimento político para o local se transformar num bairro, isso graças a ação do diácono Lúcio que era amigo do padre Demócrito e de alguns vereadores.

  Surgiu então a SAMBA - Sociedade Amigos dos Moradores do Bairro Aparecida - hoje, presidida por Leandro Ferreira, neto de Lúcio, e no governo Roberto Santos, em 1975/1979, foi construído o colégio estadual, de porte, no local onde havia uma escolinha e ensinava as primeiras letras aos meninos e meninas da comunidade e adjacências, Clarice do Carmo da Silva.

  Clarice diz que, começou a ensinar, mas, não era formada em pedagogia e só depois foi que fez o magistério e se tornou professora de fato e de direito continuando a ensinar no colégio estadual. "Foi uma luta muito grande, a gente vivia praticamente isolado da Serrinha, e somente no governo de Josevaldo Lima, na década de 1980, é que foi feito um pontilhão numa passagem que temos na avenida NSA o que tornou o acesso de veículos mais fácil".

  Lembra, ainda, além de Joanício e Ramalho, "um que era católico e outro crente, mas se davam bem e eram amigos do padre Demócrito, outros vereadores também ajudaram, tais como Misael Cunha e Zé de Sindé".

  João Sancho destaca, ainda, que, a capela, na atualidade, está vinculada a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida localizada no bairro da Vaquejada (Praça dos Vaqueiros) e o vereador Júnior Bigode é o representante atual da comunidade, "embora, o grande benfeitor, todos nós sabemos, é Lúcio Eusébio que continua atuando".

  A festa comunitária do bairro dá-se entre 9 e 12 de outubro, sendo a data magna o dia 12 que é dia santificado nacional quando se promovem atos religiosos e uma quermesse. "Já chegamos a arrecadar em nossos leilões até R$6 mil e hoje, infelizmente, isso caiu bastante", diz João, "mas o importante é a manter a tradição", completa.

  LÚCIO EUZÉBIO DOS SANTOS

 Conheço Lúcio Euzébio há pelo menos 50 anos e sei de sua dedicação a igreja católica e ao cristianismo ainda quando em Serrinha havia apenas a igreja matriz de Sant'Anna na praça Luis Nogueira.

  Lúcio é natural de Salvador e chegou em Serrinha no dia 21 de agosto de 1959 para exercer as funções de escrivão da Policia Civil. Antes, ainda na capital, fora carpinteiro e trabalhou na construção civil até fazer concurso para a Polícia. Foi nomeado para Serrinha donde nunca mais saiu. 

  Na cidade princesa formou-se em professor na Escola Normal e ingressou no magistério por concurso deixando a Polícia e sendo professor de português na ENS e no Ginásio e depois Colégio Rubem Nogueira onde aposentou-se. É cidadão serrinhense por indicação do vereador Alexandro dos Reis Menezes título conferido pela Câmara de Vereadores de Serrinha em 12 de novembro de 2013.

  Conversei com Lúciaona última semana santa, em sua residência, em Aparecida, e ele me contou como surgiu o bairro.

  "Quando vim morar em Serrinha eu residia na rua do Clube ACS e, católico que sou, integrava a Congregação Mariana. Conheci, então, o padre Demócrito, que já era titular da paróquia desde 1953. Ficamos amigos. Nas andanças que fazíamos pregando a palavra de Deus pelo interior do município, nos povoados, conheci essa área que era no caminho para o Lamarão e o dono da Fazenda Lagoinha, José Sancho da Silva. Gostei demais do lugar e comprei uma tarefa de terra na mão dele numa estradinha, que hoje dá no clube Trem da Alegria, e construí minha casa de morada".

  Na década de 1960, Lúcio Euzébio já estava morando na Lagoinha quando teve a ideia de erguer uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição Aparecida e um colégio. 

  Num livro poema que escreveu Lúcio diz que o objetivo era "levar perspectiva de progresso cultura, religioso e social às famílias que residiam nas proximidades da Fazenda Lagoinha, sem anular as suas origens de homens e mulheres do campo, abrindo novos horizontes para seus filhos e netos". Lembra que uma delas foi campeã do Nordeste em economia doméstica representando a antiga Fazenda Lagoinha na Convenção Nacional de Clubes 4-S, em SP.

  Lúcio diz que a ideia de tornar o local onde ele e outras pessoas residiam, praticamente uma zona rural, nasceu com suas andanças com o padre Demócrito na Congregação Mariana de Nossa Senhora das Garças e São Domingos Sávio, criada pelo pároco, em 1957, quando não existiam as pastorais da atualidade, "eram as congregações paroquiais os braços do padre ajudando-o no altar, durante as celebrações litúrgicas, nos batizados, no coral ou no coro da igreja, na catequese, na preparação das festas, peregrinações da imagens no perímetro urbano e na zona rural, montado em cavalos ou no jeep velho da paróquia".

  Estabelecidos os locais da capela e do colégio, ambos construídos, contamos, então, com a parte política e a ajuda do padre Demócrito e dos vereadores Joanício Alvaro e Antônio Ramalho Ramos.

  Lúcio procurou em sua biblioteca, um amontoado de livros e papéis, o documento de criação do bairro, mas, não encontrou. "O certo, diz ele, é que o bairro foi criado na década dos anos 1960". 

  O diácono Lúcio Euzébio, como todos sabemos, tem enormes serviços prestados a igreja católica em Serrinha, como religioso e pastor, porém, como essa matéria não trata desta questão e sim do bairro Aparecida, não abordaremos com mais profundidade esse campo religioso.

  LIMITES DO BAIRRO

  Na direção Sul, o limite se dá com a BR-116 Norte, oficialmente Santos Dumont e na outra margem se situa o bairro Cidade Nova; na direção Norte é zona rural e comunidade da Mombaça; na direção Oeste onde se situa o IF Baiano Campus Serrinha (o endereço do campus é Estrada Vicinal de Aparecida s/n); e na direção Leste a divisa para estrada BA-400 para Lamarão, comunidade do Regalo e Clube Trem da Alegria. O centro do bairro é na capela.

  PERSONAGENS DESSA HISTÓRIA:

  JOAQUIM HORTÉLIO DA SILVA: Era natural de Feira de Santana onde nasceu em 1850 e tinha comércio. Com essas relações comerciais chegou a Serrinha e enamorou-se Porcina dos Santos Silva, irmã de Francisco Patrício, figura conhecida por Chico Patrício do Morrinho, negociante de gado. Casou-se com Porcina e foi morar em Serrinha. O casal teve 7 filhos, 4 homens e 3 mulheres, entre elas: Porcina Hortélio da Silva (Zina do Cartório) e Alice Hortélio da Silva (uma das primeiras espíritas de Serrinha) que atuava também no cartório da praça Luis Nogueira.

  Joaquim Hortélio entrou na política e foi nomeado intendente entre 1904/1907) época de seca quando foram construídos o Tanque das Abóboras (hoje, bairro) e o açude Gravata construído pelo Ministério da Agricultura. 


  Segundo João Sancho seu pai comprou as terras da Fazenda Lagoinha (algo em torno de 800 tarefas) das mãos de Joaquim Hortélio que também era proprietário da Fazenda Tiririca.

  A FAMILIA SANCHO

  Da família Sancho ainda moram em Aparecida os filhos de José - João Sancho da Silva, 75; Clarice Sancho da Silva, 85: e seus sobrinhos Jasson de Araujo Ferreira e Marta Cristina Araújo Ferreira.

  A preocupação dos Sanchos se situa em relação ao trajeto de duplicação da BR-116 Norte que parou na altura do entroncamento da BA-400 para Lamarão se esse trajeto até Teofilândia passará pela Av Lomanto Jr, que margeia a BR, ou se dará por dentro de áreas da Fazenda Lagoinha contornando o FIB.

  OS VEREADORES

  Os vereadores Joanício Alvaro da Silva, Antônio Ramalho Ramos, Zé de Sindé e Misael Cunha foram figuras populares na Serrinha dos anos 1960/1970. Ramalho candidatou-se a prefeito, mas não obteve êxito, perdendo para Mariano Santana, prefeito entre 1973/1977.